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Desafio de ano Novo by patydeuner - Continuação
Fui desafiada pela Sammy a escrever uma estória para o Pedro, um pobre rapaz preso que na noite de ano novo fez um telefonema para um número aleatório e conheceu Júlia.
As palavras do desafio são:
Amofinar - Displicente - Abismado - Labuta - Manchil
Júlia acordou com o barulho dos fogos ainda latejando em suas têmporas. Taças e mais taças de espumante somado a um estômago vazio contribuíam para seu lamentável estado físico. Não conseguiu comer nada e nem dormir direito depois do telefonema daquele homem. Sacudiu-se para fora da cama limpando os pensamentos enquanto decidia que precisava comer algo para silenciar seu estômago. A casa estava um caos e todos pareciam estar dormindo ainda. Chegando na cozinha foi logo abocanhando uma fatia de rabanada fria e murcha. Enquanto mastigava lembrou novamente do pobre homem dizendo “Normalmente é só um mexido de arroz com feijão mesmo.”
Aquilo a fez perder totalmente o apetite. Ao que parecia, tudo hoje a faria lembrar-se dele, então desistiu de lutar contra os pensamentos.Tinha vontade de conhecê-lo e saber mais da sua história. Não sabia bem porque mas sentia que a escolha do seu número não era só uma coincidência. Foi até o telefone verificar as chamadas recebidas e lá estava o número. Seus dedos tremeram em antecipação a discagem. Deveria mesmo ligar? E se fosse um assassino cruel e doente? Aquelas idéias revolviam-lhe o estomago, mas discou mesmo assim.
- Delegacia de Polícia.
- É...ahmm...bem ,eu gostaria de saber a respeito de um preso. O nome dele é Pedro.
Tentou.
- Pedro de que senhora?
- Não sei.
- Temos mais de 40 presos aqui no momento senhora. Poderia ser mais objetiva?
- Só sei que o nome dele é Pedro e gostaria de fazer uma visita.
- Hoje é feriado minha senhora, então não temos visita.
- Bom mas, não poderia abrir uma exceção? Não posso durante toda a semana e é muito importante pra mim.
- Seria só a senhora nessa visita?
- Sim, apenas eu. E poderia por favor verificar pra mim sobre esse Pedro...como ele está no momento?
- Bem, deixe-me verificar nos arquivos aqui. Temos dois detentos com o nome de Pedro. Pedro Alcântara e Pedro Augusto Lancelloti. Qual seria?
Tentando parecer o mais displicente possível, arriscou um dos nomes. Lancelloti parecia sugestivo.
- O segundo senhor. Pedro Augusto Lancelloti. Quais são as acusações dele?
- Não damos informações dos presos senhora. É contra as normas da delegacia.
- Tudo bem então. Obrigada.
...
Quando ela estacionou na entrada da 5ª DP no Centro, suas pernas começaram a tremer tanto que pensou seriamente em voltar atrás. Por que estava fazendo isso? Por que não esquecia de vez essa história? Vinha se perguntando durante toda a longa trajetória de sua casa em Botafogo até ali, mas não achava resposta alguma. A única coisa que tinha certeza é que iria se amofinar para o resto da vida se não conhecesse o tal homem. Foi com esse pensamento que firmou as pernas da melhor maneira que pode e entrou na delegacia.
...
Ele sabia que não era justo esconder dela o sangue que sujava suas mãos, afinal era por sua culpa que ela estava ali em primeiro lugar. Deixou o pacote de comida sobre o colchão e se aproximou mais, colocando as mãos bem próximas as dela na grade.
