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Resenha "Orgulho e Preconceito" - Abril - Desafio Literário 2013

Posted by Nanda Cris on 25 de maio de 2013 06:00 in , , ,
E este mês o tema do Desafio Literário 2013 é "Livros citados em filmes". Para isto, escolhi o livro "Orgulho e Preconceito" da Jane Austen, um clássico da literatura que, admito com muita vergonha de fazê-lo, só li agora, no ano em que ele completa 200 anos! Que vexame! Este livro foi citado no filme "Mensagem para você". Por sorte, o Desafio Realmente desafiante 2013 também tem um tema em que este livro se encaixa, que foi o: "Ler um livro que é citado em outro livro", já que "Orgulho e Preconceito" foi citado em "O diário de Bridget Jones". Ou seja, matei 2 coelhos com uma cajadada só, olha que maravilha???

Então, sem mais delongas, vamos ao livro! Primeiro, vou colocar a sinopse:


Na Inglaterra do final do século XVIII, as possibilidades de ascensão social eram limitadas para uma mulher sem dote. Elizabeth Bennet, de vinte anos, uma das cinco filhas de um espirituoso, mas imprudente senhor, no entanto, é um novo tipo de heroína, que não precisará de estereótipos femininos para conquistar o nobre Fitzwilliam Darcy e defender suas posições com perfeita lucidez de uma filósofa liberal da província. Lizzy é uma espécie de Cinderela esclarecida, iluminista, protofeminista. Neste livro, Jane Austen faz também uma crítica à futilidade das mulheres na voz dessa admirável heroína — recompensada, ao final, com uma felicidade que não lhe parecia possível na classe em que nasceu.

Poucas vezes li uma sinopse que sintetizasse tão bem o livro. Então, com base nela, vocês já sabem sobre o que é o livro, vou dar as minhas impressões:

A história tem altos e baixos, com momentos em que o livro se arrasta e instantes em que fiquei com os olhos colados na página e tinha ódio mortal de quem/o que me tirasse daquela leitura.

Elizabeth é uma heroína forte, que sabe se defender. Ela tem uma língua ferina, que açoita, sem em nenhum momento ser deselegante. Invejei essa presença de espírito dela, gostaria muito de ser assim.

Darcy é totalmente fechado e enigmático. Nem eu nem Lizzy sabíamos o que esperar dele. Até o momento em que, num arroubo, confessa seu imenso amor, aquele que nós 2 não desconfiávamos! Mas ele não sabe expressar bem seus sentimentos e destrata toda a família de Elizabeth e desdenha da sua posição social. A impressão que dava era que ele estava confessando um assassinato e não um amor tão grande. Não posso contar o que acontece daí para frente, mas posso prometer 3 coisas:
  • O livro pega um ritmo vertiginoso após essa cena. Foi impossível largar até terminar de ler.
  • Tudo é muito bem amarrado, todos os fatos tem um porque. 
  • Tem final feliz!!!!!!!!! Adoro!
Realmente recomendo a leitura deste livro para as românticas de plantão. Como disse a Sammy, de uma forma muito bem colocada, todas nós mulheres queremos um Sr Darcy para chamar de nosso. E ao longo dessas 304 páginas, isso é possível, temos apenas que dividi-lo com Lizzy, mas ela é tão inspiradora que nos faz querer ser como ela: destemina, inteligente, irônica... e o fato de admirá-la não nos deixa espaço para ter ciúmes do Sr. Darcy.

Gostei tanto do livro, que não resisti e assisti o filme.
Que adaptação! Sabe quando você lê um livro e vai sublinhando as melhores partes, as mais interessantes, as que mais te marcaram? Então, é essa a sensação que temos ao ver o filme. As partes arrastadas do livro foram cortadas, ou condensadas, o filme é dinâmico, sem perder nenhuma sutileza do livro. Para quem não tem o livro ou não tem tempo para lê-lo, veja o filme, você não vai se arrepender.

Ótimo livro, ótimo filme. Não percam a oportunidade de conhecer esse clássico.

Trailer do filme



Ebook 

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HUMOR: Emergência

Posted by Marcinha on 24 de maio de 2013 06:00 in , , , ,
Emergência
(Luís Fernando Veríssimo)

