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A Viajante

Posted by Olhos Celestes on 10 de agosto de 2012 11:48 in , ,

Respondendo ao Desafio da Paty...

A Viajante

“Fico pensando que se hoje a minha vida está um caos, a culpa é toda minha. Com tanto dinheiro que tenho, não tenho absolutamente nada, nada que seja realmente importante. Tudo que trago comigo são coisas que julguei que fossem importantes, desde aquele odioso dia em que ganhei na loteria...
Eu tinha uma casa simples no subúrbio, bem cuidada e rodeada de bons vizinhos, sempre havia visitas em minha casa e, na verdade, eu estava sempre a sorrir. Realmente não sei onde foi que perdi meu sorriso, depois de tantas andanças por ai. Tinha um bom emprego num escritório, o salário até que era razoável. Eu tinha também um marido, que era muito amoroso comigo, eu sorria muito com ele também, apesar de andar sempre irritada com o jeito muito largado e despreocupado dele. Tinha meus irmãos que também sempre iam me visitar e levavam meus muitos sobrinhos, eu sempre adorei crianças, mas devido a um problema no útero nunca pude ter filhos... enfim, apesar de tudo isso eu achava que não era feliz.
Naquele dia em que ganhei milhões na loteria achei que finalmente eu seria feliz, e o que fiz? A pior besteira da minha vida: larguei tudo que tinha e sai pelo mundo! Na verdade o que aconteceu foi que eu larguei TODOS que tinha, mas fiz questão de juntar tudo que eu julgava serem importantes, como lembrancinhas de todos os casamentos e aniversários que eu já tinha ido, alguns presentes que ganhara dos meus pais quando ainda eram vivos, inclusive um jogo de cadeiras que minha mãe me deu (sim, levei comigo as cadeiras, em todas as viagens), levei até um jogo de pratos de porcelana que eu ganhei de um vizinho no dia em que me mudei e todas as roupas que meu marido me dera. Não levei comigo nada que tivesse comprado, apenas o que ganhei de presente.
Viajei o mundo carregada de bagagem, não era nada fácil ter que ficar pedindo ajuda o tempo todo para carregar aquele monte de malas e... as cadeiras. Mas eu não queria abrir mão de nada que julgava ser importante pra mim, desde o dia em que ganhei aquele prêmio eu decidi que não teria mais um lar, o mundo seria a minha casa, e comecei a viver loucamente assim, nunca liguei ou mandei uma carta ao meu marido ou aos meus parentes dizendo onde estava e perguntando deles, eu saí sem me despedir de ninguém, nem mesmo sei o que pensam que aconteceu comigo.
Hoje, sentada nesse pequeno porto cercada da minha bagagem, quando acabo de desembarcar de outra viagem, sei que fiz a coisa mais errada de todas, abandonei as coisas erradas, trouxe comigo tudo que não tinha valor nenhum, e deixei de lado tudo que sempre importou. E sei por que trouxe só o que ganhei de presente, no fundo eu queria nunca esquecer aquelas pessoas. Agora vou tomar a única decisão certa da minha vida, não sei se todos me aceitarão de volta, espero muito que sim, mas se não aceitarem será o meu castigo mais do que merecido... Ao menos ainda não torrei todo o dinheiro que ganhei e poderei ajudar as pessoas que amo de alguma forma, mesmo que não me aceitem de volta.”
E a viajante levantou lentamente da cadeira em que estava sentada na beira do mar, como se em transe começou a jogar mala por mala na água e depois saiu caminhando, com os passos leves, o olhar distante e um sorriso no rosto.


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Desafio pra você Olhos!

Posted by PatyDeuner on 9 de agosto de 2012 19:10 in ,
Vi essa imagem hoje e fiquei imaginando o que estaria essa mulher fazendo sozinha rodeada de malas? Ai pensei, quem mais poderia me dar uma boa explicação?



Aceita Olhos?

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Batata Quente (2) - Parte 5

Posted by PatyDeuner on 7 de agosto de 2012 13:44 in , ,
Essa parte ficou bem levezinha com um diálogo para revelar algumas coisas. Vou deixar a ação para o próximo hem? Batata quente mesmo!

