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O Galpão
Scott caminha com cautela pelo galpão, empunhando uma pistola. Sobressalta-se a cada nova sombra criada. Sentia-se enjoado e desorientado pelo ambiente e pela ausência de ver o mundo exterior. O calor e a iluminação o faziam sentir-se claustrofóbico.
Escorrega em uma poça e, na tentativa de se equilibrar, agarra um das caixas derrubando flocos de isopor e... Armas. Seu coração dispara devido ao barulho. Segura a sua arma tremendo. Apontando para cada sombra, cada vulto que o assusta. No meio de seu ataque de pânico vislumbra o furgão. Engole em seco, pois teme o que poderá encontrar. Levanta-se. Fica repetindo mentalmente "Calma, Scot. Calma.". Há alguns metros do furgão o portão por onde ele entrou está fechado. Scott não consegue se acalmar e cada passo vacilante o deixam mais nervoso. Ouve um gemido. Rapidamente vira na direção do som e vê um homem amarrado na cadeira.
John não sabe dizer se é dia, ou noite, ou há quanto tempo está ali. Apesar da dor que está sentido, devido a tortura, tenta se manter acordado e lúcido. Não sente mais os dedos das mãos, ou dos pés. Nem sequer sabe se ainda os tem. Já faz algum tempo que seus torturadores saíram. Ele sabe que eles podem voltar a qualquer momento, mas agradece por esse instante de paz.
Um barulho chama sua atenção. Alguma coisa caindo. Com um olho inchado e outro machucado já seria difícil de enxergar, com essa iluminação precária e amarelada é ainda pior. Ele olha em volta, mas só consegue ver o furgão e várias caixas. O barulho das goteiras faz com que o galpão pareça maior do que é.
John vê alguma coisa, mas não sabe se é só mais uma sombra, um vulto, ou alguém. De repente ele vê um homenzinho segurando uma pistola, com flocos de isopor em sua farda, andando como se estivesse todo borrado. "Um tira" pensou. Se esforçou para gritar, mas a mordaça e o cansaço permitiram apenas um longo e abafado gemido. O guardinha ouviu. "Ótimo".
Giacomo não aguentava mais aquele galpão. Na verdade, não aguentava mais esse trabalho. Quando o senhor di'Tommaso o mandou tomar conta das caixas de papelão ele pensou que seria um dinheiro fácil. Quando lhe mandaram torturar o prisioneiro, ele até se divertiu no começo, mas agora toda aquela umidade, aquele calor abafado, aquela meia luz amarela e, até mesmo a tortura, estavam lhe dando nos nervos. As duas únicas coisas que o mantinham ali eram o senhor di'Tommaso e que ele podia dirigir o furgão preto. Giacomo adorava dirigir.
Enquanto ele fumava próximo a uma janela, no andar superior do galpão, ouviu um barulho vindo lá de baixo. Um barulhão, na verdade. Ele esperou um tempo para ver se ouvia mais alguma coisa. Depois de muito tempo Giacomo jogou fora o cigarro, pegou sua espingarda, abriu a porta e, do alto das escadas, olhou para o prisioneiro amarrado na cadeira. Tudo parecia normal. Giacomo não era burro. Assistia muitos filmes. Então, ele sabia, alguma coisa estava acontecendo. Desceu as escadas devagar indo na direção de John.
Scott correu na direção John, guardou a pistola, removeu a mordaça e começou a desamarra-lo.
- Calma, vai ficar tudo bem. Eu vou tirar você daqui. - Dizia ele para John.
- Fique quieto e me escute. Caso contrário nós dois vamos morrer aqui. - Algo no tom de voz de John fez com que Scott obedecesse. - O grandalhão vai descer para investigar o barulho. Assim que ele não me ver aqui, vai chamar os outros e vão começar uma caçada atrás de nós.
- O que vamos fazer?
John olhou em volta e viu a mesa com os instrumentos de tortura, sorriu a ver uma bela faca utilizada nele. Sabia o quão afiada ela era.
- Policial...
- Scott! Meu nome é Scott, senhor.
- Bom. Policial Scott, pegue aquela faca ali para mim, por favor, e depois se esconda.
Scott obedeceu e John colocou novamente a mordaça na boca e as mãos para trás. Agora livres e com uma surpresa brilhante. John sinalizou para ele se esconder nas sombras e abaixou a cabeça. Alguns instantes depois a porta do segundo andar se abriu.
Giacomo, realmente, era grande. Dos seis irmãos, ele era o maior. Ele desceu toda a escada e parou na frente de John. Olhou em volta e viu o de sempre: caixas, sombras e o seu precioso furgão.
- Olá docinho.
John não sabia se era com ele, mas resolveu olhar para cima. Na mesma hora Giacomo virou-se para ele.
- Ah... Que bom. Você está acordado. Pode me dizer que barulho foi aquele? Foi você por acaso?
John resmungou alguma coisa e Giacomo se abaixou até ficar face-a-face com ele.
- O que foi que você disse?
Um barulho de gatilho e alguém grita:
- Ele disse que você está preso! Solte a arma e levante as mãos!
Giacomo apenas se virá lentamente sem, nem por um segundo sequer, afrouxar os dedos da espingarda.
- E quem é você, ratinho?
- E-eu... E-eu so-sou...
- Ele é a Lei, babaca! - Exclamou John, ao pé do ouvido de Giacomo, enquanto cravava a faca na jugular dele.
O grandalhão não teve nem tempo de reagir. Caiu sobre uma nova poça. Mas, desta vez, de seu próprio sangue.
- Policial Scott, sabe dirigir? - ele afirmou com a cabeça - Ótimo. Então acho que é hora de respirarmos um pouco de ar puro.
Taí a resposta do meu desafio. Espero estar de acordo com o que foi proposto e que todos tenham gostado.
Meu primeiro Pulp Fiction.