É fácil identificar o passageiro de primeira viagem. É o que já entra no avião desconfiado. O cumprimento da aeromoça, na porta do avião, já é um desafio a sua compreensão.
- Bom dia...
- Como assim?
Ele faz questão de sentar num banco de corredor, perto da porta. Para ser o primeiro a sair no caso de alguma coisa dar errado. Tem dificuldade com o cinto de segurança. Não consegue atá-lo. Confidencia ao passageiro ao seu lado:
- Não encontro o buraquinho. Não tem buraquinho?
Acaba esquecendo a fivela e dando um nó no cinto. Comenta, com um falso riso descontraído: “Até aqui, tudo bem”. O passageiro ao lado explica que o avião ainda está parado, mas ele não ouve. A aeromoça vem lhe oferecer um jornal,
mas ele recusa.
- Não, obrigado. Não bebo.
Quando o avião começa a correr pela pista antes de levantar vôo, ele é aquele com os olhos arregalados e a expressão de Santa Mãe do Céu! No rosto. Com o avião no ar, dá uma espiada pela janela e se arrepende. É a última espiada que dará pela janela.
Mas o pior está por vir. De repende ele ouve uma misteriosa voz descarnada. Olha para todos os lados para descobrir de onde sai a voz.
“Senhores passageiros, sua atenção , por favor. A seguir, nosso pessoal de bordo fará uma demonstração de rotina do sistema de segurança deste aparelho. Há saídas de emergência na frente, nos dois lados e atrás.”
- Emergência? Que emergência? Quando eu comprei a passagem ninguém falou nada de emergência. Olha, o meu é sem emergência!
Uma das aeromoças, de pé ao seu lado, tenta acalmá-lo.
- Isto é apenas rotina, cavalheiro.
- Odeio rotina. Aposto que você diz isso para todos. Ai, meu santo.
“No caso de despressurização da cabina, máscaras de oxigênio cairão automaticamente de seus compartimentos.”
- Que história é essa? Que despressurização ? Que cabina?
“Puxe a máscara em sua direção. Isto acionará o suprimento de oxigênio. Coloque a máscara sobre o rosto e respire normalmente.”
- Respirar normalmente? A cabina despressurizada, máscaras de oxigênio caindo sobre nossas cabeças - e ele quer que a gente respire normalmente?!
“ Em caso de pouso forçado na água...
- O quê?!
“...os acentos de suas cadeiras são flutuantes e podem ser levados para fora do aparelho e...”
- Essa não! Bancos flutuantes, não! Tudo, menos bancos flutuantes!
- Calma, cavalheiro.
- Eu desisto! Parem este troço que eu vou descer. Onde é a cordinha? Parem!
- Cavalheiro, por favor. Fique calmo.
- Eu estou calmo. Calmíssimo. Você é que está nervosa e, não sei por que, está tentando arrancar as minhas mãos do pescoço deste cavalheiro ao meu lado. Que aliás , também parece consternado e levemente azul.
- Calma! Isso. Pronto. Fique tranqüilo. Não vai acontecer nada.
- Só não quero mais ouvir falar em banco flutuante.
- Certo. Ninguém mais vai falar em banco flutuante.
Ele se vira para o passageiro ao lado, que tenta desesperadamente recuperar a respiração, e pede desculpas. Perdeu a cabeça.
É que banco flutuante foi demais. Imagine só. Todo mundo flutuando sentado. Fazendo sala no meio do oceano Atlântico!
A aeromoça diz que lhe vai trazer um calmante e aí mesmo que ele dá um pulo:
- Calmante, por quê? O que é que está acontecendo? Vocês estão me escondendo alguma coisa!
Finalmente, a muito custo, conseguem acalmá-lo. Ele fica rígido na cadeira. Recusa tudo que lhe é oferecido. Não quer o almoço. Pergunta se pode receber sua comida em dinheiro. Deixa cair a cabeça para trás e tenta dormir. Mas, a cada sacudida do avião, abre os olhos e fica cuidando a portinha do compartimento sobre sua cabeça, de onde, a qualquer momento, pode pular uma máscara de oxigênio e matá-lo do coração.
De repente, outra voz. Desta vez é do comandante.
- Senhores passageiros, aqui fala o comandante Araújo. Neste momento. À nossa direita, podemos ver a cidade de ...
Ele pula outra vez da cadeira e grita para a cabina do piloto:
-
Olha para a frente, Araújo! Olha para a frente!



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RESENHAS: Desafio Realmente Desafiante - The Walking Dead - Caminho para Woodbury

Posted by Unknown on 23 de maio de 2013 14:00 in , , , , ,



14. Ler um livro de zumbis.




 The Walking Dead - Caminho para Woodbury
Robert Kirkman e Jay Bonansinga


Com a pausa da terceira temporada de The Walking Dead, os fãs começam a buscar alternativas. Desde as histórias em quadrinhos que deram origem à série como os livros que vão aparecendo no mercado brasileiro.

Quando o livro saiu, eu o dei de presente de aniversário para uma amiga, na promessa de que ela me emprestasse o livro.

Li o livro bem rápido, porque ele tem altas doses de adrenalina e tensão. Como no seriado da TV, o livro é focado nas pessoas, no caso, cinco sobreviventes que tentam viver em meio ao caos e finalmente chegam a Woodbury, uma cidade murada, mas com jeitão de Velho Oeste.

O livro não tem final feliz. Para ser honesta, nem mesmo final tem... O que nos traz a expectativa de novos volumes.

O livro se divide em duas partes, na primeira os sobreviventes fazem parte de um grupo maior, mas por um ataque maciço de zumbis, acontece uma situação e por causa dela, dois deles são banidos da comunidade. Os três restantes resolvem acompanhá-los. 

