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Texto: Brava Gente

Posted by Marcinha on 27 de novembro de 2011 17:20 in ,
Olá, gente! Me desculpem pela minha ausência, estou com um projeto de aerografia que está tomando todo o meu tempo... mas hoje eu tirei uma folguinha rápida pra não enlouquecer!
Estou publicando (finalmente) a resposta ao desafio "Situando no Tempo e no Espaço" que a Nanda me passou. Tive um certo bloqueio inicial com essa temática, mas agora estou cheia de idéias pra essa saga!
A ambientação:
O ano era 5423.
Dentro na nave não era possível sentir frio ou calor. Sua localização era tão distante do planeta Terra, que não dava para adivinhar se era dia ou noite.
Os mantimentos estavam acabando. No ar, era possível sentir a tensão.
Pela janela despontava um planeta novo. Sua crosta era nebulosa. Não era possível avistar muita coisa da nave.

Brava Gente
Capítulo 1: Dos filhos deste solo és mãe gentil...


Diário de bordo do capitão, data estelar 25.12.5423
Saímos da Terra há um mês, mas apenas eu sei a data exata, porque mantenho este diário. Não comento com ninguém a bordo sobre a contagem dos dias; hoje é natal, e saber disso só os deixaria ainda mais irritados. A tripulação está inquieta, nossa "carga" tem andado um tanto agitada. Nossos suprimentos estão contados, graças a nossa mudança inesperada de curso, depois de todos aqueles meteoritos. Não tenho certeza de onde estamos. Nossa esperança se resume ao planeta que se aproxima. Espero que seja o planeta certo. Não consigo comunicação com a Terra há quatro dias. Alguns dos instrumentos da nave estão avariados. Navegamos às cegas.
Capitão Cristóvão


O Capitão olhava através da escotilha da sala de comando, pensativo. Sentia-se responsável por manter a integridade de sua tripulação, bem mais do que a de sua carga. O planeta nebuloso à frente, que agora era seu destino, estava cada vez mais próximo. Resgatara o pouco que havia sobrado de sua esquecida fé nos últimos dias, e rezava para que aquele fosse o planeta certo, para o qual se dirigiam quando saíram da Terra. Cristóvão esperava que, no meio do espaço sideral, Deus ainda pudesse ouví-lo.