Batata Quente (2) - Parte 5


- Você vai comer essa carne crua?
Ele teve que sorrir da expressão horrorizada dela com os olhos arregalados para a porção abastada de carne crua no prato à sua frente.
-É o que eu preciso comer para manter-me forte durante meu breve período de vida humana. Desculpe, sei que não deve ser muito agradável. Vou comer na sala.
- Não!
Ela segurou sua mão quando já estava de pé. Seu toque era quente e macio, como sempre imaginava que seria.
- Eu não me importo. De verdade. Sente-se e coma comigo.
Ele sentou-se, e ambos comeram em silêncio por um longo tempo. Custou a convencê-la de que deveria tomar um banho e comer alguma coisa antes de conversarem sobre o que estava acontecendo. Além de estar realmente preocupado com a aparente fraqueza dela, queria ganhar tempo. Não podia contar tudo e teria que ponderar suas palavras. Mas o que o deixava realmente feliz era ver que ela não o temia, e parecia não ter nojo dele também.
- Então. Você podia começar me contando o que eram aquelas criaturas. – A voz dela era suave, mas decidida.
- São vampiros. E são meus inimigos naturais. São fortes e poderosos, mas é preciso muitos deles para acabar com alguém como eu.
- E alguém como você seria?
- Um lobo. Na verdade eu sou um lobo em minha essência. Mas há séculos atrás fiz um juramento que...bem, para poder salvar e proteger a minha espécie, ganhei forças e poderes para superar qualquer vampiro. Mas em troca disso, passo parte da minha vida petrificado em uma forma horrenda. E preciso estar sempre em solo sagrado para a transformação senão...
Os olhos de Suzane estavam fixos nos seus absorvendo cada palavra. E não conseguiu concluir sua explicação. Era terrível demais. Por agora tinha que ser o suficiente.
- Então é isso. Sou na maior parte do tempo um monstro. Mas não se preocupe porque consigo ter emoções humanas também. Estou aqui pra ajudá-la.
Ela piscou várias vezes como se saísse de um transe e sorriu. Aquele sorriso amável que tantas vezes apreciou só de longe. Não conteve o impulso de tocá-la. Traçou seus dedos sobre a bochecha dela até o queixo. Ela suspirou. Um suspiro longo e cansado. Era impossível decifrar suas emoções naquele momento.
- Agora me diga o que esses vampiros querem de mim Christopher.
Essa era a parte difícil da história. Como dizer a ela que seu sangue carregava a imortalidade para a espécie dele? Será que ela entenderia o lado não humano que corria em suas veias?
Um baque surdo, inaudível para os ouvidos humanos, alertou-o para o perigo de estarem ali.
- Suzane, você não pode mais ficar aqui. Temos que ir embora. Acharei um lugar seguro pra você.
- Mas espera aí. Essa é a minha casa! Não posso deixá-la assim!
- Não temos tempo pra discutir isso agora. Pegue algumas coisas e vamos.
Enquanto ela organizava alguns pertences na mochila, ele inspecionou cada canto da casa onde era possível a entrada das criaturas, embora eles não precisassem necessariamente de uma entrada. Mas com certeza seriam cautelosos para não afugentá-los. Mais dois baques vindos do telhado. Dessa vez o som foi alto o suficiente para Suzane gritar.
- Vamos Suzane!
Arrastando-a pelo braço conseguiram chegar ao beco lateral, mas viu que não seria possível saírem dali pelos meios normais.
- Confia em mim?
Ela apenas meneou a cabeça afirmativamente, mas ele viu em seus olhos a dúvida e o medo.
-Então segure forte no meu pescoço e feche os olhos. Não vou deixar que nada aconteça a você. Pode confiar em mim.
E como um raio cortando um céu sem estrelas, ele voou de encontro à escuridão da noite.

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Batata Quente (1) - Parte 3

Posted by PatyDeuner on 10:45 in , ,
Demorou mas ficou pronto! O que a Joana vai fazer agora?

