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Desafio da Semana das Crianças

Posted by Kbeça on 27 de outubro de 2012 08:00 in , ,
Eu entre 3 e 4 anos.

Em algum lugar eu li uma frase muito interessante que era "só se descobre o quanto somos fortes, quando a nossa única opção é ser forte". E é sobre isso que se trata a minha lembrança.

Quando eu era pequeno, por volta dos seis anos de idade, minha mãe fazia fisioterapia nas mãos, pois tinha operado o Túnel do Carpo. Para irmos da nossa casa até o hospital viajávamos vinte quilômetros.

Por eu ser muito pequeno, minha mãe entrava pela porta de trás do ônibus, onde tinha a roleta e o cobrador, e eu entrava pela porta da frente. O ônibus que pegávamos, tanto na ida, quanto na volta, era o 474. Ele era verde e branco com detalhes laranja.

Pois bem. Um dia, como todos os outros, fomos para o hospital e na volta fazia muito calor e o sol estava forte. Eu já estava mais que cansado de ficar em pé no sol esperando pelo ônibus e devia estar reclamando muito disso. No que minha mãe grita:
- É ele! Vamos! - E ela correu para a parte de trás do ônibus;

Eu olhei para cima e vi um ônibus vermelho e branco de número 435. Como minha mãe já tinha corrido eu ainda gritei:
- É esse?
- É! Anda!

E entrei pela porta da frente, me sentei e fiquei esperando por ela passar pela roleta. O problema foi: ela não passou E (maiúsculo mesmo) o ônibus começou a andar.

Não me recordo se comecei a gritar "Mãe!", ou "Cadê a minha mãe?", mas um casal de velhinhos me agarrou pelo braço e me mandou ficar "sentadinho e quietinho". Eu ainda expliquei que tinha perdido a minha mãe, mas eles insistiam. O medo foi crescendo e uma voz na minha cabeça me mandava fugir dali. Sendo assim, na primeira parada que o ônibus deu, eu saí correndo para a rua e, depois de estar fora, no sentido contrário que o ônibus trafegou. Não precisei ir muito longe para me afastar do mesmo, porque ele começou a andar no instante que eu desci.

Me vi sozinho num lugar estranho para mim. Olhei a minha volta e vi umas crianças de rua e comecei a pensar que, em breve, eu seria mais uma. Óbvio, eu comecei a chorar. Imaginei nunca mais ver a minha mãe, nunca mais ver meu pai, meus avós, meus amigos... E mais uma vez a voz na minha cabeça falou. Mas, desta vez, ela pedia calma e mandava voltar.

Olhei para rua e vi um túnel. Eu lembrava que o ônibus havia passado por dois túneis depois que saiu da porta do hospital. Comecei a andar na direção dele. Passei o primeiro e continuei andando.

Encontrei um gari lendo uma revista na rua e fui pedir informações da localização do hospital.

Quando me aproximei ele levou um tremendo susto. Motivo: ele estava "lendo" a Playboy.

Perguntei como chegar no hospital e ele me indicou, mas dizendo que era muito longe para ir à pé era perigoso para uma criança do meu tamanho. Eu agradeci e comecei a andar. Depois de um tempo, atravessei o segundo túnel. Andei mais um pouco e... Voilá! Cheguei no ponto que tinha partido.

Procurei pela minha mãe, mas nada. Deduzi que ela tinha ido para casa. Então decidi ir também e encontrar com ela lá. Esperei pelo 474. Fiz sinal (naquela época eles paravam). Perguntei ao motorista se era 474, se ia para o meu bairro e, depois de confirmar, entrei.

Daqui para frente eu só lembro de flashes: cheguei em casa e perguntei para minha avó onde estava a minha mãe e ela falou que tinha ido me procurar. Pedi para ela avisar a minha mãe, quando chegasse, que eu estava em casa e fui brincar na rua.

Depois de um tempo, voltei para casa e no momento que estava voltando, minha mãe estava entrando com uma vizinha chorando e falando alto que tinha perdido o filho.

Eu fui andando atrás delas falando "mãe!", mas ela estava se lamentando tão alto que não me ouvia. E a vizinha, dona Marlene, ia dizendo "Calma, calma. Ele vai aparecer!". Depois de as seguir por um tempo, chegamos a porta da minha casa e quando a minha mãe se virou para se despedir da dona Marlene, é que ela percebeu que eu estava ali.

"MEU FILHO!!!" foi o que ela gritou. Por eu estar todo sujo, ela achou que eu passei os piores momentos da minha vida. Me abraçava, me beijava, chorava, ria, agradecia à Deus e perguntava se estava tudo bem.

Quando todos se acalmaram eu contei a história toda e ela ficou aliviada. Depois ficaram impressionados. E a partir daquele dia, eu ia e voltava da escola sozinho. :)

Bom é isso. Tenho outras lembranças, mas essa é a mais forte, e mais longa que eu me lembro. Daquele dia em diante eu aprendi a sempre perguntar as coisas, e prestar atenção no caminho. Hoje eu tenho um ótimo senso de direção, mas não deixo de pedir informações.

"Só se descobre o quanto somos fortes, quando a nossa única opção é ser forte".


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3 comentários:

  1. Essa história é show e como sempre Kbeça muito malandrinho.
    E o que é essa foto, minha gente? Carinha de sapeca.

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  2. Que menino esperto!
    Fez tudo direitinho tal qual um adulto teria feito (tbm com essa carinha de sapeca! rsrsrsrs)
    Sua história é muito bacana Kbeça...adorei! Senso de direção é uma coisa que não tenho até hoje! kkkkk

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  3. Me lembrou a vez que me perdi da minha mãe no litoral

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