9

Desafio da Imagem em Dupla: Nanda e Denize

Posted by Nanda Cris on 17 de abril de 2013 06:00 in , ,
A Marcinha nos deu uma imagem em off. Baseadas numa mesma ilustração, cada uma escreveria um texto. O mais interessante de tudo é que, mesmo eu postando a história da Olhos aqui, junto com o meu, eu não li o dela e ela não leu o meu, até o momento em que o ambos forem postados no Retalhos. Assim, todo mundo terá uma grata surpresa hoje. :-D

A imagem é esta:


E as respostas são estas:

Nanda
Eu tenho um sonho

Eu tenho um sonho de que, um dia, eu não terei medo das intempéries que me esperam, e terei coragem para pegar um balão e sair voando, sem direção. Talvez até mesmo chamar um amigo, para juntos aproveitarmos o vento da tempestade numa corrida que nos fará sentir o sangue bombear mais rápido.

Eu tenho um sonho de que, um dia, haverão placas indicando o caminho certo a se seguir.

Eu tenho um sonho de que, um dia, contemplando o caminho empoeirado para o qual aponta o horizonte, eu sorrirei e não temerei mal algum, porque Deus está comigo.

Eu tenho um sonho de que, um dia, as cercas não mais me prenderão no caminho de terra aberto pelos pés de outras pessoas. Serei meu dono e meu senhor, o destino me pertencerá. Eu mesmo abrirei os meus caminhos.

Eu tenho um sonho de que um dia me libertarei da couraça de medo e os limites não mais terão algum significado pra mim.

"Free at last! Free at last! Thank God almighty, we are free at last"!




Denize

A estrada da Vida


Caminhei, caminhei, caminhei por aquela estrada...

Passei muito tempo da minha vida caminhando, e era sempre a mesma estrada, sempre o
mesmo cenário, sempre os mesmos passos.

As pessoas que eu encontrava, (algumas paradas no meio do caminho, algumas lentas demais
e eu as ultrapassava, algumas que me ultrapassavam quando eu parava para descansar)
sempre me diziam a mesma coisa: que não havia outro caminho a seguir, e não havia outro
meio de chegar.

- Mas eu estou cansada! – respondi certa vez, para um senhor que insistia em me tirar do meu
descanso e me fazer voltar a andar.

- Você não pode parar! Parar é perigoso, não deixe sua mente se desviar muito tempo do
objetivo, ou você vai falhar, não chegará até lá!

- Mas por que tem que ser assim? A gente caminha, caminha, caminha sempre reto, e nunca
chegamos a lugar algum! – Me levantei, irritada. – Veja o senhor, já está velho e ainda não
chegou lá, seja lá onde for... Eu não quero passar a minha vida toda tentando chegar onde
todos dizem que eu devo chegar, se nem ao menos sei onde é!!!

- Está vendo menina, você ficou parada tanto tempo que se está começando a ficar rebelde,
esquecendo seu destino!

Ele me pegou pelo braço e tentou me puxar de volta à estrada, como se quisesse me salvar de
um terrível destino se eu continuasse parada.

- Vamos, eu vou te ajudar a voltar a andar! Ou você definhará ai parada.

- Me deixe em paz seu velho! – Me soltei dele e olhei-o, furiosa.

Ele me encarou assustado e voltou a caminhar, resmungando que eu era uma perdida.

Fiquei ainda mais algum tempo ali sentada, e não foi a primeira nem a última vez que parei,
para pensar e repensar no porque eu estava ali.

Muitas pessoas não davam a mínima para mim, estavam ocupadas demais trilhando seus
próprios caminhos, como se não percebessem que era exatamente o mesmo caminho para
todas. Algumas poucas pararam para conversar enquanto eu estava sentada à beira da
estrada, e dessas ainda pouquíssimas pensavam como eu, e eram as únicas que não ficavam
me dizendo que eu não deveria ficar ali parada, e que não me achavam louca por pensar que
outra realidade existia além daquela estrada.

Mas mesmo essas pessoas raríssimas que paravam e sonhavam comigo, não sabiam o que
fazer. Não tinha resposta alguma para todas as perguntas do universo: Porque vivíamos ali?
Porque tínhamos que seguir sempre em frente? Que destino grandioso nos aguardava no fim

da estrada? Existia mesmo alguma outra realidade além daquela estrada?

E então mesmo essas pessoas se obrigavam a continuar andando, porque era a única verdade
que conhecíamos, a de que devíamos continuar. E por isso eu também continuava andando,
não havia outra coisa a fazer, se não o que a grande maioria dizia que era o certo a fazer.

Aquele lugar era monótono demais. Aquela estrada de chão batido, que seguia sempre reto,
subindo e descendo junto com as oscilações da paisagem. Nenhuma árvore a vista, nenhum
arbusto, nenhuma flor. Só aquela vegetação rasteira, muito, muito verde, contrastando com a
aridez da estrada. E não podíamos caminhar pela vegetação, era outra regra daquela estrada.

