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Desafio de finados (um pouco atrasado também) by Nanda Cris

Posted by Nanda Cris on 9 de dezembro de 2012 22:47 in , ,

Espreguiçou-se. Nunca iria se acostumar ao tamanho daquele caixão. Sentiu as vértebras estalarem. Os tecidos corporais se regenerando, as fibras das roupas se entrelaçando novamente. O cabelo ganhando novo viço. Tentou suspirar, mas o ar lhe escapou entre a terceira e a quarta vértebra. Ops, os pulmões ainda não tinham terminado o serviço. Precisava ter paciência e esperar toda a decomposição às avessas finalizar por si só. A pressa só tornava o processo dolorosamente lento. Mordiscou o dedão recém regenerado, assim como fazia quando era viva. Logo repreendeu-se. Não queria estragar suas belas unhas.  
Batucou na tampa do caixão enquanto sentia a transformação ocorrendo na mão. Espantoso.
- Acho que nunca vou me acostumar com isso. - pensou, já que ainda não tinha língua para falar.
Depois de mais um tempo, parou de sentir o formigamento peculiar da reconstituição corporal. Agora não precisaria esperar muito mais. Romeu era pontual como um relógio suiço. E, como era de se esperar, ele não tardou em levantar a tampa do seu caixão. E lá estava ele, em todo o seu esplendor de beleza, nem parecia que estava... bem... morto.
Estendeu a mão e ele a tomou, puxando-a para fora da cova e para os seus braços.
- Julieta, estais bela como sempre. - e, dizendo isso, provou-lhe os lábios viçosos como eram quando ambos estavam vivos.
- Romeu, é uma tortura ficar longe de ti um ano inteiro, meu amor.
- Minha bela amada, temos que agradecer por este dia de Finados que nos permite reviver nosso amor. São apenas vinte e quatro horas, mas são as horas mais felizes de todos esses anos sepultado. Por você, passo pela tortura da decomposição vezes sem fim, só para me regenerar e re-encontrá-la, como se nunca tivéssemos nos separados.
- Sim, Romeu, faço minhas palavras as suas. E agora, minha vida, vamos nos amar pois o tempo é curto e a saudade é imensa.
E, sem mais, saíram andando, procurando um mausoléu relativamente confortável onde poderiam se aninhar e celebrar o grande amor que os unia e os fazia voltar sempre para os braços um do outro, vezes e vezes sem fim.


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2 comentários:

  1. Necrofilia, quando os dois estão mortos, é crime?
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    Eu curti. Por esta eu não esperava. Muito bom.

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  2. Eu também não esperava! Muito criativo Nanda! Eu nunca pensaria numa estória assim. Adorei!

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