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Eu por Eu mesmo - parte 1

Posted by Baltazar Escritor on 1 de outubro de 2011 06:59 in

A fuga das ideias

Eu sou uma pessoa estranha, imagino, ou pelo menos excêntrica. O que há pra saber é que eu organizo meus pensamentos em caixas, ou organizava, de uns tempos pra cá comecei a guardar tudo em armários de arquivo, fica bem mais fácil achar as coisas quando se precisa. Pensei em ter um computador, mas ele ocupa muito pouco espaço, dá uma sensação de vazio e o que minha mente menos precisa é vazio, isso ela tem de sobra.
O problema em si começou quando fui abrir a caixa das ideias pra organizar em arquivos e as danadinhas escaparam, passei horas tentando convence-las a voltar, mas ideias tendem a ser temperamentais e não quiseram me ouvir. Tivemos então, eu e Eu, que sair caçando uma por uma com uma rede de borboletas. Desculpe, me deixe explicar, eu divido minha mente com Eu, meu álter ego diga-se de passagem, na verdade somos dois lados iguais de moedas diferentes, mas procuramos nos entender para administrar minha vida, resumindo, Eu sou eu. Bem, voltando ao assunto, estávamos naquela de tentar pegar as ideias com a rede quando eu percebi que a maioria foi pra fora, para o espaço em que eu não havia construído nada dentro da minha cabeça.
Estava prestes a segui-las quando Eu apareceu.
“Conseguiu pegar alguma?” Eu perguntou.
“Duas, a maioria escapou. E você?” Respondi, com uma cara que poderia ser tanto de tédio quanto de fadiga.
“Nenhuma.”
Nos olhamos, ainda é meio difícil conversar comigo, não faz muito tempo eu soltei Eu de um lugar em que ficou preso por alguns anos, onde eu mesmo o prendi. Então dá pra imaginar como estou me sentindo comigo, ainda não confio em mim pra quase nada.
Meio frustrados resolvemos voltar pra área de observação, que usamos pra enxergar o mundo fora da cabeça, Eu continuava distraído com a visão mais bela do mundo, a nossa namorada, mas eu vi com o canto do olho, lá fora de mim, da minha cabeça, várias ideias passeando. Com muita força de vontade desviei o olhar da encarnação da beleza e foquei nas ideias. Algumas delas eu reconheci como minhas, outras eu nunca tinha visto. Resolvi me preparar para ir atrás delas, então segui pra estante central, onde estavam as caixas que eu precisava e algumas coisas que já tinha arquivado de manhã, deixando Eu babando na área de observação.
Peguei uma corda na caixa de Serviços, que eu me lembrava de ter usado uma igual pra içar um armário, peguei umas barras de cereal no arquivo Cheiros e Sabores e uma lanterna na caixa de Cacarecos inúteis, Eu disse certa vez que uma lanterna não adiantaria na minha cabeça, mas eu achei que seria útil então guardei. Só faltava pegar uma porção de nada na caixa do Nada, nunca se sabe quando se vai precisar de nada, é bom sempre ter uma porção no bolso.
Respirei fundo e saí de fininho, tentando ao máximo não chamar minha atenção na área de observação, fechei a porta com cuidado e em poucos instantes eu já estava andando pela parte não construída da minha mente, fora dos meus pensamentos. A partir daí era só um horizonte desconhecido.


fonte: PlenaLoucura

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5 comentários:

  1. Eu já tinha comentado lá no plena loucura, mas volto a colocar aqui: gosto do seu tipo de texto: "levar um pouco de nada, porque nunca se sabe quando vamos precisar de nada" é uma idéia genial!

    =]

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  2. Nossa, Baltazar, isso foi realmente interessante! Longe de ficar confuso, como poderia facilmente ficar um texto complexo como esse, toda a sua idéia ficou bem clara. Boa sorte pra vc e vc, boa parte das pessoas passa a vida toda procurando esse outro eu, vc pelo menos já viu sua face! Show o texto!

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  3. Deleitei-me com esse texto! Alguns diriam que é pura loucura de um escritor, mas eu diria que é a razão vindo à tona, afinal são poucos que conseguem discernir as várias faces do Eu.

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  4. Hehe, obrigado povo, com a fuga das idéias eu fiquei sem saber o que escrever e então resolvi que começaria com a fuga ^^
    Não foi inesperado nem original, mas foi o que consegui.

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  5. Muito show Balta.
    Muito interessante essa sua visão do seu alter-ego.
    As tuas ideias estão muito rebeldes ultimamente.

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