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Conto - Parte VI
1 espartilho, boneca, homossexual, demônios, basquete
Guilherme guardou o bilhete no
bolso e seguiu até sua casa. Já era passado de meia-noite, nem notara quanto
tempo ficou pensando na vida, esqueceu-se de tudo e até da hora que deveria
voltar para casa. Chegando encontrou apenas a luz da cozinha acesa, um prato de
macarronada na mesa e um bilhete:
“Por onde esteve? Te esperei
ansiosa esta noite. Espero que ainda se lembre como esquentar um prato de
comida.”
Ele amassou o bilhete com raiva e
jogou-o no lixo, junto com a comida, depositou o prato na pia e recostou-se
nela, tentando imaginar por que Catharina tinha armado aquilo. Dera um presente
para ele dar à esposa, pediu que ela usasse no dia seguinte, e então
“sequestrou-o” e o fez perder o encontro que ela mesma arrumara entre ele e a
esposa. De repente a resposta surgiu em sua mente, ele compreendeu que, apesar
de tudo, sua esposa ainda o amava muito. Ele deveria fazê-la odiá-lo para poder
cumprir o que estava escrito no bilhete. Então seria assim...
Foi até o quarto lentamente,
ainda tomando coragem para o que o aguardava, e lá estava sua mulher deitada na
cama, usando o espartilho que
ganhara, com o rosto ainda vermelho pelo choro. Guilherme olhou em volta,
procurando o que mais fazer para ela odiá-lo, e o pior de tudo é que aquilo não
lhe doía nem um pouco, ela não representava nada para ele, estava totalmente
louco por Catharina e faria tudo que ela mandasse. Viu sobre o criado mudo uma boneca de porcelana que sua esposa
adorava, era um presente que pertencera a sua mãe falecida. Ele empurrou a
boneca para o chão, que se despedaçou, fazendo a mulher acordar.
— O que você fez Guilherme?! –
Ela sentiu que mais lágrimas escorreriam de seus olhos quando viu a boneca aos
cacos no chão.
— Eu esbarrei aí... sei lá...
quebrou! – Ele começou a rir, fingindo estar bêbado para irritá-la ainda mais,
e funcionou.
— O que você pensa que está
fazendo? Fica fora até essa hora, chega bêbado e ainda... ainda... quebra minha
boneca?! – Ela gritava aos soluços. — Vá
dormir no sofá!
Guilherme saiu do quarto, um meio
sorriso no rosto, passou reto pela porta do quarto do filho, nem mesmo abriu a
porta para ver como ele estava. Quando deitou-se no sofá estava se sentindo de
certa forma realizado, talvez fosse mais fácil do que parecia fazer o que era
preciso para ficar com Catharina.
Pelo resto da semana transformou
a vida da esposa num inferno, fez todo o possível para que ela o odiasse,
trouxe à tona seus demônios do
passado, chegou tarde todo dia, não deu atenção para seu filho, tudo que sabia
que ela detestava.
Quando o dia do encontro chegou
estava pronto. Foi até o auditório muito ansioso, na porta um rapaz homossexual o barrou, dizendo o quanto
ele era bonito e elegante, lhe fazendo propostas insanas. Ele ficou irritado,
quis bater no rapaz, que prontamente lhe ofereceu como pedido de desculpas um
ingresso para um jogo de basquete
muito importante, que por sinal ele estava louco para assistir, o que o deixou
mais irado. Como o rapaz lhe oferecia algo que ele justamente estava querendo?
Deu um murro na cara do rapaz, deixando-o caído no chão, quando algo chamou sua
atenção, numa das janelas viu Catharina rindo dele.
Guilherme entrou rápido naquele
auditório e foi até onde o bilhete indicava, o coração a mil, fez tudo que lhe
fora instruído, despiu-se, entrou no quarto, botou uma venda nos olhos e ali
ficou, suando de tensão, o coração disparado de ânsia por ver logo sua paixão.
3 comentários:
Você encaixou as palavras perfeitamente Olhos, sem forçar o uso delas como muitas vezes acontece comigo. Pobre esposa...continuo morrendo de dó!
ResponderExcluirEntão deixa eu ver se entendi. Você agora chegou no ponto da primeira parte que a Telma escreveu? Porque ela escreveu essa primeira parte e depois retrocedeu no que tinha acontecido antes desse dia não é?
Parabéns, esse conto tá ficando show!
Deus... o que tem no maldito bilhete??? Vcs querem me enlouquecer!
ResponderExcluirÓtimo texto, Olhos. Sem falhas e com as palavras bem casadas.
É isso mesmo Paty, agora eu cheguei na parte em que a Telma começou, então se vocês quiserem saber o que havia nos bilhetes vão ter que me dar mais desafio, rsrsrsrsrsrsrs
ResponderExcluirComenta aê!