-Tive uma namorada que amava demais. Ou pelo menos era isso que achava, porque hoje eu vejo que...era mais uma doença...não sei explicar. O ciúme me cegava sempre. Não podia vê-la sequer falando ao telefone com alguém que exigia explicações. Levava-a e buscava-a no trabalho, almoçava com ela, ia ao dentista, ao supermercado, a igreja, enfim...queria estar com ela todo o tempo e sempre repetia a mim mesmo que essa obsessão era pelo amor que sentia por ela. Hoje eu sei que esse não era o verdadeiro motivo. Sou um homem doente e irracional. E me irrito muito facilmente. Transformo-me em um homem muito violento quando pensamentos obscuros ocupam minha mente. Então um dia brigamos realmente sério, e ela parou de atender minhas ligações. Não saiu de casa todo o dia e não quis falar comigo. Esperei pacientemente que ela superasse nossa briga e voltasse a me procurar. Naquele mesmo dia fui a um bar lá em Botafogo onde costumava encontrar com alguns amigos pra ver se conseguia desacelerar um pouco minha ansiedade. E lá estava ela, abraçada com um amigo meu. Descobri depois que era só um abraço e ela chorava a minha falta em seu ombro. Mas na hora eu virei um monstro. Um gosto amargo de traição subiu como bílis pela minha boca e eu não vi mais nada. Quando dei por mim, meu melhor amigo estava caído debruçado sobre a calçada e sangue escorria da sua cabeça. Acho que entrei em estado de choque ou alguma coisa assim por que...não me lembro o que aconteceu. Só conseguia ouvir gritos enquanto uma correria se formava ao redor do bar. Eu não me lembro de tê-lo matado mas...ela gritava “Você o matou, você o matou!” Até hoje não tenho certeza do que aconteceu naquela noite. Meu defensor público usa a defesa de homicídio culposo, sem intenção de matar. Uma briga de bar que acabou em acidente. Ele não conseguiu se comunicar com ninguém que esteve ali naquele dia, e essa minha namorada sumiu do mapa. Ninguém conseguiu achá-la até hoje pra prestar depoimento. Como posso culpá-la? Provavelmente só está fugindo de um homem louco. Doente. Mas Júlia...eu posso sentir bem aqui no fundo que foi mesmo um acidente sabe? Eu nunca mataria alguém, muito menos um amigo! É tão frustrante não lembrar!
Quando terminou de falar estava com a testa encostada nas mãos de Júlia. Sentiu quando ela abriu as palmas de encontro a sua cabeça e parou repentinamente, como se em dúvida se isso era o correto a fazer. Então levantou a cabeça e fixou seu olhar no dela. Ela parecia calma, pensativa.
-Pode me julgar agora. Mas por favor, não vá embora com a imagem de um assassino. Pelo menos enquanto eu não provar que eu não fui capaz de fazer aquilo.
Ela continuou em silêncio por um bom tempo antes de se afastar e dizer concisa.
-Quero falar com seu advogado. Quando será seu julgamento?
-Você não...Júlia, quero que vá embora agora e esqueça que me conheceu. Você já teve o que queria. Conheceu o homem que te perturbou em plena noite de ano novo. Eu já desabafei, adorei conhecer você, mas é só. Já me ajudou mais do que pode imaginar Júlia. Por favor vá embora agora.
-Estarei de volta assim que puder Pedro. Você acaba de conhecer sua futura advogada.
Ela virou-se e saiu, enquanto ele abria e fechava a boca sem proferir uma única palavra.
As palavras do desafio são:
Amofinar - Displicente - Abismado - Labuta - Manchil
Júlia acordou com o barulho dos fogos ainda latejando em suas têmporas. Taças e mais taças de espumante somado a um estômago vazio contribuíam para seu lamentável estado físico. Não conseguiu comer nada e nem dormir direito depois do telefonema daquele homem. Sacudiu-se para fora da cama limpando os pensamentos enquanto decidia que precisava comer algo para silenciar seu estômago. A casa estava um caos e todos pareciam estar dormindo ainda. Chegando na cozinha foi logo abocanhando uma fatia de rabanada fria e murcha. Enquanto mastigava lembrou novamente do pobre homem dizendo “Normalmente é só um mexido de arroz com feijão mesmo.”
Aquilo a fez perder totalmente o apetite. Ao que parecia, tudo hoje a faria lembrar-se dele, então desistiu de lutar contra os pensamentos.Tinha vontade de conhecê-lo e saber mais da sua história. Não sabia bem porque mas sentia que a escolha do seu número não era só uma coincidência. Foi até o telefone verificar as chamadas recebidas e lá estava o número. Seus dedos tremeram em antecipação a discagem. Deveria mesmo ligar? E se fosse um assassino cruel e doente? Aquelas idéias revolviam-lhe o estomago, mas discou mesmo assim.