Batata Quente (1) - Parte 3



Sentiu um gosto amargo e químico na garganta quando tentou sem sucesso umedecer a língua seca. O corpo todo doía e a cabeça latejava. Quando abriu os olhos agradeceu a escuridão, e por um momento pensou estar em sua cama, curando mais uma de suas tão corriqueiras ressacas. Absorveu o cheiro forte de urina seca e a realidade veio à tona junto com as memórias do que tinha acontecido. Levantou-se rápido apalpando os quadris freneticamente a procura de sua arma, mas a vertigem não deixou que se pusesse de pé. Caída no chão, pode contemplar suas mãos sujas de sangue seco, iluminada pelo brilho fraco de luz que vinha por debaixo da porta, e quando seus olhos focaram a abertura, viu que alguém estava parado lá, do outro lado, e nesse mesmo instante ouviu o rangido do trinco sendo aberto.
A luz cegou-a por alguns momentos enquanto tentava identificar a sombra do homem, e quando ouviu sua voz não teve mais dúvidas do que estava por vir.
-Bom dia doce irmãzinha! Dormiu bem?
A raiva lhe deu forças para sentar e encarar aquele homem desprezível.
- Sinto muito querida pelas acomodações tão humildes, mas é tão difícil achar boas casas pra se alugar hoje em dia, você sabe...
- O que você quer Thomas? - Ela gritou interrompendo o monólogo, e ouviu sua risada seca e rancorosa.
-Ah Jojo! Sempre tão impaciente! Papai não iria aprovar essa ansiedade. Ele era um homem muito metódico e perspicaz não é mesmo? Lembro-me como se fosse hoje, de uma frase que ele vivia repetindo para você.
“Nunca deixe as emoções te dominarem querida. Elas invariavelmente vão acabar com você.”
- Era assim mesmo não era? Bem, pelo jeito você nunca conseguiu seguir esse conselho. Eu, ao contrário, absorvi cada uma de suas palavras. Passei anos esperando a minha vez de ser o primeiro. Fui humilhado, rejeitado e castigado por aquele idiota pretensioso, mas, fui tolerante.
- Thomas, você sabe que não foi bem assim. Ele só quis transformá-lo em um homem honesto e decente. Mas você nunca escutou!
Ele agora rangia os dentes, e seus olhos faiscavam enquanto falava entre os dentes.
- Eu implorei a ajuda dele! Me humilhei pedindo seu perdão! E o que ele fez? Me pôs na cadeia! Aquele idiota mercenário!
Aproveitando o descontrole emocional de Thomas, ela juntou todas as forças que ainda lhe restavam e pulou em seu pescoço, jogando-o no chão. Ela era consideravelmente mais forte e conseguiu imobilizá-lo enquanto esmagava seu pescoço sem piedade.
- Ainda...quer...ver sua...mãezinha? – Ele conseguiu sussurrar com o pouco ar que lhe entrava nos pulmões.
Aquilo a fez soltá-lo imediatamente como se suas mãos pegassem fogo. Assustada demais para perguntar o que ele havia feito à sua mãe, ela apenas balbuciou.
- Você não teria coragem de...
Esfregando o pescoço ainda com as marcas dos dedos dela, ele falou em voz baixa, com o semblante verdadeiramente cruel e os olhos ardendo em fúria.
- Joana...Agora você realmente conseguiu me irritar!  Você acha que eu não teria coragem? É sua mãe, não minha. Ela sempre me tratou como o verdadeiro bastardo que sou, assim como nosso querido paizinho. Vou lhe dizer apenas uma vez. Eu quero aquele septo de ouro, custe o que custar. Aquele velho morreu sem me dizer onde o escondeu. Ah! Mas acabou por achar o fim que merecia!
-Deus. Foi você não foi? Matou o nosso pai!
- Não me venha com essa choradeira Joana! Aquele septo é meu e ele não quis me devolver! É culpa dele ter morrido daquele jeito! Agora escute bem. Nesse exato momento sua mãezinha deve estar enlouquecida procurando esse septo para salvar você. Meus homens vão vigiar cada passo dela, e tem ordens extremas de fazer o que precisar ser feito. Então, não tente nenhuma gracinha.
As lágrimas brotaram em seus olhos sem convite. Ouviu o baque surdo da porta de ferro trancando-a de volta na escuridão. Jogou seu corpo frouxo sobre o colchão duro e chorou. Seu pai nunca a deixava chorar. Chorar era para os fracos. A última vez que chorou foi sobre o túmulo dele. Mas então, como daquela última vez, deixou que as emoções a dominassem.