Apenas um dos personagens me cativou e bem... não teve exatamente um final feliz. Aliás, nenhum deles tem um final feliz. Os conflitos entre eles não são nada perto da trama e da teia de intrigas que os cerca quando chegam a Woodbury.

Neste livro, pudemos conhecer melhor o Governador (Phillip Blake), que no livro é muito mais cruel e implacável do que na série.

Mesmo para quem nunca assistiu à série, o livro tem o poder de ambientar o leitor no ambiente apocalíptico de mortos-vivos. As descrições são ricas em detalhes, mas não são entendiantes. 

Os conflitos e brigas e até mesmo as situações de tensão são muito bem descritas e explicadas nos deixando num suspense e expectativa constante. 

Recomendo o livro como um thriller misto de horror e suspense. Porque as pessoas, são muito mais difíceis e perigosas de se lidar do que os mortos-vivos. 


Tempo: 7 dias
 Finalidade: Entretenimento/Espera entre as temporadas do seriado.
Restrição: Crianças e Pessoas com problemas cardíacos
Princípios ativos: Zumbis, Thriller Psicológico

Título: The Walking Dead - Caminho para Woodbury
Autor(a): Robert Kirkman e Jay Bonansinga
Editora: Galera Record
Número de Págs.: 336 páginas

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Resposta ao Desafio de Páscoa - Desafio do Tempo e do Espaço! - Nanda x Sammy



"O sol está queimando a tudo que toca, até as folhas parecem meio murchas, sedentas. A floresta está silenciosa em expectativa. Aqui e ali vemos pedacinhos de ovos brilhando ao sol. Risadas de crianças são ouvidas ao longe."


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OSTARA - Uma história de Páscoa


"E então... Eostre encontrou um pássaro ferido na neve. Para ajudar o animalzinho transformou-o em uma lebre, mas a transformação aconteceu por completo e o coelho continuou com a habilidade de colocar ovos. Como agradecimento por ter salvo sua vida, a lebre decorou os ovos e levou-os como presente para a Deusa Eostre. A Deusa maravilhou-se com a criatividade do presente e, quis então, compartilhar sua alegria com todas as crianças do mundo. Criou-se assim, a tradição de se ofertar ovos decorados na Páscoa, costume vigente em nossos dias atuais."

- Por isso, minha querida, nós pintamos os ovos em Ostara, marcando o início da primavera...

- Ai que linda essa história, vovó! - gritaram as crianças - Agora podemos procurar os ovos?

Kalleen era bruxa. E como toda bruxa, em tradição familiar, passava seus conhecimentos através das gerações. Da mesma maneira como tinha aprendido com sua mãe, que por sua vez, também tinha aprendido com a sua... E agora, ensinava a seus três netos, que estavam ansiosos por correr pela clareira da Floresta da Tijuca, onde há poucos minutos, haviam escondido os ovos brilhantes e pintados...

Olhou à volta e tanto suas crianças, como os filhos de seus irmãos do coven já haviam se espalhado à procura dos ovos. Este ano, inovaram... Cestinhas haviam sido confeccionadas e os ovos acomodados dentro. Assim, não haveria desperdício dos ovos, que seriam descascados e comidos e suas cascas abençoadas, seriam misturadas à terra, em honra à Eostre, deusa da alvorada.

No centro do círculo, os bruxos mais jovens concentravam suas energias no caldeirão repleto de água e flores colhidas para o feitiço. 

As mocinhas, preocupavam-se em colher o orvalho das folhas, que em sua crença, tinham um poder de rejuvenescimento e purificação maior do que qualquer renew ou produto similar do mercado! 

Já os rapazes preocupavam-se com o coelho, que seria assado ao término do ritual e como sua carne traria beleza, fertilidade e porquê não dizer também, masculinidade a quem o comesse, por isso, deveria ser feito com o máximo de cuidado e dedicação.

Reinava paz, concentração e tranquilidade no ritual, até que o silêncio foi quebrado pelas risadas das crianças.

Kalleen sentou-se sob o sol, sentindo o calor aquecer seus velhos ossos. Fechou os olhos em meditação e desvinculou-se do mundo real. Enxergou à sua frente a Deusa, transformando o pássaro e sorriu em expectativa.

Adorava a primavera. A preparação para o verão, era sua estação favorita. Nem calor em excesso, nem frio demais. Uma fina e rápida chuva deu de beber às sedentas árvores e folhas que antes, murchavam pelo frio do inverno e sol do início da primavera. Era a estação mais perfeita de todas! 

Abriu os olhos e os raios de sol toldaram sua visão por um momento. Pôs as mãos em concha, protegendo a vista e viu a deusa se aproximando. Levantou-se em direção a ela e disse-lhe:

- Senhora da Alvorada, Deusa da Beleza e Fertilidade, Madrugada Radiante, a chuva caiu e a primavera chegou. Desta forma, recomeça a vida que estava adormecida... 

Todos aproximaram-se da anciã e deram as mãos. Até mesmo as crianças, compenetradas com o ritual sentiam-se parte da terra e como sementes desabrochando e sentindo o poder e a energia da Deusa passando por eles.