- Delegacia de Polícia.
- É...ahmm...bem ,eu gostaria de saber a respeito de um preso. O nome dele é Pedro.
Tentou.
- Pedro de que senhora?
- Não sei.
- Temos mais de 40 presos aqui no momento senhora. Poderia ser mais objetiva?
- Só sei que o nome dele é Pedro e gostaria de fazer uma visita.
- Hoje é feriado minha senhora, então não temos visita.
- Bom mas, não poderia abrir uma exceção? Não posso durante toda a semana e é muito importante pra mim.
- Seria só a senhora nessa visita?
- Sim, apenas eu. E poderia por favor verificar pra mim sobre esse Pedro...como ele está no momento?
- Bem, deixe-me verificar nos arquivos aqui. Temos dois detentos com o nome de Pedro. Pedro Alcântara e Pedro Augusto Lancelloti. Qual seria?
Tentando parecer o mais displicente possível, arriscou um dos nomes. Lancelloti parecia sugestivo.
- O segundo senhor. Pedro Augusto Lancelloti. Quais são as acusações dele?
- Não damos informações dos presos senhora. É contra as normas da delegacia.
- Tudo bem então. Obrigada.
...
Quando ela estacionou na entrada da 5ª DP no Centro, suas pernas começaram a tremer tanto que pensou seriamente em voltar atrás. Por que estava fazendo isso? Por que não esquecia de vez essa história? Vinha se perguntando durante toda a longa trajetória de sua casa em Botafogo até ali, mas não achava resposta alguma. A única coisa que tinha certeza é que iria se amofinar para o resto da vida se não conhecesse o tal homem. Foi com esse pensamento que firmou as pernas da melhor maneira que pode e entrou na delegacia.
...
Pedro tentou se ajeitar melhor no canto do seu catre de forma que sua coluna não doesse tanto. Depois que desligou o telefone, embalou-se nas lembranças da doce voz de Júlia e adormeceu ali mesmo, agachado ao lado das barras frias de ferro. Rejeitou o pingado com pão seco da manhã porque não se sentia bem, mas agora os efeitos dolorosos do estômago vazio cobravam seu preço. A labuta diária da prisão era ainda pior quando se estava com fome.
-Visita detento!
O grito do policial o ensurdeceu tanto quanto o som retumbante de suas batidas nas barras de ferro.
Nem se importou com o anúncio, imaginando ser a lamentável mãe de Caco, seu companheiro de cela, que roncava sonoramente em seu canto.
-Pedro?
Há meses não escutava seu próprio nome ser pronunciado por alguém, e antes de voltar-se ao encontro daquela voz sentiu um calafrio correr-lhe a espinha. Era a voz de Júlia. Sua mente nunca mais esqueceria aquele doce som.
Reunindo toda a sua coragem virou-se para olhá-la. Ficou completamente abismado com a beleza da mulher parada ali, atrás das grossas grades. Cabelos escuros e cacheados escorriam pelos ombros e os olhos eram verdes e profundos. Usava um vestido muito elegante e sua postura revelava uma mulher de classe.
-Você é a Júlia? Do telefonema?
-Sim. É você mesmo Pedro?
-Sou eu. O que está fazendo aqui? Como me achou?
-Eu...bem...você desligou muito rápido ontem. Eu queria conversar mais.
-Sei. Não é a resposta para o que perguntei. Mesmo assim não deveria estar aqui. Isso não é lugar pra você.
Pareceu mais ríspido do que gostaria, mas estava muito nervoso com a presença dela.
-Não me quer aqui?
-Não! Não é isso..é só...é tão bom conhecer você que não sei nem o que dizer. É isso.
-É bom conhecer você também Pedro. Engraçado...pensei encontrar alguém mais gordo. E mais baixo. E bem mais velho.
Ela deu uma risadinha tão graciosa que ele sorriu também, com o peito aquecido.
-Pois você é exatamente como imaginei. Tão linda quanto sua voz.
Ela enrubesceu estendo pra ele o que tinha nas mãos.
