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Um texto aleatório

Posted by Nanda Cris on 17 de janeiro de 2012 11:57 in ,
Tenho trabalhado nesse texto há dias. Cada dia um pouquinho, nos horários vagos que encontro no trabalho.
Hoje "psicografei" da metade pra lá, de uma tacada só.
O texto foi fluindo e se mostrando pra mim, conforme eu ia escrevendo. Sem começo-meio-fim definido previamente. Apenas fluindo.
Espero que gostem.
É um texto que fala sobre amor, amizade e traição.

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Alforria


Deitada na grama, olhando as nuvens.
Esse era seu jogo favorito. E, o mais importante de tudo, podia jogá-lo em qualquer lugar.
Abriu e fechou os braços, sentindo a grama pinicá-los. O sol aquecia-lhe o corpo todo. Escutou uma movimentação do seu lado direito. Nem chegou a virar a cabeça, apenas olhou de soslaio. Ele estava ali, sem admirar as nuvens, apenas encarando-a. Descaradamente, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Corou e fingiu que nada tinha visto. Seu olhar conseguia aquecê-la mais que o sol.
Suspirou profundamente e concentrou-se numa nuvem em formato de coelho. Quanto era menor, tinha tido um, o Bandit. Adorava-o. Sorriu levemente ao lembrar dos seus olhos vermelhos e do pêlo, tão tão branquinho. Ainda sorria quando sentiu os dedos dele na sua face, percorrendo os contornos do seu rosto. Não havia mais como ignorá-lo. Virou-se, ficando de lado e apoiando a cabeça na mão. Com isso, perderam completamente o contato físico. "Assim é melhor", ela pensou tentando se manter firme. Falou rapidamente, antes que perdesse a coragem:
- Você não deveria estar em outro lugar não?
- Não. Simplesmente não consigo pensar em um lugar melhor para estar do que aqui, perto de você.
Yasmin tentou se manter indiferente, vestir uma máscara de repreensão, mas sua voz saiu um pouco tremida quando falou:
- Você sabe que isso não tem futuro não sabe? Porque insiste?
- Porque te amo.
- Não me venha com essa. - Ela retrucou enquanto se levantava, limpando a grama do vestido - Se me amasse, não estaria com ela.
- Não estou com ela. - Juan respondeu, se levantando também. Eles se encararam.
- Engraçado, não foi o que você falou para o padre. Eu estava lá, lembra? Eu vi, ninguém me contou. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, blá blá blá.
- Você fica ainda mais linda quando está irritada sabia?
Ela olhou para ele e bufou. Deus, ele era um canalha. Um canalha lindo, que ela amava, mas ainda assim, um canalha.
- Sério, volte para a sua esposa e o seu filho.
- Não se você não me ouvir.
- Ouvir o que? Juras de amor? Pelo amor de Deus, Juan. Me esqueça. Nosso tempo já passou. Você tem outra vida agora.
- Uma vida imposta.
- Deveria ter pensado nisso antes de engravidá-la.
- Mas eu não...
- Não? - Ela o interrompeu - Como não? O pai dela pegou vocês 2 na cama! Na sua cama! E depois disso, ela apareceu grávida. Será que o Espírito Santo atacou novamente?
- Não seja irônica, você não é assim.
- Não me venha com lições de moral. Sou o que a vida me tornou. Luto com as armas que tenho. Não vou ficar aqui, com o marido da minha melhor amiga, conversando algo tão sem sentido. - virou-se para se afastar, era melhor sair dali o quanto antes.
Ele segurou seu braço com força e a fez voltar, de encontro ao peito dele. A respiração dela estava acelerada, o coração rufava no peito. Eles apenas se encararam. Ele estava muito sério, ela, assustada.
- Eu não a engravidei. - falou tão baixo que a frase mal passava de um sussurro. Mas ecoou nos ouvidos dela como se tivesse gritado. Ele não parecia mentir. Ela queria acreditar.
- Você sabe que é a sua palavra contra uma série de evidências, não sabe?
- Sei, mas achei que você tivesse mais confiança em mim.
- Eu tinha, mas agora, não tenho mais. Não consigo mais. - ela estava a beira das lágrimas. Queria tanto, tanto que fosse verdade.
Ele pareceu murchar na frente dela. Soltou seu braço e deixou a mão cair, impotente, ao longo do corpo. a cabeça pendeu para frente. Nunca o vira tão arrasado.
