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Eu por Eu mesmo - parte 2

Posted by Baltazar Escritor on 17 de outubro de 2011 05:15 in ,



A Ponte da autoconfiança


Depois de andar por algum tempo em total escuridão veio um sentimento estranho que me acompanhou por algum tempo, ele parecia-se comigo, mas era meio bipolar, em algumas horas me estimulava a ir em frente, em outras choramingava que queria voltar, seu nome era Coraticum Fobia e por alguma razão estranha eu o seguia. Em um ponto entre um grande abismo e a continuação da viagem, isso mesmo, o ponto entre eles era uma ponte inacabada que eu nunca tinha visto, ele surtou de vez.
“Vamos voltar, é mais seguro no pensamento consciente! Não, sempre em frente, vamos que o caminho ainda é longo!” Ele se contradisse.
“Está escuro demais pra voltar e não tem como atravessar por uma ponte inacabada.” Respondi.
Comecei então a procurar alguém que pudesse me ajudar, ou pelo menos algo que pudesse me ajudar, perto dali havia uma pequena casa de obras, na frente dela um senhor cansado e com cara de experiente estava sentado em uma cadeira lendo o jornal. Fui interpelá-lo sobre o que havia acontecido que não terminaram a ponte.
“Faltou matéria-prima.” Ele respondeu.
“Madeira? Pedras? Mas ali está cheio!” Disse apontando pra casa de obras.
“Não, não, essa não é uma ponte comum, ela teve de ser construída com um material especial que não é fácil de encontrar.”
“Mas que espécie de abismo é esse que não se pode fazer uma ponte comum?”
“Esse é o abismo da insegurança, não se pode seguir viagem sem passar por ele. Tudo culpa daquele ali,” ele apontou pra Coraticum Fobia, “foi ele que fez o abismo!”
Olhei pro sentimento, ele me olhou com convicção e depois abaixou os olhos receoso. Estava começando a entender o que acontecia quando ele resolveu falar.
“Não é minha culpa, tenho dois lados, um é corajoso, o outro é o maior dos covardes. Quanto mais medo maior fica o abismo.”
“E que material é preciso pra terminar a ponte?” Perguntei para o velho.
“Autoconfiança!” Respondeu ele, o que me pareceu muito autoconfiante da parte dele.
“Droga Coraticum, droga. Agora como eu vou passar?”
O sentimento estremeceu, num momento parecia que ia me xingar, no outro estava com aquele olhar apavorado de novo. Comecei a entendê-lo, eu acho, minha primeira sacada de mestre, assim digamos, foi que se ele estava na minha cabeça era um sentimento meu. A segunda foi que ele tinha uma dualidade, foi aí que que descobri que ele era meu medo e minha coragem, óbvio, um não existia sem o outro. Vi naquele sentimento um reflexo de mim, duas versões da mesma pessoa em um único ser, senti saudades e pensei em Eu unicamente naquele momento.
“Não é minha culpa,” ele repetiu, “não posso evitar que isso aconteça. Enquanto brigo comigo mesmo só gera mais e mais insegurança, quando medo e coragem não se dão só podem gerar insegurança!” Ele parecia se dirigir mais ao velho do que a mim. “E eu sou apenas um sentimento, um sentimento dele e ele devia me controlar melhor!”
Agora o sentimento estava me acusando, isso era loucura demais até pra mim, tentei me defender.
“Olha, não me leve a mal Coraticum...”
“No momento sou Fobia, vamos separar os lados por favor.” Ele me interrompeu.
“Que seja, não me leve a mal, mas só vou conseguir controlar meus sentimentos com o tempo...”
“Não me envolva nessa história!” Desta vez o velho interrompeu.
“Ah, cala essa boca velho! Você não é o tempo nem aqui nem do outro lado do córtex cerebral!”
“Está mais corajoso Fobia?” Ele perguntou ao sentimento que duvidava da sua identidade.
“Acho que sou Coraticum agora.”
“Vamos parar com a palhaçada agora!” Eu me senti no direito de interromper.
“Você que começou!” Ambos me acusaram.
Estava cansado daquele aponta daqui aponta de lá, maldito joguinho de empurra empurra que não ajudava em nada e que começou a me subir nos nervos. Nesse ponto confesso que foi falha minha deixar de avisar que meu cachorrinho, um chiuaua marrom chamado Irritação, dormia em cima dos nervos, um mal hábito concordo. Desperto pela confusão ele começou a dar aqueles latidos irritantes que ecam nos tímpanos.