Agradeceram aos ancestrais pelas conquistas e pediram renovação para o novo ciclo. Em seguida, soltaram as mãos e completaram o ritual com danças, festa e muita alegria.





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Desafio Triplo para Denize!

Posted by Unknown on 05:00 in , , ,


Já que a Denize pediu um desafio, resolvi dar a ela algo temático. Considerando que dia 13/05 foi dia da abolição da escravatura... Segue abaixo o desafio TRIPLO!


Imagem:




Tempo e Espaço:

"Era um lindo dia de sol e os relógios trazidos diretamente de Portugal, soaram três badaladas. No pátio do Paço dos Vice-Reis, ouvia-se claramente manifestações pacíficas, devidamente contidas pelos guardas imperiais. A multidão gritava e se regozijava enquanto a princesa e o ministro da agricultura estavam prontos a assinar e promulgar uma nova lei."



Palavras:

  • Terremoto
  • TARDIS
  • Capoeira
  • Dissabores
  • Pólvora



Sai dessa agora, Denize!!!!​

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Propagandas do baú

Posted by PatyDeuner on 22 de maio de 2013 06:00 in , , ,

Começarei hoje uma série de propagandas que talvez sejam tão antigas quanto à época de seus pais. Alguns vão recordar e curtir as lembranças, e outros vão se divertir com a criatividade adaptada a tecnologia existente. Vale a pena conferir esses pequenos vídeos.


                                  Açucar União - Anos 50

   Será que sua mãe ou sua avó lembram?



    Brahma Chopp com Beto Rockefeller Luis Gustavo - Anos 60
Vale observar como na época não havia nenhum controle da mídia com relação ao fumo. Afinal, era chique fumar nesses tempos...vai entender.



Casas Pernambucanas - 1.962
Quem bate? É o frio!


Fósforos Fiat Lux com os soldadinhos palitinhos - Anos 50
                                                          Essa é muito legal!



Gostaram?
Então não percam o próximo post das "Propagandas do baú"!






             

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Desafio duplo: imagem + tema!

Posted by Unknown on 21 de maio de 2013 06:00 in , ,
Recebi um desafio duplo da colaboradora Sammy, e aqui está a resposta.

Tema: Lendas Urbanas - Muito mais perto do que você imagina!