- Ok, o tempo mostrará que eu não minto. Nunca menti para você. Não teria porque começar agora.
Ela odiava vê-lo tão deprimido. Sem nem perceber o que estava fazendo, colocou as mãos em volta do rosto dele, levantando-o. Eles se encararam por algum tempo e tudo se perdeu, o que tinha importância não tinha mais. Eram só eles dois, num mundo só deles. Ela se aproximou, colando ainda mais seu corpo no dele. Sentiu os braços fortes a envolvendo. E eles se beijaram, com o desespero de um futuro incerto. O tempo se perdeu e só o que importava era aquele momento. A magia foi quebrada por alguém que se aproximava correndo. Eles se separaram, sem graça, e encararam Brisa que vinha a toda velocidade, como se estivesse sendo perseguida. Parou na frente deles, a mão no coração, a respiração arfante.
- Mana, mamãe mandou avisar que a Bel está tendo o bebê.
O coração dela afundou. Olhou culpada para Juan, que apenas a encarava, abismado.
- Mas o bebê estava previsto para daqui há dois meses! - ele falou, confuso.
- Isso se chama prematuro, Juan. Vamos, vamos logo. Bel está precisando de nós. Ela não podia deixar sua melhor amiga sozinha numa hora dessas, independente do que sentisse pelo seu marido.
Correram até a casa onde Juan estava morando com Isabel. Da rua já era possível ouvir seus gritos. Entraram correndo e encontraram Dona Nene, a parteira, fazendo o seu trabalho, enquando Bel se contorcia de dor. Brisa puxou Juan para a sala, ele parecia muito abalado com aquela cena. Yasmin aproximou-se cautelosa de Bel. Não sabia bem como proceder. Segurou sua mão e sussurrou infinitas vezes "tudo vai dar certo", até que o bebê nasceu. Seu choro ecoava pelo quarto. Era um lindo, forte e negro bebê. Yasmin olhava fixamente a criança, enquanto Dona Nene colocava-o no colo de Bel que apenas chorava e chorava.
- Mas, ele é negro... - Yasmin deixou escapar em meio à confusão - ... e você e o Juan são brancos... como pode?
- Yasmin, eu posso explicar - Bel começou a falar, ainda embalando o bebê - espero que você não fique chateada comigo. Eu armei para o Juan, porque o pai de verdade disse que não iria assumir. E eu precisava de alguém para consertar a burrada que eu fiz.
- Mas tinha que ser com o cara que eu gostava?
- Era o que eu tinha a mão. Achei que a nossa amizade seria mais importante que um amor de adolescência.
- Amor de adolescência? Sério? Eu o amo desde que me entendo por gente. Nosso futuro estava todo traçado e você veio, como sempre, e destruiu tudo. Tudo. O mundo sempre gira em volta de você. Nada para Yasmin, tudo para Isabel.
- Yasmin, achei que você fosse minha amiga...
- Amiga? Amiga? O que você entende sobre amizade? Nada, porcaria nenhuma. O que você acha que é amizade é ter um bando de escravos, sempre dispostos a te agradar à sua volta. E quem não te agrada, você descarta, não sem antes acabar com a vida da pessoa. Como você fez com a Beatriz. Lembra da Bia?
- Não quero falar sobre a Bia.
- Não, é claro que não quer. Colocar aquela garrafa de vodka no armário dela foi golpe baixo.
- Você não pode provar.
- E precisa? Eu sei. E agora eu vejo como você é de verdade. E sinceramente? Nossa amizade que sempre foi unilateral está oficialmente finalizada. - virando-se, começou a sair do quarto, mas resolveu voltar e dar o tiro de misericórdia - vou lá fora falar com o seu ex e meu futuro marido. Espero que a sua vida seja plena de solidão e tristeza, porque a gente colhe o que planta. Tenha um bom dia.
E saiu do quarto, sentindo-se leve como não se sentia há anos.

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2 comentários:

  1. Adorei Nanda! Acho que vc psicografou mesmo.
    Um texto simples e carregado de emoção, daqueles que a gente não consegue parar de ler.
    Espero que vc continue psicografando.rsrsrs
    bjs.

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  2. Muito bom. Lembrei até de uma certa "amiga" nossa.

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