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Inocência

Posted by Baltazar Escritor on 6 de agosto de 2012 10:00 in , , ,






O Relicário, o antiquado e monótono museu de cera. Não é horário de visitação, nem ao menos as luzes estão acesas. O vigia não se preocupa se vão levar as estátuas, que levem todas ele pensa. Elas lhe dão medo, um medo impalpável, irremediável, incontrolável. É hora da segunda olhada da noite, ele ainda não liga as luzes, passa correndo, com a lanterna ligada, pelo saguão das exposições. Algumas das obras parecem se mexer quando a luz as toca, ele corre mais rápido e se tranca na sala das câmeras. De lá ele vê tudo, desde Hitler até Napoleão, Michael Jackson, Durante Alighieri, tantos rostos olhando pra ele. Rostos sem vida, tão sem expressão e tão autênticos que parecem estar esperando algum sinal para pularem de seus pedestais  e caminhar pelo museu. Ali, da sala das câmeras, ele já viu isso acontecer, naquela época ele ainda acendia as luzes.
A estátua chamada de "Inocência", que não retratava ninguém conhecido, foi a primeira. Ela estava no porão, com teias de aranha cobrindo seu corpo nu e repleto de poeira, as luzes acesas até mesmo ali, pois foram levados para lá naquela manhã os homuncolos que personificavam Einstein, Cristovão Colombo e Al Capone, personagens não mais atrativos para o público, e os carregadores esqueceram de desligar a luz.
Ele teve que descer até lá apagá-la, as luzes dos corredores estavam acesas, ele não precisou carregar a lanterna no cinto. Ao chegar no porão viu que Einstein tinha recolhido a língua, que antes  antes mostrava descaradamente, mas pensou que fosse imaginação sua, uma peça que o serviço noturno lhe pregava, apagou a luz e subiu novamente até a sala das câmeras. Ao chegar lá reparou que a luz estava acesa no porão novamente, isso só poderia ser brincadeira do outro vigia, um rapaz mais jovem, que tinha dois meses a mais de empresa do que ele, pelo rádio contatou o companheiro.
— Moreira.
— Fala, Robinsom.
— Você acendeu as luzes do porão?
— Não.
— Então vá lá e apague.
— Mas...
— Apague.
— Tudo bem.
Moreira, um garoto estabanado grande e forte como um touro, foi e apagou a luz. A nesga de brilho que partia do corredor só iluminava uma das estátuas agora, uma obra do grande Hourve DeLabri intitulada "Inocência". Robinsom quase caiu da cadeira quando viu a estátua, que antes estava repleta de teias de aranha, se levantar e acender a luz. A mulher nua voltou a sua posição pétrea no chão e poeira e teias de aranha voltaram a cobri-la como mágica.
Moreira voltou ao ver que a luz que tinha apagado se reacendeu, na cinta tinha pendurados apenas a lanterna e uma arma de choque, não fez menção de pegar nenhuma das duas. Ele atribuía o fenômeno a um defeito no interruptor das lâmpadas e apagou a luz pela segunda vez. O rádio no bolso da camisa apitava.
—  O que é agora Robinsom?
—  Saía rápido daí!
—  Hã?
—  Não posso explicar, saia.
—  Me diga pelo menos...
Robinsom viu Inocência se levantar, ela se aproximou de Moreira pelas costas e o abraçou, ele derrubou o rádio no chão e se virou rapidamente, pela câmera conseguiu ver a expressão de idiota do companheiro quando reparou que a mulher estava sem roupa, ele sequer reagiu quando ela o beijou. O rapaz não controlava as mãos e as esfregava indecentemente pelo corpo nu da Inocência. Ela começa a acariciar o rosto parrudo de Moreira, só que a cada toque é como se tirasse um pedaço da cabeça do jovem, como se ele, não ela, fosse feito de cera.
Os pedaços foram caindo pelo chão até que o corpo ficou totalmente sem cabeça e desabou sem vida. Ela se estica, como se estivesse espreguiçando os membros, e acende a luz. As outras estátuas começam a fazer o mesmo, como se despertassem de um sono profundo, elas se reúnem ao redor do que minutos antes era um dos vigias noturnos e devoram o corpo tão avidamente que nem uma gota de sangue sobra no carpete velho do porão.
Elas seguiram pelo corredor e tocavam com a ponta do indicador entre os olhos das outras estátuas, onde brilhava, para apagar em seguida, a imagem de um pentagrama invertido. Elas também começavam a se mover, outras, incluindo a de J. Kennedy, não saim do lugar e não apresentavam o pentagrama. O cortejo de esculturas de cera se dirigiu para as portas, forçando as trancas, a Inocência à frente, como se farejasse o ar, então ela vira o rosto para a câmera no teto do saguão de entrada e ruma para a direção da sala onde Robinsom ainda estava apavorado e sem saber se o que via era real. Ele finalmente se mexeu e começou a empurrar os armários para a frente da porta e a rezar com toda a fé que possuía, depois se escondeu debaixo da mesa, no momento que as estátuas começavam a forçar a porta. Ele ouviu uma voz gélida, profunda e sem vida, como se fosse uma gravação ou o som de um brinquedo de corda.
— Não se esconda, venha pra mim!
Não precisava ver para saber que era ela, a Inocência.
— Venha, me deixe te amar loucamente. Me beije, me faça carinho.
O cheiro de podridão começou a se fazer presente, dando uma força terrível as palavras que vinham do outro lado da porta. Aquela voz era apavorante, maligna e repulsiva.
Até que do nada ela se calou, os sons de mãos arranhando a madeira também pararam. Eram quase quatro da madrugada do dia vinte e dois, solsticio de inverno.
Depois de muita terapia ele volta ao trabalho, já se passaram dois anos e o medo ainda é seu único companheiro, ninguém iria substitui-lo em seu posto, tão pouco ele queria mudar. As sessões de terapia o fizeram perder o interesse pelo cotidiano, mas não o fizeram perder o medo.
Dois anos depois, era solsticio de inverno novamente e ele estava sozinho. Tinha tomado o cuidado de não deixar ligada nenhuma luz, a porta da sala das câmeras tinha sido blindada por sua causa. Foi quando percebeu pela câmera do corredor que alguém caminhava lá dentro com uma lanterna ligada e se dirigia ao porão, iluminando Inocência. O vulto olhou para a câmera posicionando a lanterna embaixo do queixo, como quando as crianças vão contar histórias de terror, e Robinsom o reconheceu das fotos. Ele era Hourve DeLabri, o escultor que abriu o museu. O vigia começou a chorar e a rezar, sabendo ser em vão.
Colocou a cabeça entre os joelhos e começou a recitar o mantra sagrado.
— Não é real! Não é real! Não é real!
A luz da sala se acendeu de repente.
— Claro que é real meu amor. Agora vem pra mim.
Inocência estava de pé, nua e com os braços abertos. Ele enxugou os olhos com o antebraço e se levantou, o cheiro de podridão ali novamente, só que mais intenso.
— Isso querido, vem e me ame, como eu te amo.
Ela o abraça e o beija, arrancando sua cabeça com um movimento rápido.
Robinsom encontra a escuridão.














