Eu nunca realmente havia escrito nada em toda a minha vida. Ai
então eu fui desafiada pela primeira vez a escrever um texto que deveria conter
algumas palavras. As palavras escolhidas tinham definitivamente o objetivo de
me induzir a escrever algo sobre o que eu já estou familiarizada, com o intuito
de facilitar minha primeira experiência em escrever um texto. Foram elas: leitura - construção - tempo
- autonomia - recepção.
Como sou
arquiteta, seria instintivo escrever algo relacionado a isso. Mas olhando pras
palavras e pensando como eu escreveria algo com aquilo, eu percebi que criar
uma história vai muito além do óbvio que nos é apresentado. Tem que sair de
dentro da alma, fazer parte dos nossos instintos. Seja esta história real ou
imaginária. Então, em minha primeira vez, escrevi a história do momento mais
importante da minha vida, e que com certeza faz parte da vida de muitas
mulheres.
...estava
tudo muito claro. Meus olhos ardiam. Podia ouvir até os mínimos ruídos ao meu
redor, mas nem tudo eu conseguia distinguir. Algumas frases eram sussurradas.
- Seja
forte! Tudo vai ficar bem.
- Está me
ouvindo?
-Estamos
quase lá...
Meu corpo estava
muito quente, mesmo no ar frio, e as sensações eram muito fortes. Na medida do
possível eu estava controlada, mas a ansiedade me cegava. Afinal, a expectativa
de meses estava toda concentrada nesse único momento. Tentei relaxar e as
memórias vieram em ondas claras.
A descoberta
foi um susto, uma mistura de êxtase e medo. Depois veio a alegria, e então a
loucura.
-Como vai
ser agora?
-O que eu
tenho de fazer?
As perguntas
eram infinitas e eu fiquei totalmente consumida em absorver cada detalhe do que
estava acontecendo. Eu devorava todo o tipo de leitura relacionada ao assunto e a cada dia eu descobria novas
alegrias. Aos poucos então consegui traçar planos para a construção de uma vida totalmente desconhecida pra mim. Todo o meu
conhecimento antes disso acontecer não se aplicava mais agora. Antes...parece
tão distante...um outro tempo.
Um som metálico e uma
forte dor me trouxeram de volta, abrindo os olhos para a forte luz concentrada
em cima de mim. Então eu sabia. Era o momento e eu tinha que manter o foco para
garantir a autonomia do meu corpo e
da minha mente, pois eu era o mais importante instrumento para a recepção do que estava chegando.
Deus! Minhas
emoções quase podem ser tocadas!
-É agora!
Ouvi meio atordoada.
Fiz uma
força excruciante e nada aconteceu. Forcei meu corpo mais e mais, repetidas
vezes, e quando achei que não poderia mais suportar a dor esmagadora...veio o
alívio instantâneo, e eu ouvi o mais doce de todos os sons: o choro da minha
primeira filha.
Meus olhos
umedeceram e encontraram o aliviado sorriso de emoção do homem que estava ao
meu lado apertando minha mão carinhosamente.
-Só mais um
pouco agora meu amor. Ele disse ainda tenso.
E em uma
segunda onda de dor, porém bem mais rápida e menos intensa, veio ao mundo minha
segunda filha com um choro tão exigente quanto à primeira.
Então eu
realmente explodi em lágrimas absorvendo todas as emoções de uma só vez e
agradecendo a Deus a benção desse momento.
Em poucos
minutos eu estava abraçada as duas, uma de cada lado.
-Tão lindas!
Uma sensação
quase dolorosa começou a crescer dentro de mim e pareceria que não tinha fim.
Então eu sabia o que era.
Amor.
Amor de mãe.
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