Ás vezes eu imaginava se árvores e outros tipos de plantas e até animais, existiam de verdade,
ou se tudo não era apenas fruto da minha imaginação, dos meus sonhos, pois eu nunca os via
acordada enquanto caminhava.

As nuvens sempre no céu, cinzas mas não ameaçadoras, nunca chovia, nunca fazia sol. E lá na
frente, sempre a frente, num lugar que nunca alcançávamos, um céu limpo com promessas de
raios de sol.

Me indignava aquilo, eu não achava certo não poder pensar por mim mesma, não poder
querer trilhar outro caminho de verdade. Ora, eu sabia que não existiam outras estradas,
aquela era a única, mas podíamos abrir outras, podíamos tentar chegar em outros lugares!

Não, não podíamos. Porque se a grande maioria das pessoas dizia que não podíamos, então
não podíamos. Mas se algumas daquelas pessoas que pararam falar comigo, e que assim como
não estavam satisfeitas, tivesses se juntado a mim, e a outras pessoas que viriam, e juntos
tentássemos abrir outra estrada, será que não daria certo?

Eu havia parado mais uma vez, estava exausta e triste, deitei na beira da estrada e fiquei
olhando para o céu, havia algum tempo que ninguém passava por mim, quando de repente
algo me surpreendeu, era um balão colorido!

Olhei, olhei de novo, e não conseguia acreditar, mas era real! Me levantei e comecei a gritar
para chamar a atenção, demorou algo que me pareceu uma eternidade até o balão descer um
pouco para perto da estrada, e eu corri para alcança-lo.

Havia um homem jovem dentro do balão, e ele não desceu totalmente, continuou guiando o
balão mais baixo em paralelo com a estrada enquanto conversávamos.

- Quem é você? – ele me perguntou. – E porque me chamou? Não vou admitir represálias...

- Não, não! – cortei-o. – Quero saber onde conseguiu isso? E como?

- Você também quer um balão? – ele perguntou, surpreso.

- Eu... bem... posso voar com você?

- E porque quer isso? Me explique! – ele foi ríspido.

- É que... eu não aguento mais essa vida! Essa porcaria de estrada que não leva a lugar
nenhum! Eu queria saber o que existe para além disso, deve existir algo além dessa estrada! –
eu desabafei e senti as lágrimas querendo escorrer.

- Ora, e porque nunca saiu da estrada? Porque nunca tomou outro caminho?

- Porque todos dizem que é errado, todos abominam qualquer um que pense em sair da
estrada. Eu sempre tive vontade, mas nunca tive coragem de ir sozinha, e nunca achei uma
companhia... – não consegui conter as lágrimas.

- Então venha!

Ele me estendeu um braço e eu pulei, agarrando-o. Ele me puxou para dentro do balão dele,
e fizemos um voo extraordinário para um lugar diferente, longe da estrada. Foi o primeiro voo
da minha vida e o mais maravilhoso. Ele me levou para um campo aberto, sem vegetação,
onde vários balões estavam espalhados, e descemos.

- De onde vêm todos esses balões? – perguntei maravilhada.

- Eu mesmo os fiz. – ele me olhou com certa tristeza. – Há muito tempo que vivo aqui sozinho,
afastado da estrada. Também acredito que há coisas maravilhosas longe daquele caminho, e
que não querem nos deixar ver. Fiz vários balões, porque não quero viver sozinho também,
não quero descobrir coisas maravilhosas sozinho.

- Eu vou com você! – falei, animada.

- Mas você precisa do seu próprio balão. Cada um deve seguir seu próprio caminho. Você pode
vir comigo, mas se um dia quiser ir a outro lugar, sem mim, terá seu direito.

- Outros estão por ai voando? Trilhando seus caminhos? – perguntei.

- Não. Você é a primeira que consegui encontrar que quisesse isso. – ele parecia triste demais.

- Ora, eu sei que existem muito mais pessoas que não concordam com tudo que querem que
acreditemos naquela estrada! Apenas têm medo de seguir sozinhos para o desconhecido,
assim como eu tinha. Vamos juntos, vamos buscar mais pessoas!

Ele sorriu, e tinha um sorriso lindo, um verdadeiro sonho, que encheu meu coração de alegria.

- Então vamos voar!

Ele me ensinou como funcionava o balão, logo eu peguei o jeito e começamos a voar juntos,
como ele havia prometido, cada um no seu balão. Voltamos para a beira da estrada, sem nos
importar com as pessoas que gritavam lá de baixo que aquilo era errado e que pagaríamos
muito caro no final de nossas vidas. Estávamos lá apenas para encorajar mais pessoas a voar, e
depois de formar uma legião, sairíamos em busca de novas aventuras.



|
Gostou?

Copyright © 2009 Retalhos Assimétricos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive.