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Resposta ao desafio da Paty

Posted by Baltazar Escritor on 13 de outubro de 2012 00:01 in , ,

Uma casa de madeira, piso de madeira, paredes de madeira, em que as crianças estavam pensando em comer madeira também, em um terreno de uma tia com outra casa na parte da frente. Muito diferente da casa de madeira, a casa da frente, era branca e feita de tijolos firmes e, em frente da casa branca, você pode imaginar um lindo gramado com arbustos esculpidos pela natureza para parecerem mãos com todos os dedos apontando para o céu, mudas de beijinhos e sempre-vivas recém plantadas. Entre as duas casas tem outro gramado, diferente do gramado da frente, este é cheio de pedras e tem uma casa de cachorro e uma ameixeira e um abacateiro.
Na casa de madeira as crianças ainda estão com fome, a menina mais velha chama os dois menores, ela vai à casa branca, a casa da frente em que mora a tia, eles podiam pedir bolachas pra ela. Pra se chegar à casa da tia tem que subir uma pequena escada de concreto, depois da escada tem um portãozinho branco, a menina tenta abrir o portão. Ela força, respira fundo, empurra, mas percebe que tem um cadeado trancando o caminho. Ela chama a tia, ela não responde, os dois menores chamam também. Tia, tia,tia! A tia não ouve, tem uma música tocando, as crianças não conheciam, não sabiam cantar. Pra piorar a situação de dentro da casa branca vem o inconfundível cheiro de pão assando, pão fresquinho. Três barriguinhas roncam, três boquinhas batem, três pares de olhos choram. Elas chamam de novo, com soluços cortando as palavras. Tia, tia, tia! E novamente ninguém responde. A menina limpa o nariz de baixo pra cima com a palma da mão, depois limpa a mão no vestido rosa desbotado. Os dois menores, ranhentos até não poder mais, vão enxugando a cara com a manga da camisa, os beiços tremendo pra segurar o choro que teima em escorrer.
Eles entram na casa de madeira, com os semblantes caídos e as barriguinhas ainda roncando. Bebem água direto da torneira, isso alivia um pouco, diz a menina, a fome acalma. Os três tentam se distrair, brincam com caixas de papelão e uma ou duas pelúcias encardidas. A fome aperta, a menina lembra de uma coisa, arrasta os dois menores pra fora da casa de madeira, sim, lá atrás da casa de madeira tem um pequeno quintal, é lá que a mãe pega coisas pra comer. No pedaço de terra plantada tem umas mudas de alface e um pouco de cheiro verde. É melhor pegar os menores pra mãe não ficar braba da gente ter comido tudo, diz o do meio. O caçula arranca um pé de cebolinha e enfia na boca ainda com um grânulos de terra, mastiga fazendo uma careta e depois cospe tudo no chão, tinha um gosto bom quando a mãe cozinhava. A menina faz cara de apreensiva e arranca um pé de alface. Puxando os dois menores ela entra na cozinha e deixa o alface dentro da pia, liga a torneira, sacode as folhas verdes uma por uma e as coloca num prato. Vamos comer esse que a mãe não vai fazer falta. Eles comem as folhas com vontade, saboreando cada folha como se fosse a melhor comida do mundo, o que naquele momento era. A tarde passa, apesar da salada a fome ainda persiste. Os três, já cansados de brincar, ouvem a porta se abrir, são os pais voltando do serviço. Os dois estavam com cara de triste.
As crianças pensaram, e era de se imaginar, que os pais estavam tristes por eles terem mexido no quintal. O caçula chora. Desculpa mãe, desculpa pai. Desculpa do que filho? Era muita fome, a gente comeu as folhinhas que a mãe plantou. Não tem problema, a mãe responde com lágrimas escorrendo, tudo bem. O pai vai pro quintal, capinar as plantas com a luz do sol do horário de verão. A mãe vai pra cozinha e tira um embrulho de dentro de uma sacola. Ela coloca o embrulho na mesa e abre. As três crianças espiam pra ver o que é, é um troço verde cheio de pelinhos e com cheiro de fermento. A mãe abre uma gaveta da pia e tira uma faca, vai descascando o troço verde como se fosse uma laranja. As crianças sorriem de orelha a orelha quando vem o que tinha debaixo do troço verde, a mãe termina de cortar fora o bolor, era pão. O caçula se adianta. Mãe, me dá um pedaço? A mãe corta três fatias do pão, dá uma pra cada um, as crianças comem. Mãe, dá mais um? Não posso, ela responde chorando, é pra semana. Ela guarda o pão no armário e leva os três pro banheiro, escova os dentes. Hoje vocês oram, peçam pro papai do céu cuidar da gente.
Se ouvem na noite três améns, de três boquinhas felizes.






Essa, eu acho, é a lembrança mais forte da minha infância. A maior parte do que está escrito não é fiel nos detalhes, queiram me desculpar pois eu era realmente muito novo, mas lembro fortemente de algumas coisas, se pensar bem ainda posso sentir o gosto do pé de cebolinha e do pão embolorado.