“Quieto Irritação, quietinho, quem é o bebê fofinho? Quem é?”
Não é preciso dizer que essa bajulação de nada adiantou e ele pulou em cima do velho e do sentimento. O pequeno peste escolheu como primeiro alvo a canela do sentimento.
“Larga, por favor, me larga. Cachorrinho bonzinho, larga pelo amor de Deus!” Ele choramingava.
Ele largou, mas abocanhou a barba do velho que havia caído com a investida do cão e não levantara antes da segunda investida do Irritação, começando uma espécie de cabo de guerra em que o velho tentava erguer a cabeça sem levar pendurado nos pelos do rosto o chiuaua. Eu mereço! Tudo eu, tudo eu.
Enchi os pulmões de ar e falei o mais alto que podia.
“Ordem! Ordem! Irritação, já pra casinha, e vocês dois, isso são modos? Tratem de se recompor, onde já se viu dois marmanjos perdendo pra um cachorrinho?!”
Nesse momento me senti cheio de autoconfiança, transbordando até, foi quando Coraticum Fobia começou a se dissolver e a se incorporar a mim. Aquilo foi bizarro, mas de alguma forma me senti bem. O velho, que dizia ser o tempo, foi pegando os blocos de autoconfiança e colando-os ao resto da ponte, me impressionei com a velocidade que ele fazia aquilo. Assim, em pouco mais de duas horas a ponte estava finalizada, e eu já estava na ultima passada pra atravessá-la quando o velho me parou.
“Deixe-me te dar um aviso,” usou um tom que pra mim parecia muito experiente em convencer as pessoas, “sempre que você se ligar aos seus sentimentos ficará mais humano. Sua mente é insana demais pra suportar, você é insano demais pra suportar, evite sentir que você chegará até o seu objetivo.”
“Você pirou de vez?” Estava mais do que claro que ele não era o tempo nem de longe. Que pensamento mais idiota, cheguei a pensar outro até, que se fosse mais idiota poderia ter sido meu e guardei a nota mental de fechar bem minha mochila pra ninguém roubar meus pensamentos.
“Se não quiser aceitar azar o seu, o conselho eu dei.”
“Isso é só papo furado, aposto que sem sentimento você não passa nem do próximo obstáculo!” Eu estava segurando Irritação pela coleira pra não atacar o velho.
“Acha mesmo?” Ele perguntou. “Pois bem, aposta aceita.”
“Hã?” Viram, isso sim é pensamento idiota, nada mais idiota que um hã? na hora errada.
“Você disse que apostava, eu disse que aceito. Quem chegar até as ideias primeiro vence, se você ganhar te dou tempo o suficiente para trabalhar, estudar e cuidar de uma família, mas se você perder eu fico com todas as suas ideias que escaparam. Então, topa?”
Aí Coraticum aprontou a primeira depois de incorporado a mim.
“Topo!”
O velho disparou na frente com uma saúde de dar inveja a qualquer maratonista.
Agora eu estava numa corrida contra o tempo, literalmente.

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4 comentários:

  1. Fantástico Balta!
    Eu nunca conseguiria colocar sentimentos em uma conotação tão perfeita.
    Quantas partes tem o Eu por Eu mesmo?

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  2. E lá vamos nós, correr atrás do tempo!
    Acho melhor vc chamar o coelho da Alice Etilica da Marcinha, quem sabe ele te dá uma força? rs.

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  3. Obrigado meninas.
    Paty, em quantas partes se divide o Eu? Quantos caminhos diferentes sentimentos de diferentes tipos podem nos levar? Eu e muito menos eu, não sabemos onde isso vai parar, mas estou gostando da história ^^ (apesar dessa segunda parte ter saído muito ao estilo "Autoajuda" do Augusto Cury), mas posso adiantar que vem guerra dos devaneios depois da saga das ideias ^^

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  4. Acho muito interessante a forma como você se auto-analisa e descreve seus pensamentos e sentimentos. Tem um tom de humor bem leve e uma narrativa que nos faz parecer que a estória está ocorrendo dentro da nossa própria cabeça.
    Bom, dados os teus textos, posso dizer que você está ganhando a corrida. :)

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