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Não me leia

Posted by Baltazar Escritor on 5 de maio de 2012 22:17 in , ,
Não me leia em voz alta por mais que
meu verbo melhor soe em boca alheia
e se meu verso nasce de você
melhor será, jamais, jamais me leia

Hão de perguntar: Enfim por que
calar uma poesia que tão feia
se torna no silêncio de quem lê
e não nos lábios cujo encanto a enleia?

Responderei (e o faço por escrito,
assim o verso nunca seja dito).
Meu poema, sem gritos e sem riso

Dói tanto, sangra tanto, esmaga tanto
que nenhum ai, nem musica, nem canto
imita a solidão em que agonizo.

(Guilherme Figueiredo)

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Para Gostar de Ler

Posted by PatyDeuner on 4 de maio de 2012 13:23 in , , , , ,
Para Gostar de Ler - Volume 1: Crônicas


“Para gostar de ler” é o título de uma coleção de livros lançada no início da década de 1980 e que se compunha basicamente de crônicas, contos e poemas, escritas por alguns dos mais expressivos e ilustres escritores brasileiros. Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade assinavam histórias deliciosas que ilustravam para os jovens leitores de então, o cotidiano dos brasileiros de forma cômica, trágica, irônica, patética, melancólica...

Essa é a capa do volume 1 em sua primeira edição e, acreditem, eu tenho ele na minha coleção!



Eu particularmente adorava e tenho em casa alguns volumes que guardei da minha infância. Num rompante de nostalgia, resolvi postar uma crônica das que eu mais gostava, de Jose Carlos de Oliveira. Espero que gostem.

CÃOMÍCIO NO CALÇADÃO

José Carlos de Oliveira

Reunidos no calçadão central da Avenida Atlântica, entre as Ruas Souza Aguiar e Sá Ferreira, dezenas de cães participaram sábado à tarde de um comício autorizado, em princípio, pela Administração Regional de Copacabana. Eram cachorros das mais variadas raças e dos mais diferentes tamanhos, desde Pastores Alemães até miniaturas Pintcher. Junto ao meio-fio, no local da concentração, um carro-choque do Batalhão de Gatos, armados de unhas e dentes, garantia a ordem. 

O primeiro a subir ao tablado, que era um engradado de refrigerantes emborcado, foi um Poodle branquinho, de rabinho cotó

- Nossos donos são irresponsáveis! - gritou ele

- Abaixo os donos irresponsáveis! - respondeu a multidão raivosa (embora toda ela vacinada)

- Todo poder aos cachorros! - prosseguiu veemente o Poodle branco, cujo focinho lembrava vagamente o de Jane Fonda, e que era tido, entre o Posto 6 e o Posto 4, como o líder inconteste do Dog-Power. 

Em seguida pediu a palavra um Weimaraner azulado, de olhos tristes. Do alto do caixote, falou ponderadamente: 

- Meus modos if... if... (estava chorando o coitado)... Meus modos refletem o do meu dono... Não quero mais passar vergonha sujando a calçada!

- Nós também não! - responderam em uníssono os manifestantes caninos. Lá do meio do povo, alguém latiu com voz de Pointer: 

- Nossos donos precisam aprender que lugar de cachorro fazer suas "coisas" é em casa!

- Bravo! Apoiado! - concordou a cãonalhada. 

- Pipi-dog! Queremos pipi-dog! - Puseram-se a ladrar cadelinha Basser - cinco ou seis, provavelmente da mesma ninhada. - Somos moças de família, e portanto temos direito a um lugar no apartamento, onde possamos fazer a nossa toalete em que os intrusos invadam a nossa privacidade"

- Muito bem! Falou! Podem crer! - entoaram em coro os cinco Dobermans que moram no Edifício Chopin, um dos mais luxuosos de Copacabana, e que fazem pipi - vejam só a heresia! - na piscina do Copacabana Palace, que fica ali ao lado. 

Agora, estava no tablado um musculoso Boxer, com sua cara abobalhada e seu tradicional bom coração. 

- Senhoras e senhores - disse ele - sejamos objetivos. Desejo colocar em votação uma proposta simples, de três pontos, a qual, se aprovada, será encaminhada aos nossos donos, em forma de abaixo-assinado. Primeiro ponto: 

- "Quero meu pipi-dog no apartamento"

- Apoiado! - gritou a assembléia

Segundo ponto: ... Mas, antes, para evitar tumulto, prefiro que os distintos companheiros, em vez de latirem, ladrarem, rosnarem e coisa e tal, balancem o rabo em sinal de aprovação. Aqueles que não mais possuem rabo poderiam uivar, mais docemente, pois uma de nossas preocupações principais há de ser a de não agravar a poluição sonora, de maneira a não indispor a opinião publica contra a nossa causa... 