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Eu penso...

Posted by Kbeça on 11 de outubro de 2012 08:00 in , , , , , , , ,
Eu penso muito. O tempo todo. Minha cabeça não pára nunca. Os erros que cometi, as pessoas que magoei, as lágrimas que provoquei, os problemas que não resolvi, os males que causei, as vergonhas que passei, inundam a minha mente a todo instante. Antes eu pensava que isso era uma punição, uma maldição até, mas hoje compreendo que é uma certa "benção", pois é o quê me mantém na linha. Todas as vezes que penso em algo ruim do passado e que eu não pude resolver, consertar, ou o que valha, eu me policio e evito um novo incidente.

Avaliando toda a minha vida até o momento não sinto orgulho de nada. E para muitos isso seria uma catástrofe, mas para mim não. O orgulho não é bom. Aliás, corrigindo, sinto orgulho sim de muita coisa, mas um orgulho pelos outros e não de mim, ou por mim.

Uma vez eu hostilizei dois caras, numa praça que eu jogava RPG. Apenas porque os meus "amigos" os hostilizavam. Só que eu levo tudo ao estremo. E neste caso não foi diferente. Chegou o ponto da praça se dividir em quem me apoiava e quem apoiava os caras. Certo dia no meio da inundação pensei "Porra, afinal, por que eu não gosto dos caras? O que eles me fizeram?", e sabe qual foi a minha resposta? Nada! "Nada" foi resposta. Os caras não me fizeram absolutamente nada. E aquilo se tornou mais uma "ondinha" na minha inundação, e foi aumentando enquanto eu não falei com os caras. Por dias eu ia na praça e perguntava por eles. O pessoal estava achando que ia sair briga, o primeiro deles chegou a fechar os punhos e assumir uma postura de defesa quando eu finalmente o encontrei. A cara de espanto dele está gravada na minha mente quando eu disse "Cara, me desculpe por tudo. Por toda raiva, toda a hostilidade, e qualquer mal que lhe causei, De verdade.". Ele não acreditava. Por alguns segundos ele ficou me olhando nos olhos, até relaxar e finalmente apertar a minha mão e, sem precisar, me pedir desculpas também. O boato que eu entrei para igreja, que eu virei "evangélico" nasceu naquele dia. O segundo veio me procurar. Usei as mesmas palavras, o mesmo gesto, ele foi mais receptivo que o primeiro, e tudo ficou bem. A praça voltou a ser uma unidade. A paz reinou.

Para quem não sabe eu não tenho religião. Diferente do ateu, eu acredito em Deus, mas não tenho religião. O problema é que eu acredito em Deus, Zeus, Odin, Buda, Alá, Brahma, Deusa, Oxalá, G.A.D.U. e por aí vai. Acredito que independente do nome Ele vai te ouvir. O que te reserva no final da vida são as tuas escolhas e os seus atos. Mas, acima de tudo, eu acredito em uma entidade de amor. Multiplique o amor de mãe (a que cria, educa, alimenta, protege, ensina) por infinito. Multiplicou? Esse valor não chega nem a um infinitésimo perto do amor Dele. E como todo amor verdadeiro (vide os cachorros) o perdão está em primeiro lugar. Você vai errar milhares de vezes e milhares de vezes ele vai continuar te olhando com amor e bondade, disposto a lhe perdoar e lhe ajudar assim que você estiver pronto para pedir perdão e ajuda.

E tudo o que eu faço de "bom", que seria um motivo de orgulho, é, como disse uma médium do G.E.I.D., "é minha obrigação". Não fiz nada mais, nada menos, que minha obrigação.

Um amigo me pediu ajuda: minha obrigação ajudar. Um estranho me pediu ajuda? Minha obrigação ajudar também. Alguém se aproximou de você queixando-se de vida. o que você faz? Ouça. Sorria. Dê as suas melhores palavras de conforto e incentivo. Como o povo lá sempre diz "é fácil conviver com um monte de gente legal. O difícil mesmo é conviver com os problemáticos. Eles sim, são as nossas verdadeiras provas".

Hoje faltou luz no bairro que eu moro. Saí para buscar a Nanda no ponto de ônibus com uma lanterna no bolso. No meio do caminho passei do lado de uma moça toda atrapalhada tentando colocar a chave do carro na fechadura da porta do mesmo. Parei, olhei para ela e disse "quer uma luz aí?". Ela, assustada e com medo, no meio do escuro, nem conseguia ver meu rosto, recusou dizendo que estava tudo bem. Eu, calmamente, do lugar que estava, retirei a lanterna do bolso e iluminei a porta do carro dela. Ela sorriu, abriu a porta, entrou, agradeceu e foi embora. E eu? Continuei a minha vida. Não me custou nada. Não me doeu nada. Talvez eu tenha ganhado um tijolinho na minha casinha do céu (como diz a minha amiga Renata), talvez não. Afinal era minha obrigação ajudar. Ela conseguiria acertar a fechadura em algum momento, mas não custava ajudar.