-Trouxe pra você. Está meio bagunçado por que revistaram tudo na entrada, você sabe como é.
O pacote revelou algumas rabanadas e grossas lascas de peru que exalaram um cheiro tentador. Seu estômago urrou em antecipação, mas forçou-se a ser educado.
-Obrigado Júlia. Estou mesmo com fome.
-Então coma.
Queria comer mas também queria desfrutar da companhia dela. Queria saber mais dela.
-Então vamos fazer assim. Eu como e você fala. Conte-me mais sobre você.
-Não Pedro.
-Não?
-Não. Tenho que ser sincera. Vim aqui porque precisava te conhecer. Quero que me conte tudo sobre o que você fez e como veio parar aqui.
-Você é mesmo direta. Não precisa me conhecer Júlia. Não vale a pena. Só vou te dizer uma coisa. Foi um acidente. Mas isso não me redime. Agi de forma violenta e irracional. Eu sou assim Júlia. Um monstro irracional. Então não vale a pena me conhecer.
A expressão dela foi de desapontada a determinada em fração de segundos.
-Não importa. Se vale a pena ou não, somente eu posso julgar. Sinto decepcioná-lo, mas se quer um julgamento justo da minha parte vai ter que se abrir. Ou sairei daqui com a imagem de um manchil em suas mãos assassinando alguém.
-Visita detento!
O grito do policial o ensurdeceu tanto quanto o som retumbante de suas batidas nas barras de ferro.
Nem se importou com o anúncio, imaginando ser a lamentável mãe de Caco, seu companheiro de cela, que roncava sonoramente em seu canto.
-Pedro?
Há meses não escutava seu próprio nome ser pronunciado por alguém, e antes de voltar-se ao encontro daquela voz sentiu um calafrio correr-lhe a espinha. Era a voz de Júlia. Sua mente nunca mais esqueceria aquele doce som.
Reunindo toda a sua coragem virou-se para olhá-la. Ficou completamente abismado com a beleza da mulher parada ali, atrás das grossas grades. Cabelos escuros e cacheados escorriam pelos ombros e os olhos eram verdes e profundos. Usava um vestido muito elegante e sua postura revelava uma mulher de classe.
-Você é a Júlia? Do telefonema?
-Sim. É você mesmo Pedro?
-Sou eu. O que está fazendo aqui? Como me achou?
-Eu...bem...você desligou muito rápido ontem. Eu queria conversar mais.
-Sei. Não é a resposta para o que perguntei. Mesmo assim não deveria estar aqui. Isso não é lugar pra você.
Pareceu mais ríspido do que gostaria, mas estava muito nervoso com a presença dela.
-Não me quer aqui?
-Não! Não é isso..é só...é tão bom conhecer você que não sei nem o que dizer. É isso.
-É bom conhecer você também Pedro. Engraçado...pensei encontrar alguém mais gordo. E mais baixo. E bem mais velho.
Ela deu uma risadinha tão graciosa que ele sorriu também, com o peito aquecido.
-Pois você é exatamente como imaginei. Tão linda quanto sua voz.
Ela enrubesceu estendo pra ele o que tinha nas mãos.
-Trouxe pra você. Está meio bagunçado por que revistaram tudo na entrada, você sabe como é.
O pacote revelou algumas rabanadas e grossas lascas de peru que exalaram um cheiro tentador. Seu estômago urrou em antecipação, mas forçou-se a ser educado.
-Obrigado Júlia. Estou mesmo com fome.
-Então coma.
Queria comer mas também queria desfrutar da companhia dela. Queria saber mais dela.
-Então vamos fazer assim. Eu como e você fala. Conte-me mais sobre você.
-Não Pedro.
-Não?
-Não. Tenho que ser sincera. Vim aqui porque precisava te conhecer. Quero que me conte tudo sobre o que você fez e como veio parar aqui.
-Você é mesmo direta. Não precisa me conhecer Júlia. Não vale a pena. Só vou te dizer uma coisa. Foi um acidente. Mas isso não me redime. Agi de forma violenta e irracional. Eu sou assim Júlia. Um monstro irracional. Então não vale a pena me conhecer.