Todos balançaram o rabo, em silêncio. A questão do orador fora aceita. Ele então prosseguiu: 

- Segundo ponto: - "Queremos fazer nosso cooper canino apenas no calçadão central da Avenida Atlântica..."

Rabinhos balaçaram para lá e para cá: aprovado. 

- Terceiro ponto: "É preferível que não nos levem à praia, onde involuntatiamente causamos uma porção de doenças!"

Rabinhos alegres: de acordo. 

- Desta forma - finalizou o Boxer - poderemos afirmar que somos felizardos e que temos donos educados!

- Nosso dono vai ser superlegal! - exclamou a assembléia, esquecendo a recomendação de só balançar o rabo. 

Nessa altura, todos ali estavam com vontade de fazer cocô e pipi. Sendo assim, o Poodle branco decidiu dar por encerrada a reunião, recomendando que os manifestantes se dispersassem em ordem. 

Mas nesse instante pulou no caixote um autêntico Vira-Lata, magrinho, de olhos famintos, as costelas aparecendos sob o pêlo ralo, o rabo enre as pernas. 

- Irmãos! - bradou ele, ou melhor, essa palavra num gemido - Irmãos! Todos somos irmãos! Todos os cachorros são iguais! Portanto, o verdadeiro problema não está no pipi-dog doméstico nem no pinicão de apartamento. O necessário é que todos nós, os de pedigrees e os da rua, os de raça e os vira-latas, tenhamos, todos. direito aos cuidados veterinários periódicos, à vacinação gratuita, à alimentação farta e balanceada, à coleira protetora com sua placa de identificação, aos banhos seguidos de talcos contra pulgas.. Viva pois a revolução! Todo o poder aos cachorros, sem distinção de raça, cor ou credo!

-Uh! Fora! - gritaram os cães de luxo, que pertencen todos, naturalmente, à Diretia, e preferem que as coisas continuem como estão, no plano da justiça social. - Fora! Sarnento! Babão! Comedor de restos! Ralé!

A multidão de sócios do Kennel Club avançou na direção do anarquista, rosnando ameaçadoramente. Foi preciso que os gatos salvassem o Vira-Lata do linchamento inevitável, para o que o cercaram, dispersando a cachorrada com bomba de gás lacrimogéneo. 

Em seguida, o Batalhão de Gatos levou o Vira-Lata para o lugar adequado a essa espécie agitador. ele agora está sendo processado e é capaz de passar o resto da vida num canil-presídio. Acusação: trata-se de um CÃOMUNISTA. 

Fonte: Para gostar de ler. vol. 7 - Crônicas. São Paulo: Editora Ática, 1987.


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Livro de Receitas

Posted by PatyDeuner on 2 de maio de 2012 08:18 in , , ,
Que tal se o livro de receitas na verdade fizer parte do prato e depois ainda se tornar uma bela lasanha?
É o caso deste livro feito 100% com massa fresca contendo os modos de preparo do prato. A parte triste da história é que você não poderá comprar uma edição desse livro, já que ele foi só uma edição especial criada pela Gerstenberg Publishing House, uma editora alemã especializada em livros de receitas.

Que tal preparar um prato e depois comer o livro de receitas?
Que tal preparar um prato e depois comer o livro de receitas?
Que tal preparar um prato e depois comer o livro de receitas?
Que tal preparar um prato e depois comer o livro de receitas?
Que tal preparar um prato e depois comer o livro de receitas?

Achei legal!

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Prisioneiro

Posted by Baltazar Escritor on 1 de maio de 2012 22:59 in , , ,

Os cadafalsos dessa cela
Caem sob meus pés que rangem
Tal qual o tremor da vela
Que em temor meus dedos tangem

Vejo, tremula, a luz que cega
Apagar-se de repente e fora
De meu alcance renega
O facho de escuridão de outrora

Oh escuridão que precede o fim
Pérfida de lodo e lamaçais
Que ruge fogo, besta fera,

Diga rápido, o que será de mim
Buscando os socorros angelicais
Para não me remoer em restos de quimera.

A. B. Souza

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