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Resposta Desafio da Paty

Posted by Olhos Celestes on 12 de abril de 2012 10:18 in

Tudo começou sem nenhuma explicação, eu estava caminhando totalmente sem rumo numa floresta sombria, tudo sempre começava assim, eu sabia. Eu conhecia aquela floresta, sentia que conhecia, mas ainda assim não conseguia saber para onde ir, me sentia totalmente desnorteada, como sempre, eu sabia...

Quando se está perdido a mais tempo do que pensava que poderia ficar o desespero começa a tomar conta de nós de uma forma impossível de ser controlada. Aquela sensação de saber que conhece o lugar, de ter certeza que já esteve ali várias vezes e ainda assim não ter ideia de que direção seguir era aterrorizante! Sempre foi, na verdade... Porque? Por que eu sentia tanto que conhecia aquele lugar melhor do que qualquer um? E porque não me lembrava?

Olhei de volta ao redor, droga, aquelas duas árvores mais grossas, eu já passei por aqui hoje, não? O coração ficou apertado, os olhos arderam, eu tinha vontade de chorar, como se o choro talvez me levasse de volta a algum lugar mais... seguro. Sabia que não adiantaria, lágrimas não são mágicas, não nessa situação em que não se tem ninguém para dividi-las. Fiquei ali, parada entre as duas árvores, por mais alguns minutos, me concentrando em engolir o choro para continuar minha caminhada.

Era uma caminhada que nunca me cansava na verdade, não meu corpo pelo menos, já a mente, essa sim ficava sempre exausta. Recobrei a coragem e levantei a cabeça determinada a encontrar a saída daquele labirinto de árvores, olhei ao redor, tudo exatamente igual... mas não, espere, tudo estava diferente ao mesmo tempo, parecia igual pois eu sentia que já conhecia cada árvore, cada folha daquela floresta, mas agora percebi que eu não estava mais no meio das duas árvores grossas, estava em um lugar totalmente diferente de onde eu havia parado para não chorar, como sempre acontecia...

Como sempre? Ora, porque essa sensação de conhecer tão bem aquela floresta não saía da minha cabeça?! Isso estava me deixando a cada segundo mais nervosa e então entendi o que acontecia, eu caminhava para sair dali, mas nunca conseguia por que a floresta também caminhava, ela se movia tanto quanto eu. Em desespero comecei a correr, com o intuito de ser mais rápida do que a floresta e conseguir sair dela, quanto mais eu corria mais as imagens ficavam disformes, como se a floresta corresse ao contrário de mim, passando muito rápido ao meu lado, ao meu redor, e eu corria cada vez mais rápido também, até que tudo ficou branco e eu concluí que finalmente havia saído da floresta, então parei, mas a floresta também parou exatamente ali, ao meu redor.

Ow isso era tão injusto! Não contive as lágrimas dessa vez, perdida no meio daquela floresta deserta, sem vida alguma a não ser aquelas árvores medonhas que pareciam zombar de mim. Comecei a gritar, mas os gritos se perdiam naquele silêncio assustador, não tinham eco, não tinham resposta, e os poucos comecei a me perguntar se tinham mesmo gritos pois eu mesma já não os ouvia. Mais desespero, quando esse pesadelo iria acabar?


Era isso! Ora, que desatenta que eu fui, é claro que eu conhecia aquela floresta! Finalmente o desespero começou a se dissipar e uma vontade enorme de rir de mim mesma começou a surgir, como fui desatenta, ah, como fui... finalmente caí na gargalhada.

Aquela floresta era, nada mais, do que o caminho que levava para o lugar mais maravilhoso que existe, e tivera sido assim desde o primeiro dia que entrei lá, eu sempre me perdia, sempre me sentia confusa, sempre sabia que conhecia tudo aquilo e não sabia de nada ao mesmo tempo. Às vezes ficava muito tempo perdida, às vezes me lembrava rápido do que devia fazer, mas sempre eu terminava rindo e rindo de mim mesma. Há anos que eu tinha aquele sonho, há anos que eu visitava aquele lugar, e era muito querida por lá inclusive.

Muitos conseguiam chegar na floresta, mas era um teste para só quem realmente merecesse, só quem soubesse a chave atravessaria o portal. Ainda rindo de mim e agora sabendo exatamente o que fazer eu fechei os olhos, uma alegria imensa tomando meu coração, e puxei do fundo da minha mente os pensamentos que eram a chave para entrar naquele mundo, e quando abri os olhos lá estava eu novamente naquele lugar incrível onde eu passava todas as noites enquanto meu corpo descansava: O País das Maravilhas

E lá estava aquele gato risonho, ria de tudo, mas geralmente ria de mim, e com um sorriso quase de deboche ele me disse:
- Demorou para lembrar do caminho dessa vez, achei que não viria mais.

E caímos os dois na gargalhada, pois sabíamos que isso era impossível.

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3 comentários:

  1. Muito bom Olhos!
    É ótimo ler um de seus textos novamente.
    Brigadão. =]

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  2. Ótimo texto Olhos.
    Um dia, eu lerei a história original da Alice. Tudo o que eu conheço é de desenhos, filmes, contos e adaptações.

    Seja bem vinda de volta. :)

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  3. Ano passado o Balta me deu Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho (este livrinho amarelinho de capa dura lindo http://2.bp.blogspot.com/-NGLLtyeSzBM/Tf0NQvWghLI/AAAAAAAAAJ8/wrKcf2fgTcU/s1600/Alice+1.jpeg ) e foi um dos melhores presentes q já ganhei, também só conhecia até então as adaptações infantis e AMEEI o livro, foi uma experiencia unica pra mim ler ele :D

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