A expressão dela foi de desapontada a determinada em fração de segundos.
-Não importa. Se vale a pena ou não, somente eu posso julgar. Sinto decepcioná-lo, mas se quer um julgamento justo da minha parte vai ter que se abrir. Ou sairei daqui com a imagem de um manchil em suas mãos assassinando alguém.
Ele sabia que não era justo esconder dela o sangue que sujava suas mãos, afinal era por sua culpa que ela estava ali em primeiro lugar. Deixou o pacote de comida sobre o colchão e se aproximou mais, colocando as mãos bem próximas as dela na grade.
-Tive uma namorada que amava demais. Ou pelo menos era isso que achava, porque hoje eu vejo que...era mais uma doença...não sei explicar. O ciúme me cegava sempre. Não podia vê-la sequer falando ao telefone com alguém que exigia explicações. Levava-a e buscava-a no trabalho, almoçava com ela, ia ao dentista, ao supermercado, a igreja, enfim...queria estar com ela todo o tempo e sempre repetia a mim mesmo que essa obsessão era pelo amor que sentia por ela. Hoje eu sei que esse não era o verdadeiro motivo. Sou um homem doente e irracional. E me irrito muito facilmente. Transformo-me em um homem muito violento quando pensamentos obscuros ocupam minha mente. Então um dia brigamos realmente sério, e ela parou de atender minhas ligações. Não saiu de casa todo o dia e não quis falar comigo. Esperei pacientemente que ela superasse nossa briga e voltasse a me procurar. Naquele mesmo dia fui a um bar lá em Botafogo onde costumava encontrar com alguns amigos pra ver se conseguia desacelerar um pouco minha ansiedade. E lá estava ela, abraçada com um amigo meu. Descobri depois que era só um abraço e ela chorava a minha falta em seu ombro. Mas na hora eu virei um monstro. Um gosto amargo de traição subiu como bílis pela minha boca e eu não vi mais nada. Quando dei por mim, meu melhor amigo estava caído debruçado sobre a calçada e sangue escorria da sua cabeça. Acho que entrei em estado de choque ou alguma coisa assim por que...não me lembro o que aconteceu. Só conseguia ouvir gritos enquanto uma correria se formava ao redor do bar. Eu não me lembro de tê-lo matado mas...ela gritava “Você o matou, você o matou!” Até hoje não tenho certeza do que aconteceu naquela noite. Meu defensor público usa a defesa de homicídio culposo, sem intenção de matar. Uma briga de bar que acabou em acidente. Ele não conseguiu se comunicar com ninguém que esteve ali naquele dia, e essa minha namorada sumiu do mapa. Ninguém conseguiu achá-la até hoje pra prestar depoimento. Como posso culpá-la? Provavelmente só está fugindo de um homem louco. Doente. Mas Júlia...eu posso sentir bem aqui no fundo que foi mesmo um acidente sabe? Eu nunca mataria alguém, muito menos um amigo! É tão frustrante não lembrar!
Quando terminou de falar estava com a testa encostada nas mãos de Júlia. Sentiu quando ela abriu as palmas de encontro a sua cabeça e parou repentinamente, como se em dúvida se isso era o correto a fazer. Então levantou a cabeça e fixou seu olhar no dela. Ela parecia calma, pensativa.
-Pode me julgar agora. Mas por favor, não vá embora com a imagem de um assassino. Pelo menos enquanto eu não provar que eu não fui capaz de fazer aquilo.
Ela continuou em silêncio por um bom tempo antes de se afastar e dizer concisa.
-Quero falar com seu advogado. Quando será seu julgamento?
-Você não...Júlia, quero que vá embora agora e esqueça que me conheceu. Você já teve o que queria. Conheceu o homem que te perturbou em plena noite de ano novo. Eu já desabafei, adorei conhecer você, mas é só. Já me ajudou mais do que pode imaginar Júlia. Por favor vá embora agora.
-Estarei de volta assim que puder Pedro. Você acaba de conhecer sua futura advogada.
Ela virou-se e saiu, enquanto ele abria e fechava a boca sem proferir uma única palavra.