Espero que tenham gostado. Telma, desafio respondido.

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Batata Quente (2) - parte 4

Posted by Olhos Celestes on 5 de agosto de 2012 10:00 in , ,

Suzane ainda passou um tempo observando a figura da gárgula imóvel, entalhada de pedra a séculos atrás. Desde pequena olhava as gárgulas da janela de sua casa, que ficava a poucas quadras da catedral, desde pequena sonhava com elas, os sonhos mais misteriosos e incríveis que já tivera, mas jamais poderia imaginar que conheceria uma de verdade, e que seria um lindo rapaz humano. Suspirou ao pensar em sua forma humana, era de fato lindo. Mas como podia ser um monstro? Uma gárgula horrenda? Nada fazia sentido.
Sentiu o sol batendo forte em seu rosto, fazendo-a sair de seu transe. De repente percebeu que precisava arranjar um meio de descer daquele telhado, não poderia passar o dia todo ali, sentia-se faminta e assustada, precisava voltar para casa, sem contar que tinha medo de altura. Começou a procurar com os olhos por qualquer coisa que a ajudasse a sair dali, olhou tremula ao redor, com medo de que não encontrasse saída, mas lá estava ela, uma pequena passagem que dava a um corredor interno suspenso, assim como várias que haviam em torno de toda a catedral. Caminhou lentamente até ela, tentando em vão não olhar para baixo, e quando se viu dentro da catedral correu o mais rápido que pode para encontrar a saída.
Suzane só respirou aliviada quando chegou à porta de sua casa, mas ao abri-la arquejou e sentiu seu corpo todo amolecer. O que acontecera ali? Tudo  estava um caos, parece que alguém estivera procurando algo em sua casa enquanto estava fora. Haviam vasos e porta-retratos quebrados, papeis espalhados por todo o chão da casa, vários de seus livros rasgados e pisoteados, comida, roupas, tudo jogado e destruído. Ela caminhou lentamente pela casa, estupefata, aterrorizada. Era muita, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e o pior, o que aquelas criaturas queriam com ela?
Isso a fez parar e pensar. Esqueceu-se até da fome e jogou-se no sofá, por cima de páginas rasgadas de jornal que ali estavam, e ficou em transe lembrando de todos os sonhos que já tivera com essas criaturas, vampiros, gárgulas e outros seres do sobrenatural. Será que ainda estaria sonhando? Não, tinha certeza que não. Chorou. Suzane chorou pela morte de Romeu, chorou pelos seus pais que haviam desaparecido misteriosamente dois anos antes, chorou por todo esse pesadelo que estava vivendo, até que adormeceu.
- Suzane, Suzane? Acorde aimé. – Cristopher passou a mão gentilmente em seu rosto.
Suzane acordou sobressaltada e o encarou, olhou ao redor e percebeu que já era noite. Depois de algum tempo ainda aturdida disse:
- Você me deve respostas.
Cristopher encarou-a, sem saber o que dizer.
- Por que eu? O que querem comigo? Como vocês existem de verdade? – Ela não ia desistir de ter suas respostas.
- Todas as respostas estão em seus sonhos querida, tudo que sonhara desde pequena...

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