A Jovem dos Raios

Essa história começa quando Carmem ainda era jovem e morava com os pais na cidade de Londrina, Paraná.
Ela estava no auge de seus 16 anos, e como a maioria das meninas da sua idade, ela adorava sair para festinhas noturnas, a maioria dadas por seus colegas de escola, e nas quais ela ia escondida de seus pais.
As formas que arranjava para sair de casa a noite eram as mais variadas, desde mentiras bobas sobre ir dormir na casa de alguma colega, até sair escondida no meio da madrugada pela janela, deixando a porta do quarto trancada, e voltando para casa antes dos pais acordarem.
Carmem sabia que fazer aquilo era errado, pois seus pais assim diziam, mas ela não entendia porque os pais nunca a deixavam ir àquelas festas. Claro que muitas das pessoas que iam acabavam bêbadas ou usando drogas ilícitas, e ela sabia que em algumas festas também rolava sexo, mas não com ela, ela não se metia nessas coisas. Mas não adiantava usar esse argumento com os pais, eles nunca a deixavam ir.
Mas a presença de Carmem era indispensável nas festinhas, ela era a menina mais bonita da escola, tinha 1,75m, não era magra como as modelos, nem gorda, mas tinha um físico forte, o que a fazia ficar mais linda, seus cabelos longos eram loiros e os olhos verde claro. Ela era muito popular na escola não só por sua aparência, mas por estar sempre usando roupas da moda, por isso seu nome estava sempre no topo da lista de convidados dessas festas.
Sair sozinha à noite sempre lhe dava alguns tremores, um frio na espinha, mas ela sempre achava que nada de ruim poderia acontecer a uma menina tão bela e popular. Porém seu medo começou a aumentar quando ela encontrou pela primeira vez uma senhora, na esquina de sua casa.
A senhora de pele muito enrugada, olhos pequenos e roupas esfarrapadas, estava parada no meio da rua como se olhasse para o nada, e quando Carmem passava por ela, a velha a fitou e disse:
— Moças bonitas não devem desobedecer seus pais. Deus castiga.
Carmem sentiu o corpo todo tremer com aquele aviso, mas ao invés de voltar para a casa, correu o mais rápido que pôde para o local da festa, chegando lá ficou tão entretida com a companhia do colegas, que esqueceu do acontecido.
Duas semanas mais tarde, outro colega daria uma festa em sua casa, e mais uma vez Carmem saiu escondida no meio da noite. Dessa vez encontrou a velha sentada num banco no meio da praça por onde ela precisava passar. Carmem tentou passar o mais longe possível da velha, mas ainda assim a velha lhe gritou um aviso:
— Ninguém deve desobedecer seus pais, os pais são sábios, Deus lhes dá a sabedoria.
Dias mais tarde, outra festa, outro encontro com a velha, e ela lhe disse:
— Estou te avisando garota, porque quero o seu bem. Deus vai lhe castigar se não parar com isso!
Carmem passou a encontrar a velha todas as vezes que saía de casa escondida, e depois de cinco vezes já não sentia mais medo da velha, mas sim raiva. Pensava que, se a velha queria mesmo que ela parasse de fazer o que fazia, que então fosse até sua casa e contasse logo aos seus pais, e não que ficasse lhe azucrinando toda vez que ia sair.
Mas na sexta vez em que Carmem encontrou a velha, ela nada lhe disse, apenas ficou encarando, e naquele dia Carmem percebeu que seus olhos eram inteiramente brancos, como se a senhora fosse cega, mas ainda assim aquelas orbitas brancas a encaravam.
Estavam ambas no meio da rua, quando um raio desceu do céu sem aviso nenhum e atingiu Carmem na cabeça. A velha soltou um grito agudo que acordou todos nas redondezas, e desapareceu.
Carmem ficou hospitalizada por três semanas devido as queimaduras internas provocadas pelo raio, e estranhamente seus cabelos e olhos ficaram negros, mas não queimados, apenas mudaram de cor. Evento que os médicos não souberam explicar. Sua pele também ficou um pouco enrugada, como se tivesse murchado.
Quando a menina se olhou no espelho pela primeira vez depois daquele acontecido, já em casa e recuperada, ficou em estado de choque. Ela se achou horrível, ficou alarmada porque naquele estado jamais voltaria a ser a garota mais popular da escola. Olhos e cabelos negros eram comuns demais, e aquela pele era assustadora.
A mãe, mesmo ainda com raiva por ter descoberto que a filha sempre saia escondido para as festas, deu palavras de apoio para a filha, dizendo que podiam fazem um tratamento para sua pele, e que cabelos e olhos negros eram lindos. Mas palavra nenhuma adiantou, Carmem não queria mais viver daquele jeito.
Tudo que ela fez nos três anos que se passaram foi tentar se matar.
Tomou produtos de limpeza misturados com remédios controlados, ficou hospitalizada mais algum tempo, voltou para casa. Tentou de novo cortando os pulsos, não adiantou. Um dia se jogou na frente de um caminhão, teve diversas fraturas, ficou mais um longo tempo hospitalizada, mas aquilo só serviu para deixa-la mais deformada, passou longe de tirar sua vida.
Com o tempo a consciência começou a cair sobre Carmem, e ela começou a perceber que seus pais só ficavam cada vez mais deprimidos com suas longas estadias nos hospitais, e não demorou muito para tomar a decisão de fugir de casa.
Carmem fugiu e então começou uma busca pela velha que falara antes com ela. Carmem não comia nem bebia, seu corpo murchou ainda mais e ela ficou mais baixa, como se fosse uma velha, mas não morria, nem mesmo de sede ou de fome.
Ela sentia o corpo debilitado, mas sabia que nada poderia matá-la, então apenas continuava a busca pela velha, até que um dia a encontrou em uma praça do outro lado da cidade. A velha estava dando os mesmo conselhos que um dia lhe dera, para um garoto que passava.
Quando a velha viu Carmem se aproximar, sorriu e lhe disse:
— Esses jovens nunca aprendem. Veja esse menino, sai escondido para beber com os amigos.
— Quem é você e o que fez comigo? — Carmem falou, sua voz saiu rouca e assustadora.
— Eu não fiz nada com você, foi você mesma que fez. Não ouviu seus pais, os pais são sempre sábios... Eu também não seria assim se tivesse ouvido os meus. — A velha soltou um gemido de lamento.
— Isso é o que, uma maldição?
— Não sei direito... — a velha ficou pensativa — tudo o que tenho a dizer é que, assim como vocês, eu também desobedeci muito meus pais, e acabei assim. Agora sei tudo sobre todos vocês, e a minha vida é passar a eternidade avisando-lhes, tentando fazer com que me ouçam já que não ouvem mais os pais.
— E depois nos lança uma maldição! — Disse Carmem irada.
— Não, eu não tenho nada a ver com o que acontece a cada um de vocês depois de meus cinco avisos, simplesmente acontece. Deve ser a vontade de Deus.
— E o que eu faço pra que isso acabe? Eu não aguento mais essa vida, eu quero morrer!
— Ah, isso eu sei. Só o que pode lhe matar, jovem Carmem, é outro raio. Você idolatrava sua aparência muito mais do que o amor de seus pais, e acabou fadada a viver para sempre numa aparência horrível. Para sempre, minha jovem velha, pois um raio não cai duas vezes no mesmo lugar! — Dizendo isso a velha começou a gargalhar, uma gargalhada alta e assustadora, e desapareceu.
Dizem que se caminhar à noite pelas estradas ao redor da cidade, você tem grandes chances de encontrar Carmem, que vive em sua aparência moribunda vagando atrás dos raios, implorando-os que caiam sobre ela.



