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Resposta ao desafio das cinco frases da Paty

Posted by Marcinha on 13 de outubro de 2011 14:38 in ,

Olá, companheiros retalhenses!
Venho publicar a resposta ao meu desafio e agradecer: obrigada, Paty! Queria viajar nesse texto, e sua taça de champagne me abriu as portas do surreal!
Quando concebi essa história, num sopro só, ri muito, sozinha. E me diverti um bocado enquanto a escrevia e revisava. Espero que vocês a leiam com o mesmo bom humor!



As frases:
1- Ela simplesmente adormeceu.
2- Sua cabeça girava enquanto sorvia mais uma taça de champagne
3- O buraco era muito profundo, parecia uma cova
4- Quer mais um beijo?
5- Santa Mãe de Deus!


Surreal
(ou "Alice Etílica")


Alice caminhou apoiando-se nas mesas à sua volta, enquanto suas passadas teimavam, tentando tomar direções diferentes daquela que a levaria até sua mesa. Desabou na cadeira assim que chegou ao seu destino, esticando sobre o banco ao lado as pernas moles feito gelatina. Ficou um bom momento embevecida olhando as meias 7/8 listradas em preto e branco sobre as pernas esticadas. Os sapatos negros com salto plataforma também pareciam mais belos sob o efeito do álcool. A enorme fivela cromada parecia deslumbrante.

Levantou a mão para o garçom, e olhou seu reflexo na parede espelhada. Ajeitou o cabelo negro, e passou a mão pelo vestido curto com a saia de tule armada. As mangas curtas e bufantes a faziam lembrar uma das princesas Disney. O detalhe inusitado vinha da cor, era totalmente preto e combinava com a maquiagem, também negra. Riu de si mesma ao pensar que, naquela noite, estava mais para Mortícia Addams do que pra qualquer uma das princesas Disney.

O garçom se aproximou finalmente, trazendo uma bandeja repleta de bebidas. Alice escolheu a sua, e a virou de uma só vez. Sua cabeça girava enquanto sorvia mais uma taça de champagne. Olhou a volta, vendo os outros jovens vestidos de preto, dançando romanticamente ao som de My Immortal. Recostou a cabeça no encosto da cadeira, enquanto admirava o jogo de luzes que rodopiava no teto. No momento seguinte não havia mais teto, tudo se tornou difuso, numa sinfonia de sons que pareciam vir de muito longe. Ela simplesmente adormeceu.

Quando abriu os olhos novamente se viu em um bosque recostada em uma árvore. Não teria ficado tão espantada não fosse o fato de que, no tronco da árvore, havia uma porta de madeira entalhada. Alice não resistiu ao impulso e levou a mão à maçaneta polida. Girou-a com facilidade e a porta se abriu para dentro, revelando uma abertura no interior da árvore, à altura do solo. O buraco era muito profundo, parecia uma cova. E havia uma escada apoiada na borda, que descia para aquela escuridão fúnebre e se perdia de vista. Respirou fundo, tentando resistir a um segundo impulso: descer. Bufou baixinho, e começou a fechar a porta para ir embora. Mas, antes que a porta se fechasse totalmente, Alice a escancarou de uma só vez e se atirou na borda do buraco, agarrando-se à escada. Iniciou a descida, desaparecendo na escuridão.

Tateou com os pés o final de escada e ficou imóvel, de pé naquele breu, piscando várias vezes na tentativa de enxergar algo. Então ela ouvindo um som baixo, como um fósforo sendo riscado, e uma tímida luz bruxuleante se acendeu ao longe, iluminando uma porta. Alice não teve dúvidas sobre o que deveria fazer, e se pôs a caminhar em direção à luz.

Quando atravessou a porta parcamente iluminada, dezenas de outras velas se acenderam ao mesmo tempo, iluminado todo o recinto, como se fosse a luz do dia. Alice encarou os ocupantes daquele quarto de olhos arregalados, e levou as mãos à boca como se esperasse abafar as palavras que lhe escapavam.

- Santa Mãe de Deus! - ela fez uma pausa, e tentou tornar a voz um pouco mais natural - Me desculpem... Eu... Eu já estou indo...

- Ora, ora, ora... Mas, você acabou de chegar! - retorquiu o ocupante da cama, com sua voz lenta e melodiosa. - Esperávamos por você.