E as orações? Já passei, e passo, por muito problemas na vida. E muitos, se não todos, foram suportados através de orações alheias (obrigado Paty, Drica, Marcinha e quem mais orou por mim), então o que custa parar o que você está fazendo na hora por, sei lá, cinco minutos, um minuto, trinta segundos, que seja, e, sinceramente, pedir um "up" por aquela pessoa? Mesmo que você nunca a tenha visto na (nesta) vida? Um simples "(coloque aqui a deidade de sua preferência) ajuda aquela pessoa.", desde que sincero, fará muita, se não toda, a diferença. Mas, faça de coração. Se não for de coração, não faça.

Sinceramente, sou direcionado a conhecer pessoas com problemas. É como se eu fosse testado o tempo todo. "Olha aqui. Mais uma pessoa com um problema. O quê você vai fazer? Ficar, ou correr?". E do começo ao fim eu penso: não sou eu falando, não sou eu agindo, é a vontade e providência divina. Há muito tempo atrás participei de um "conven" e uma das regras era: fazei de ti presença de Deus, pois só assim funcionará. Jesus disse "vós sois deuses". Se podemos ser influenciados para o mal, porque não abrir as portas para sermos influenciados para o bem?

Para finalizar, deixo um vídeo que vi outro dia e gostei muito. Tanto pela atitude, quando pela inspiração que ele nos proporciona.


Tradução livre feita por mim:
1. Escrever uma carta pessoal para os policiais agradecendo tudo o que eles fazem por nós.
2. Levar sorvetes do McDonalds para todos os guardas parados no calor.
3. Dar garrafas de água a todos os jardineiros públicos e aos guardas de trânsito.
4. Limpar os para-brisas sujos em um cruzamento por uma hora.
5. Plantar uma árvore.
6. Lavar um carro aleatório de um estacionamento.
7. Ter uma conversa de coração com o faxineiro da minha cafeteria favorita.
8. Levantar a cancela para os guardas enquanto eles jantam.
9. Escrever uma carta de agradecimento para os professores por escolherem ensinar, ao invés de ter outros empregos.
10. Limpar todo o lixo jogado no chão da universidade.
11. Distribuir guardanapos de papel para todos os estudantes na cafeteria da universidade.
12. Imprimir panfletos "motivacionais" e distribuir pela universidade e seus arredores
Panfleto: Fique calmo(a) e sorria. Você é lindo(a).
13. Dar sucos em caixinha para todos os jovens andando no calor, que nós encontramos na rua.
14. Dar passagem a qualquer um na rua que queira passar.
15. Distribuir maçãs para os trabalhadores que não encontraram nenhum trabalho diário.
16. Dar uma carona para os alunos de intercâmbio para que eles não voltassem andando para o lar.
17. Distribuir rosas amarelas e panfletos motivacionais para as enfermeiras do hospital local.
18, 19, 20, 21 Não puderam ser filmados.
Eles incluem:
Ajudar um taxista na beira da estrada.
Dar ternos para os funcionários de um restaurante porque eles não tiveram um dia de folga no Eid (não sei o que é Eid, deve ser algum feriado, ou data comemorativa local).
Dar para minha mãe e meu pai um abraço especial por eles serem os melhores pais do planeta.
Dar para uma criança de rua de 12 anos sorvete, batatinhas e Milo, porque ele me disse que gostava deles.
22. Distribuir balões no orfanato local.
Mensagem final: Vamos criar uma sociedade em que, mesmo que os governos e as corporações trabalhem contra nós, ainda teremos uns aos outros. Vamos ser gentis.

Sabe o que é mais legal? Eu fiquei tão agradecido com o vídeo que mandei uma mensagem de agradecimento para o autor. Sabe o que aconteceu? Ele gentilmente respondeu.



  • 26 de Setembro
    Anderson Ramalho
    • Hi, I'm from Brazil.
      Just watched your video and found it amazing. I hope that more people can be inspired by seeing him.
      I want to thank you for your act of kindness. And I wish you to receive many good things in your life.
      Brotherly hugs.

    • Thank you Anderson for all the kind words. It was very sweet of you to take out time and write out to me. I'm truly honored.

    • The honor is mine. Again: thanks for your great video and ispiration.



Tradução:

Anderson Ramalho
Oi, eu sou do Brasil.
Acabei de ver o seu vídeo e o achei incrível. Eu espero que mais pessoas possam se inspirar assistindo-o.
Eu quero lhe agradecer pelo seu ato de gentileza. E desejo que você receba muitas coisas boas em sua vida.
Abraços fraternais.

Syed Muzamil Hasan Zaidi
Obrigado Anderson por todas as palavras gentis. Foi muito gentil da sua parte tirar um tempo e escrever para mim. Estou verdadeiramente honrado.

Anderson Ramalho
A honra é minha. Mais uma vez: obrigado por seu ótimo vídeo e inspiração.

Desejo o melhor à todos e "Caso a gente não se veja: Bom dia, Boa tarde e Boa noite!"


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Filosofia do cão

Posted by PatyDeuner on 8 de outubro de 2012 07:39 in , ,












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