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Nem tudo é o que parece - Desafio das 5 frases

Posted by Nanda Cris on 12 de outubro de 2011 19:24 in ,
As frases que a minha amiga Paty me deu:

1- ping...ping...ping...aquele som repetitivo retumbava dentro de sua cabeça
2- Seu tempo já se esgotou
3- Ele nunca será capaz de me amar
4- O teto desabaria a qualquer momento
5- Por onde andou?


E aqui está o texto, espero que gostem!



Revirou-se na cama mais uma vez. Ping...ping...ping...aquele som repetitivo retumbava dentro de sua cabeça. Definitivamente ela precisava arrumar um encanador. Quem fazia esse tipo de conserto era Roberto, mas ele tinha ido embora. Olhou o relógio, 2 da manhã. Definitivamente não era o melhor horário para pensar nele. Ia perder o sono.
Virou-se de barriga para cima. O teto desabaria a qualquer momento graças aquela infiltração que o vizinho de cima insistia em dizer que não provinha do apartamento dele. Antes de partir Roberto havia dado um ultimato à ele: ou fazia o conserto ou ele entraria na justiça. Mas agora Roberto não estava mais ali e o vizinho nada havia feito. Precisava se concentrar. 1 carneirinho, 2 carneirinhos...
Já tinha passado de 100 carneirinhos e nada do sono vir.
Encaminhou-se para a cozinha. Sua mãe sempre dizia que tomando um copo de leite quente não havia insônia que resistisse muito tempo. Lembrou-se de quando fazia uma xícara de chocolate quente para Roberto, antes de dormir. Colocava achocolatado, porque ele odiava leite puro. Roberto denovo.
"Preciso parar de pensar nele. Tenho certeza que ele nunca será capaz de me amar como eu mereço ser amada." - pensou ela.
Começou a preparar sua bebida. Estava se esticando toda para pegar o açucareiro quando a campainha tocou. Quase morreu de susto. Foi até a porta, observou pelo olho mágico e foi então que o viu. Como se seus pensamentos o tivessem chamado, ele estava ali, batendo à sua porta. Começou a tremer. Seu primeiro pensamento foi fingir que não havia ninguém em casa. Encostou-se na porta e esperou. Ele com certeza iria embora. Ouviu a campainha novamente. Caminhou a passos rápidos para o banheiro. Olhou-se no espelho. Os cabelos desgrenhados, as olheiras profundas, a camisola amassada. Passou um pente pelos fios desalinhados. Voltou pé ante pé até a porta, enquanto esticava nervosamente a camisola para desfazer os amassados. Maldita camisola de linho. Ao aproximar-se da porta, ouviu-o falando:
- Mônica, sei que você está aí. O porteiro me confirmou. Por favor, abra a porta, temos muito o que conversar.
Com as mãos tremendo, entreabriu a porta, usando-a como um escudo. Tentou manter o semblante neutro enquanto falava:
- Você tem 5 minutos para me explicar três coisas: porque partiu?, por onde andou? e porque voltou? Seja rápido, são 2 da manhã, pelo amor de Deus.
- Você nem ao menos sentiu saudades? - ele parecia realmente magoado. Mas depois de 4 meses sem notícias, o que ele esperava?
- Saudades? Você está de brincadeira, né? Some por meses e agora volta, como se nada tivesse acontecido? Você é louco ou o que?
- Sou, sou completamente louco por você...
Ela cortou-o, aquilo era demais.
- Acho bom você bolar uma desculpa rápida, seu tempo está acabando.
- Primeiro eu preciso que você se acalme para entender tudo o que eu tenho a dizer. Se sumi esses meses todos, não foi porque quis.
- É mesmo?
- Olha, ironia não vai ajudar numa hora dessas. Preciso que você me escute com o coração aberto, porque nem eu acredito direito no que me aconteceu.
- Ok, Roberto, para você estar enrolando tanto é porque nem se deu ao trabalho de bolar uma boa desculpa antes de aparecer aqui. Seu tempo já se esgotou, passe bem. - e começou a fechar a porta, mas ele a prendeu. Forçou-a e entrou. Mônica ficou parada, dividida entre gritar e esperar. A curiosidade venceu. Cruzou os braços e aguardou o que ele tinha para dizer.