Alice ficou estática por um longo momento, encarando boquiaberta o enorme gato a sua frente. Era imenso, do tamanho de um ser humano, e exibia um enorme sorriso que lhe preenchia a face larga de um lado ao outro. Seu pelo de aparência fofa era inteiramente listrado, e mostrava o quanto era volumoso ao esconder parcialmente as voltas das cordas que lhe prendiam as mãos e os pés. Ele estava amarrado à cama, como se estivesse atado a uma roda medieval de tortura, vestindo apenas uma peça de couro preto. Continuava sorrindo, e Alice se perguntou se algo teria o poder de fazer aquele sorriso desaparecer de seu rosto.

- Não seja tímida, querida. - disse o senhor que estava de pé ao lado da cama. - O seu presente a aguarda, como sempre.

Alice desviou então os olhos do gato, para encarar o homem. Era um velhote baixinho, com cabelos brancos em desalinho, que se espalhavam arrepiadamente sob a aba do chapéu alto e exagerado, que lembrava uma cartola. Vestia calça e botas de couro negro, com várias fivelas, que o faziam parecer ainda menor. A volta do pescoço havia uma echarpe peluda e cor de rosa, que lhe caía pelos ombros, cobrindo parcialmente o tronco. Segurava um chicotinho preto em uma das mãos e um bule de chá na outra.

- Seu presente! - disse o gato, tateando com a cauda algo que parecia estar perdido embaixo da cama - Rosa desta vez, como você pediu. - e dito isso, levantou a cauda, que segurava o citado presente: eram algemas rosadas e peludas como a echarpe do velhote.

- Ah... - foi tudo que Alice conseguiu dizer enquanto dava o primeiro passo para trás - Eu... Eu realmente preciso ir...

- Porque tão cedo? Sabe que a festa nunca começa realmente sem você, doçura. - disse o gato, com sua voz musical, sem nunca perder o sorriso.

- Não vá embora, querida. Faremos tudo para agradá-la. - insistiu o velhote - O que mais quer? Hum... Já sei o que quer de mim! O de sempre, não é, danadinha? Quer mais um beijo? Não é isso?

- Nem pensar!!! - o grito irrompeu dos lábios de Alice, sem que ela pudesse se conter.

- É tarde! - exclamou uma voz que vinha da porta - É tarde, é tarde, é tarde!

Tudo aconteceu extremamente rápido. Um coelho branco gigantesco entrou correndo pela porta do quarto, sem parar de gritar que era tarde. Segurava um enorme relógio de corrente em uma das mãos e com a outra mão agarrou o pulso de Alice, correndo com ela porta afora, levando-a velozmente pelo corredor escuro, rumo à escada para a saída.

Naquele momento, tudo que Alice podia ouvir naquele breu era a voz que continuava a repetir que era tarde enquanto chamava seu nome.

- Alice. Alice. É tarde. Precisamos ir. Alice?

Ela abriu os olhos lentamente. Iluminada pelas luzes coloridas que piscavam sem parar. Alice reconheceu o rosto de sua irmã. Ela se inclinou sobre Alice, para ajudá-la a se levantar. A música ecoava de novo pelo ambiente. Rah-rah-ah-ah-ah, roma-roma-mah...

- Vem comigo, mana. Acho que bebeu um pouquinho demais. Além de tudo, é tarde. Vamos.


Alice soltou uma sonora gargalhada, enquanto repetia a frase para a irmã.

- Sim. É tarde!

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4 comentários:

  1. Surreal mesmo Marcinha! Tão fantástico quanto a própria estória da Alice no país da maravilhas.E que criatividade viu? Quem deras eu...
    Adorei de com força!
    bjs

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  2. A-D-O-R-E-I essa Alice etílica!
    Muito bem escrito, frases bem encaixadas.
    Ai ai, essa minha irmã é o meu orgulho! :-*

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  3. Obrigada Paty! Realmante, minha imaginação voa longe, putz! Mas é treino, Paty... eu sonho acordada todos os dias, tenho amigos imaginarios e... sou normal, tá? kkkkkkk Serio, que nossos textos nos sirvam de inspiraçao uns para os outros, deixe sua mente voar, Paty! hmm, tô pensando seriamente em te desafiar para um paleja!
    Nanda, obrigada, mana! Fico feliz com seu incentivo, tb sou sua fã! Agora, garota! Alice Etílica foi demais! Precisei registrar isso, dando um nome alternativo ao texto, A-MEI!

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  4. Cacetada, cunhada.
    Nunca mais verei Alice com os mesmos olhos. Gato e Chapeleiro sados??? WaH??? Hehehehe

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