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DICAS: Expressões Redundantes

Posted by Nanda Cris on 20 de maio de 2013 06:00 in , , ,

Redundância é quando repetimos uma idéia já expressa anteriormente, acrescentando uma informação desnecessária, que não melhora em nada a compreensão do contexto.



Muitas pessoas fazem uso dessas expressões sem perceber que estão erradas. Será que você é uma delas? Pode ser que sim, mas não se martirize por isso. Que atire a primeira pedra quem não teve esse deslize nem uma vez na vida!

Veja alguns exemplos de expressões redundantes:

Frase: Stark teve a cabeça decapitada.
Explicação: Você sabia que se for no dicionário, o termo decapitar significa "a remoção da cabeça de um ser vivo". Ou seja, se estamos dizendo que ele foi decapitado, obviamente foi a cabeça!

Frase: Vamos dividir este pudim em metades iguais.
Explicação: Ora, se é metade, já é igual. Metade significa 50% do todo.

Frase: Há muito tempo atrás fui a Lisboa.
Explicação: A presença do "Há" já demonstra que foi no passado, não existe necessidade de colocar a palavra atrás!

Frase: O cachorro se infiltrou dentro das cobertas, sem ser chamado.
Explicação: Se o cachorro se infiltrou, só pode ser para dentro. Infiltrar no dicionário tem o sentido de "entrar através de", "penetrar". Ninguém se infiltra para fora.

Frase: Vocês não acham melhor adiar pra depois essa decisão?
Explicação: Adiar significa "deixar para mais tarde o que se tem para fazer". Logo nunca poderemos adiar para antes!

Frase: Melhor procurarmos outra alternativa.
Explicação: Alternativa já significa "outra opção". Se é alternativa, já é outra.

Frase: Eles convivem juntos desde que nasceram.
Explicação: Conviver significa "viver em comum", não há como conviver separado.

Frase: A menina acrescentou mais uma ideia ao projeto.
Explicação: Acrescentar significa "aumentar, adicionar", claro que só pode ser mais uma ideia, não teria como ser menos uma.

Eu mesma acabo sempre usando "há muito tempo atrás" e "outra alternativa". Tento sempre me policiar, mas, quando vejo... já foi! Se estiver escrevendo, numa revisão me corrijo. Mas se for falando... só percebo a gafe depois de cometê-la!



Fonte: Só Português

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Enquanto o "Caboclo" não vem...

Posted by Marcinha on 19 de maio de 2013 12:54 in , , , ,
Aproveitarei esse domingo para fazer um segundo post falando rapidamente sobre os meus desafios. Achei interessante explicar um pouquinho dos nossos "bastidores" para os leitores do nosso blog.

Atualmente, somos cinco autoras ativas aqui. Postamos nossos textos, que podem ser criados ou não a partir dos desafios que lançamos umas às outras. Também postamos textos relevantes que não sejam de nossa autoria, mas que mereçam ser destacados nesse blog. Postamos ainda dicas de português, muito úteis ao eterno aprimoramento de quem escreve, ou seja, nós mesmas, inclusive.

Então... quem é esse Cabolclo do qual falamos tanto???

O "Caboclo Escrivinhadô" é um ícone cultural do nosso blog. Ele representa a inspiração quando chega, aquela inspiração mágica tão citada por quem trabalha com a arte no geral, incluindo aí a arte de escrever. Muitas vezes recebemos um desafio e ficamos matutando sobre ele, digerindo a proposta, sem nem saber por onde começar. De repente o Caboclo "baixa" e um texto inteiro flui de uma maneira espantosa. É aquele momento mágico a que o escritor e desenhista Fábio Yabu citou como sendo uma epifania.

E enquanto o Caboclo não vem? Aí é um desespero. Perguntamos umas às outras quem de nós está mantendo o Caboclo em cativeiro. Por que o Caboclo é temperamental, tem horas que se agarra com uma de nós e deixa as outras a ver navios!

Brincadeiras à parte, o próprio ato de escrever é escorregadio, como qualquer arte. Está subordinado às nossas tensões, preocupações, cansaço, estado de espírito. Não é apenas uma questão de sentar-se para escrever. E quando você se senta por minutos em frente ao editor de texto e nada acontece? Os desafios acumulam! Justamente! (Marcinha fazendo uma careta de mea culpa)

E, nesta posição, venho republicar aqui meus desafios pendentes, só pra constar que eu não os esqueci!

Mas antes, uma novidade, e eu esqueci de falar dos desafios que recebemos "em off". Alguns desafios nos vêm de fora do blog, de amigos ou familiares, qualquer pessoa que queira nos desafiar para uma peleja vale, e cabe a cada uma de nós aceitar o desafio ou não. Esse aqui foi o maridão que me deu, e firmo aqui o compromisso público com esse Desafio de Imagem:



Meu Desafio de Páscoa, fiquei com o Desafio das 5 Palavras (by Nanda):
* Cogumelo
* Hidratante
* Girafa
* E-mail
* Copo
(Eu sei, seu sei, a páscoa já vai longe... mas o texto está ficando engraçado, e ainda vale a pena publicá-lo!)

