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Desafio da Imagem - Tema: Dia das Mães - por Nanda Cris
Posted by Nanda Cris
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11 de maio de 2013
06:00
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- Vamos lá gente! Sorrindo!
Todos sorriem.
- Agora, olhe para o menino com cara de afeto!
Eduarda faz exatamente o que lhe é ordenado.
- Milena, pega a colher de pau e finge estar mexendo alguma coisa! Quero interatividade!
A menina pega a colher e finge colocar na mistura, ainda com o sorriso congelado na face.
- Lucas! Não levanta tanto o saco de farinha! Vai ficar na frente do seu rosto!
O menino tenta se manter sorridente, apesar da repreensão dita em voz dura.
- Isso, perfeito! Todo mundo congelado! Ninguém se mexe ou respira. E... foi! - o fotógrafo sorri aliviado - Conseguimos finalmente uma foto perfeita.
Eles se dispersam rapidamente, aliviados por estarem livre daquela sessão de tortura. Já tinham perdido as contas de quantas fotos tinham tentado para aquele comercial de farinha de trigo.
As crianças seguiram correndo, brincando de pegar para o camarim coletivo que os três estavam dividindo. Eduarda ia atrás, seguindo-os. Começou a sentir um pouco os olhos marejados. A vivacidade daquelas crianças era algo que queria para sua vida, mas não parecia que seu destino era este. Secou discretamente as lágrimas antes de entrar no camarim.
E lá estavam Eduarda e Lucas com suas mães Andressa e Elisa. Aquele jovem casal lésbico tinha tudo o que ela gostaria de ter. Um amor forte, dois filhos lindos, e uma felicidade que estava estampada na face de toda a família.
Pegou sua bolsa, soltou um adeus fraco e saiu arrasada do camarim.
Este dia das mães ia ser especialmente ruim. Tinha acabado de se divorciar, porque encontrara seu marido com sua irmã na cama. O desgosto levara sua mãe, então, nem seria possível comemorar como filha esta data. E mesmo depois de 2 anos tentando desesperadamente engravidar do calhorda, nada conseguira, enquanto sua irmã ostentava uma linda barriguinha de 4 meses, gerada pelo seu marido traidor. O que era matematicamente interessante, uma vez que só pegara os 2 na cama havia 2 meses. Secou as lágrimas, levantou os ombros e foi pra casa. Jurou que nunca mais choraria pelo patife e não ia ficar se lamuriando pelos cantos!
Chegando em casa, tomou um calmante e foi dormir. Apagou completamente, só acordando no dia seguinte. Olhou pela janela e pensou:
- Hoje é sábado, véspera do dia das mães. Não tinha mãe, não tinha filho.
Olhou para a mesinha de cabeceira e viu seu tranquilizante. Podia tomar outro e dormir até segunda. Simplesmente pular o fim-de-semana. Não, não. Não era fraca a este ponto. Levantou-se e preparou um café. A cafeína a animou, mas só um pouquinho. Levou o notebook para a cama e deu uma espiada nos seus emails. Um deles chamou a atenção pelo título "Lar São José estará em festa neste domingo!". Clicou.
O Lar São José para Crianças sem Lar estará em festa neste domingo! Venha curtir muita música, diversão e sentir o afeto dessas crianças que não tem lar, mas tem muito amor para compartilhar!
Estamos todos de braços abertos, esperando por vocês!
A entrada é um quilo de alimento não perecível.
Todos nós esperamos por vocês!
E logo abaixo, vinha uma foto das crianças.
Percebeu uma menininha com colar cervical. Lembrou-se quando era pequena e precisou usar aquilo também. Ganhara o apelido de girafa naquela época. Decidiu-se. No dia seguinte iria ao Lar São José para conversar com aquela menininha.
Passou o resto do sábado, indo de loja em loja, comprando presentes para as crianças. Pela foto, dava para saber quantos eram meninos, e quantas eram meninas, então, comprou para todos. Seu dia foi muito animado.
O domingo chegou e, com ele, uma forte indisposição. Sentia-se fraca, enjoada. Tinha que parar de abusar tanto dos tranquilizantes. Pensou nas crianças e aquilo deu um ânimo. Resolveu ir ao orfanato mesmo assim. E não se arrependeu. Lá chegando, foi muito bem recebida, com sorrisos, abraços e muito carinho. Distribuiu os presentes, contou histórias, descobriu que a menininha não ligava de usar o colar, pois todos eram muito bondosos com ela e nunca faziam piada do seu problema. Estava muito feliz, mas ao longo do dia, foi ficando pior. Saiu da festa mais cedo, prometendo voltar e com uma pasta cheia de desenhos de todas as crianças. Passou no pronto-socorro perto de sua casa e acabou desmaiando ali mesmo. Não tinha conseguido comer nada naquele dia devido o enjoo. Seu açúcar baixou e ela simplesmente apagou. Acordou numa maca, com soro e um médico fazendo anotações numa prancheta. Sentia a boca seca.
- Doutor?
- Ah, até que enfim acordou, minha filha!
- O que eu tenho doutor?
- Você teve uma hipoglicemia e desmaiou. Fizemos um exame de sangue e está tudo normal com você.Após tomar o soro, você já estará liberada para ir pra casa.
- Que bom doutor!
- Sim, e vai melhorar agora. Todos esses anos de profissão, nunca tive o prazer de dizer isso num "Dia das mães": você está grávida, minha filha.
- Grávida??
- Sim!
Ela não conseguia responder, apenas sentia as lágrimas escorrendo. Só conseguia agradecer a Deus e pensar:
"Mamãe, eu consegui, sou uma pessoa completa agora."