A porta da sala de comando deslizou suavemente neste momento, revelando seu Imediato, que esperou onde estava até receber o convite para entrar.
- Capitão, peço permissão para falar francamente.
- Permissão concedida, Álvares. Além de você ser meu Imediato, e meu braço direito em todas as minhas decisões nesta nave, somos amigos há tantos anos. Não há motivo para formalidades quando estivermos sozinhos.
- Esse é o motivo que me traz aqui, Cristóvão. Se ainda considera o que digo na tomada das suas decisões, liberte nossa carga. Não há motivo para que fiquem trancados. Isso só está contribuindo para que o clima fique cada vez mais tenso...
- Não sabe o que está me pedindo, Álvares. - o Capitão voltou-se novamente para a escotilha, enquanto falava - Foram embarcados nesta nave já presos naquela jaula, e naquela jaula permanecerão até aterrissarmos.
- Mas são homens, não animais! - o Imediato se mostrava cético mediante a frieza de seu amigo - E é claro que sabem que há algo errado nesta nave, embora a tripulação esteja lutando para manter o clima de normalidade. Mas os prisioneiros estão mais agitados a cada dia que passa!
- Verá agitação de verdade se eu der ordem para soltá-los, Imediato! Não tem idéia de quem são!
- Não, não tenho! Você não me diz nada desde que partimos! - exasperou-se o Imediato - Como posso ajudá-lo a tomar decisões, como você disse, se não tenho idéia do que está acontecendo aqui!!!
O Capitão encarou o Imediato, pensativo. Não se sentia irritado, sabia que Álvares tinha razão. Era chegada a hora de dividir o peso do segredo que carregara por todos esses dias.
Cristóvão voltou-se novamente para a escotilha, ficando de costas para o Imediato. Cruzou as mãos as costas, e começou sua narrativa em um tom calmo e sombrio.
- Sabe por que ensinam História na escola, Álvares?
O Imediato ficou atônito por um momento, achando que isso nada tinha a ver com o problema em questão. Respondeu mesmo assim.
- Em teoria, aprendemos História para construir o futuro evitando os erros do passado.
- Ou para repetí-los. - retorquiu o Capitão, e encarou seu Imediato por um longo momento. - É o que o governo está fazendo agora, Álvares. Repetindo erros que outros já cometeram.
- O que isso tem a ver conosco?
- Quer saber por que nos mandaram entregar esses homens na estação espacial recém construída em TVC1? Quer saber por que aquele planeta recebeu este nome?
- Sim. Preciso que me diga tudo o que sabe.- respondeu o Imediato.
- TVC são as iniciais de Terra de Vera Cruz, o 1 no final é por ser a primeira colônia que nosso governo tentará implementar no espaço. Sabe que o país está crescendo, Álvares, se projetando no cenário mundial. O governo quer mais essa conquista, a colonização bem sucedida de um planeta; um pedaço de nosso território no espaço. - o Capitão começou a caminhar lentamente pela sala - Esses homens que transportamos são os felizardos escolhidos para tão sublime missão. Nós os deixaremos em TVC1, para desbravarem o planeta. O governo precisava de homens motivados, para os quais até mesmo a perspectiva de um planeta inóspito parecesse tentadora, então fizeram a proposta aos homens certos. Eles nunca mais retornarão à Terra. Isso resolve dois problemas pelo preço de um.
- Por que nunca mais? - indagou o Imediato.
- Por que esse é o acordo. Todos eles assinaram esse acordo absurdo, em troca de suas vidas. - o Capitão parou, encarando seu Imediato novamente - São todos presos condenados, Álvares, assassinos seriais, estripadores, guerrilheiros... criminosos com tantos anos de sentença que não conseguiriam cumprir toda a pena mesmo que morressem com a mesma idade de Matusalém. Não temos Pena de Morte em nosso país, e o sistema carcerário está abarrotado. Que outra maneira melhor teriam de se livrar desses presos irrecuperáveis, que jamais serão reintegrados à sociedade? TVC1 é um grande tapete, para baixo do qual será varrida a escória que a sociedade não quer mais.
- Concorda com isso, Cristóvão?! - indagou o Imediato, sem conseguir acreditar em tudo o que ouvira.
- Em algum momento eu disse que concordava?! - exasperou-se o capitão, cuja consciência o condenara desde que ouvira o Ministro lhe falar do assunto pela primeira vez. - Não concordo, mas não estou sendo pago para concordar! Tenho um trabalho a realizar aqui, transportar esses homens da Terra até TVC1. E é isso que estou me esforçando para fazer, apesar de todos os imprevistos que já ocorreram! Só preciso deixá-los lá, e voltar com a minha tripulação sã e salva para a Terra. É simples, mas não é fácil; pelo menos não nesse momento!
- Me desculpe pelo que eu disse, Cristóvão. - o tom de voz do Imediato era bem mais amistoso agora - Vamos ponderar as opções, está bem? Quanto tempo ainda falta para chagarmos ao nosso destino? Acha que a estação espacial que nos espera está abastecida com os suprimentos e reparos de que precisaremos para pôr a nave novamente em condições de fazer a viagem de volta?
- Álvares... - a voz do capitão tornou-se sombria novamente - Não consigo contato com a Terra há quatro dias. Metade dos nossos instrumentos não funciona desde a tempestade de meteoritos que nos tirou da rota. Vê aquele planeta pela escotilha? Não tenho certeza se aquele é TVC1. Mas os nossos suprimentos e o oxigênio estão contados. Só o que podemos fazer é pousar lá e rezar pelo melhor.
O Imediato baixou a cabeça, esfregando a mão na testa convulsivamente, apenas para aliviar a tensão. Em seguida respirou fundo, e indagou:
- O que precisa que eu faça?
- Preciso que mantenha a tripulação sobre controle, Álvares. Não conte a eles nada do que eu lhe disse, mas tente debelar esse clima de compaixão pelos homens que transportamos. Aqueles presos não tem nada a perder. Se os soltarmos, tentarão se amotinar contra nós e tomar a nave. E se pousarmos, e aquele não for o planeta certo, só Deus sabe o que encontraremos pela frente. Se eu tiver de escolher entre a sobrevivência deles e a nossa, eu vou salvar apenas a minha tripulação. - o Capitão pôs as duas mãos sobre os ombros de seu Imediato - Eu só conto com você.
- Estou do seu lado, Capitão. - afirmou Álvares com convicção, repetindo o mesmo gesto do amigo a sua frente - Vamos sair dessa.
- Assim espero, Álvares. - disse o Capitão, fitando novamente o planeta, que se encontrava agora, aparentemente, a menos de duas horas de viagem - Assim eu espero.

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4 comentários:

  1. Arrasou mana!
    To achando que eles nao vao conseguir sair do planeta e vão ficar la presos com esse monte de prisioneiros "gente fina", kkkk.
    tão ferrados!
    Aguardamos cenas do próximo capitulo!

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  2. Muito obrigada! Pois é, ainda nao pensei direito nessa parte, as as ideias estão fervilhando!!!

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  3. Nossa Marcinha, ficou show d+.
    Li duas vezes e agora estou ansiosa por mais.
    Precisa de um novo desafio pra continuar?

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  4. Mandou muito bem (tanto na aerografia quanto) no texto.
    A minha maior barreira é a ficção científica. Adoro ler, mas não consigo escrever sobre.
    Estou ancioso pela continuação.
    Ah! E adorei o trocádilho com os nomes dos oficiais. ;)

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