Desafio de Imagem (by Nanda):


Desafio Das 5 Frases + Tema "Word of Warcraft" (by Sammy):

"No coração da floresta, há um herói desconhecido enterrado."
"Se de verdade permanercermos unidos, nada e nem ninguém poderá nos vencer."
"Até nós, trevas dos confins do universo, defenderemos a Aliança."
"Nosso único império são nossos atos heróicos em busca de justiça."
"Socorro! Que dor! Sangue.... Estou morrendo..."

E, por último, estamos preparando "em off" um desafio coletivo, no qual eu já escolhi dois temas para desenvolver, mas ainda não comentarei nada sobre isso por que os temas ainda não estão todos distribuídos e o desafio ainda não foi lançado oficialmente aqui no blog. Então... comming soon...

Estes são os seis desafios com os quais estou compromissada neste momento.

Minhas companheiras autoras, podem me puxar a orelha se eu tiver esquecido algum! (*medo*)

Cumprida esta tarefa de refrescar minha própria memória, despeço-me, para ter um particular com o Sr Caboclo que me deve algumas visitas.

Desejo a todos um ótimo domingo!


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O Despertar Na Caverna (A Guerreira e o Ogro - capítulo 1)

Posted by Marcinha on 06:00 in , , , , ,
Quando ela abriu os olhos, percebeu que estava dentro de uma caverna. Manteve-se imóvel, enquanto tentava ambientar a vista para divisar o que havia à sua volta. Os instintos de guerreira sempre guiavam sua ações; precisava saber se estava sozinha ou se alguém a vigiava, antes de fazer qualquer movimento que demonstrasse que havia recobrado a consciência.
Percorreu com os olhos o interior da rocha bem iluminada por inúmeras tochas; havia vários utensílios de uso doméstico sobre uma bancada de madeira, alguns alforjes de couro encostados a uma parede, uma caixa de madeira com vários objetos de metal e uma imensa massa de combate. Mais adiante uma fogueira crepitava, e em frente ao fogo havia um ogro sentado de costas para ela. Era uma criatura imensa, vestida modestamente com roupas de couro bem surradas, que remexia o fogo lentamente com um galho seco. A guerreira o observou durante um tempo; o ogro parecia calmo e pensativo. Então ela se moveu lentamente, tentado enxergar o restante da caverna, e sentiu-se mais confortável ao ver que sua espada estava guardada na bainha e colocada no chão ao seu lado, ao alcance de sua mão. Ela esticou o braço para alcançar sua arma e houve um farfalhar neste momento, só então percebeu que estava deitada sobre peles com forro de palha.
– Finalmente acordou. – comentou o ogro em tom casual, com sua voz grave e baixa.
– Quanto tempo dormi? – indagou a guerreira, tratando de estabelecer prontamente um diálogo.
– Três dias. – respondeu o ogro, que se virou finalmente para olhar para ela. – E apenas hoje a febre e a palidez cederam. Como se sente?
– Estou ótima. – respondeu a guerreira imediatamente, mesmo sem ter certeza de como estava sua saúde; mas não iria demonstrar vulnerabilidade ao ogro.
– Que bom. – retorquiu o ogro, um pouco menos amistoso, por ter notado a hostilidade dela. – Se tiver fome, venha comer; há caldo de carne e raízes no vasilhame de pedra.
Tendo dito isto, o ogro voltou-se para o fogo novamente. Mas em vez de revolver as chamas com o galho, colocou-o no chão com um gesto brusco, e ficou imóvel, sentado com os cotovelos apoiados sobre os joelhos.
A guerreira se levantou da cama improvisada onde dormira, e olhou para sua espada num momento de dúvida que durou apenas um instante. Então pegou a arma e prendeu a bainha à cintura; era melhor estar segura do que demonstrar gentileza. O ogro a olhou por sobre o ombro quando percebeu o que ela fizera, depois voltou a fitar o fogo novamente.
Ela se aproximou do vasilhame que continha a sopa, ainda estava quente. Destampou-o e sentiu o cheiro da carne cozida, dando-se conta então do quanto estava faminta. Serviu-se numa generosa cuia de cerâmica, e se sentou para comer perto da fogueira, há uma distância segura do ogro, que ainda fitava o fogo. Só então ela pode perceber o ogro com nitidez; era enorme e corpulento, com mãos grandes e calejadas, com dedos nodosos e unhas incrustadas de sujeira. Tinha a cabeça totalmente lisa, e orelhas grandes demais, em contraste com os olhos pequenos que ficavam praticamente escondidos à sombra da testa proeminente. A boca enorme estava contraída e, acompanhando o cenho franzido, demonstrava a quantidade de pensamentos que deviam agitá-lo naquele momento. Entretanto, o ogro não parecia sentir raiva, nem demonstrava agressividade. Ele parecia sombrio, com uma expressão torturada de quem carregasse todo o peso do mundo sobre seus ombros.