- Vou contar tudo rápido e você decide se eu mereço um voto de confiança ou não. Se você não me quiser mais na sua vida, assim será. - sem esperar resposta, continuou de um fôlego só - Lembra aquela manhã que eu fui falar com o Ernesto sobre o vazamento no nosso apartamento? Ele não gostou nada do meu ultimato e disse que eu iria me arrepender. Obviamente não acreditei, o que ele poderia fazer? Mas eu estava muito enganado. Mais tarde, quando estava indo pro futebol, ele me nocauteou com uma chave inglesa quando eu disse que iria mesmo processá-lo, caso ele não tomasse uma atitude. Apaguei na mesma hora e acordei 2 meses depois em um hospital como indigente. Estive em coma por todo esse tempo. Quando eu finalmente acordei, estava desmemoriado. Passei os dois meses seguintes fazendo fisioterapia e tentando me lembrar. Olhava sua foto que a enfermeira achou na minha carteira e tinha certeza de que precisava me lembrar de você. Quando finalmente me lembrei, tudo voltou numa onda só e eu não podia mais ficar longe um minuto sequer. Meus músculos já estavam recuperados, o hospital não poderia me prender mais. Me liberaram hoje por volta das 17h. Como eu não tinha um centavo, tive que vir andando do hospital até aqui. Vim o mais rápido que pude. Você é o grande amor da minha vida, como você achou que eu iria te abandonar por livre e espontânea vontade?
Mônica estava boquiaberta. As roupas que Roberto vestia eram exatamente as mesmas do dia que ele partiu. O colarinho estava com uma mancha escura, como se fosse sangue. Sua barba e cabelos estavam enormes e ele sempre os mantinha aparados. Não havia prestado atenção nisso tudo antes porque estava tentando se manter indiferente a ele, não queria reparar em nada nele. Mas agora sentiu suas defesas se abaixando. Lembrou como Ernesto perguntava toda semana se ela tinha alguma novidade sobre Roberto. Todas as peças se encaixavam. Começou a chorar. Chorar por aqueles quatro meses de angústia, de sofrimento, de auto-piedade. E por Roberto, que foi uma vítima assim como ela.
Ele abraçou-a e ela se deixou embalar, enquanto ele beijava seus cabelos. Sua cabeça estava a mil. Murmurou:
- Perdão.
- Perdão pelo que, meu amor?
- Por achar que você era um canalha.
- Não há o que perdoar, você não tinha como imaginar. Nesse tempo caminhando para cá, fiquei me colocando na sua situação e, se fosse eu, nem teria aberto a porta, para início de conversa.
Ela começou a rir, esse era o Roberto, sempre fazendo piada de tudo. Beijou-o, totalmente concentrada no presente. As decisões eles poderiam deixar para o amanhecer.

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4 comentários:

  1. Muito bom Nanda. Gostei mesmo, só não achei que vizinhos pudessem ser tão sinistros (fiquei com medo agora, nosso vizinho é grosso que nem um animal). Encaixou as frases muito bem, fez até parecer fácil.

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  2. Muito bom Nanda.
    Coitado do Roberto. E cuidado com o Ernesto. ;)

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  3. Muuuuuito show, adorei! E, cá entre nós, vc tem um bocado de habilidade para encaixar as frases na história. Espero que eles sejam felizes para sempre.... em outro apartamento! kkkkk, nesse nada funciona, da torneira ao teto prestes a desabar, rss... sem contar a vizinhança! Concordo coma Paty - medooo!
    Genial mesmo, Nanda, e muito bem conduzido.
    Beijos

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  4. Hahaha. Me inspirei naquele filme: "Dormindo com o inimigo". Se a mulher não conseguiu escolher o marido, que dirá os vizinhos! kkkkk.
    Afinal, minha gente, o psicopata tem que morar em algum lugar, não é não? kkkk.

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