A guerreira sentiu compaixão por ele, mas logo respirou fundo e voltou à postura defensiva. Precisava pensar com praticidade, saber como havia chegado ali e descobrir se conseguiria partir com o consentimento do ogro ou se precisaria usar de violência para isso. Perguntou então, como quem apenas inicia um conversa casual:
– Como cheguei aqui?
– Eu a trouxe. – respondeu o ogro – Eu estava de passagem pelos ermos quando a vi de longe; vi quando perdeu os sentidos, então a recolhi e trouxe para cá, para que pudesse ser cuidada.
– Por que eu perdi os sentidos? – indagou, confusa – O que viu naquele dia?
– Você tentava mover sozinha uma pedra que daria trabalho a dois homens. – respondeu o ogro – Em meio ao esforço caiu, e quando me aproximei a palidez dos mortos estava no seu rosto. Seu cenho estava franzido, acredito que estava sentindo muita dor.
– Eu sangrava? Estava ferida?
– Examinei você o melhor que pude, e não encontrei nada. Não aparentava estar ferida, e não havia nenhum membro quebrado ou mesmo luxado. A única anormalidade é que sua testa queimava... pra dizer a verdade, a cabeça inteira estava quente como a lâmina de um espada esquecida ao sol.
– Ah. – disse ela, assim que compreendeu do que se tratava, e praguejou – Maldição.
– Você sabe o que aconteceu.
– Que pergunta tola, é claro que não. – retorquiu a guerreira, na defensiva.
– Não foi uma pergunta. Você sabe. – o ogro a encarava, fazendo uma pausa enfática – Mas não é obrigada a me contar.
– Eu não sei! – mentiu ela, odiando as dores constantes na cabeça que constantemente a inutilizavam por dias – E também não é da sua conta!
– Não há motivo pra se alterar. Baixe a guarda, está bem? – afirmou o ogro, com um tom decidido e uma expressão dura e repreensiva.
Ela pensou em pelo menos três respostas desaforadas no minuto seguinte, mas acabou por manter-se calada. Um conflito gratuito com o ogro não a levaria a lugar nenhum, e a afastaria das informações que precisava. Respirou fundo, e decidiu ficar calada por algum tempo, enquanto tomava a sopa que já esfriara, esquecida, em seu colo. Em dado momento, olhou para o ogro discretamente, e arriscou mais uma pergunta.
– A pedra que eu tentava mover... eu consegui?
– Não.
– A gruta ficou aberta. – ela lamentou, a voz era um sussurro para si mesma.
– Não. Eu a fechei. Está selada, não se preocupe. – afirmou o ogro.
– Por quê? – ela indagou, aliviada e perplexa ao mesmo tempo – Por quer se deu ao trabalho de fechar algo que... que não significava nada para você?
– Porque eu olhei lá dentro, e compreendi por que você se esforçou até a exaustão para fechá-la. É um sepulcro, não é?
– É. – respondeu ela, com uma expressão sombria, os olhos fixos no chão.
– Quem jaz lá dentro? – indagou o ogro, com real interesse.
– Sepultado lá está tudo que eu já fui um dia. – respondeu ela, cada vez mais sombria – Meu passado. Meu coração. Minhas lágrimas. A dor lancinante no meu peito. Minha alma. – ela ergueu os olhos e encarou o ogro. – Arranquei tudo de mim e enterrei lá.
O ogro fez um silêncio reverente. Compreendia perfeitamente o que ela dissera. Não ficou decepcionado em saber que o sepulcro era simbólico, nem demonstrou escárnio, como por um momento ela temeu que ele fizesse. Em vez disso ele se calou, partilhando por um momento da dor dela. Então, finalmente, a inquietação que ela sentia em relação ao ogro se afastou.
– Ninguém sabe sobre o sepulcro. – ela afirmou, sustentando o olhar dele quando ele despregou os olhos do chão. – Agora você é o único além de mim que sabe que ele existe e o que ele significa. Gostaria que tomasse essa revelação como um agradecimento.
– Não precisa me agradecer a acolhida. – afirmou o ogro com sinceridade – Muitos outros viajantes poderiam ter feito o mesmo por você se a tivessem encontrado primeiro.
– Eu agradeço, sim, por me acolher e por me cuidar; mas estou agradecendo principalmente por se importar. Foi honrado de sua parte se dar ao trabalho de selar um sepulcro. E seu gesto preservou o que há lá dentro; objetos e lembranças que eu não gostaria de ver violados ou saqueados. Tem minha gratidão e meu respeito, ogro – e, dito isto, ela pôs o punho fechado sobre o coração, e se curvou em reverência – Meu nome é Markka, guerreira da Costa Alta, nação que escolhi para mim.
– Sou Zenthor, ogro artesão nascido no Planalto Árido. Minha caverna é sua morada enquanto precisar. – e logo se corrigiu – Pode partir quando quiser, é claro, mas acho que ainda não está forte o bastante.
– Se eu não for um fardo, aceito a oferta. Não tenho pressa de partir.
"Não mais", pensou a guerreira consigo mesma.


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