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Lembranças de uma infância feliz

Posted by Olhos Celestes on 20 de outubro de 2012 11:03 in , , , ,

Resposta ao desafio da Paty, da semana das crianças:


Eu era uma criança aventureira, ou pelo menos assim eu gostava de pensar que era. Meu avós moravam em chácaras e as viagens para lá eram sempre adoráveis e, pra mim, cheias de aventura. Me lembro de muitas coisas da minha infância, tenho uma memória que considero muito boa, mas quero deixar registrado tudo que acontecia nas chácaras, pois acho que é a parte da minha infância que mais sinto falta.

Na chácara da vó Lidia, a mãe do meu pai, não tinha tanta diversão assim, meus pais não me deixavam andar muito lá pelo mato, tinha muita urtiga e o terreno era bem irregular, eles tinham medo que eu caísse no rio ou em algum buraco e ninguém me achasse, pois lá não haviam tios dispostos a fazer uma caminhada pela floresta com os sobrinhos como na outra chácara. Então lá eu ficava mais em terreno aberto, próximo à casa, jogando bola ou simplesmente conversando com primos que eu não gostava muito.

A única grande aventura divertida que tive lá foi quando dois primos mais velhos decidiram que levariam os mais novos para andar no mato e cuidariam deles, então fomos, os dois mais velhos, eu e minha prima mais nova, e até que foi divertido e “aventureiro”. Escalamos o morro pequeno agarrando as árvores, lá em baixo o rio (claro que não era tão alto e o rio não era fundo o suficiente para nos afogarmos, mas quando se tem 7 anos a experiência parece bem mais assustadora), depois atravessamos o rio por cima de um tronco de árvore, e sim, ele estava mesmo a uns 2 metros acima da água, deu medo, e o pior é que minha prima mais nova, que tinha entre 4 e 5 anos, ficou com muito medo e eu tive que atravessar com ela montada nas minhas costas, pois meus primos mais velhos não quiseram ajudar, ficaram rindo da nossa cara. Depois andamos mais um pouco e por um momento nos vimos perdidos, sem saber como voltar para a casa, minha prima começou a chorar e irritar a todos, mas no fim achamos rápido o caminho de volta.

De resto são lembranças meio ruins, como o dia em que peguei meu tio bêbado apontando a arma para meu pai e para meus outros dois tios, eles haviam brigado, ouviu-se um tiro, que graças a deus foi para o alto, e eu corri desesperada para chamar minha mãe e tias. Ou das tantas vezes que meu tio bêbado enfiava o caminhão numa valeta qualquer e fazia o maior drama, fazendo todos pensarem que ele estava morto ou muito machucado. Ou das vezes que ele tentava me agarrar quando eu ainda era uma criança...

Enfim, não estou aqui para contar lembranças ruins afinal de contas. Na chácara da vó Olinda, a mãe da minha mãe, era só alegria! Meu tio Roque sempre levava a gente pra andar no mato, tinha trilhas, era divertido, íamos até a cachoeira, passando por lugares que em época de cheia era um caminho estreitíssimo que de um lado via-se um lamaçal e do outro água e mais água, também dava medo de cair, mas era a aventura que eu sempre buscava. Meu tio Paulo sempre levava a gente para uma volta de carroça, íamos pela estrada até a igreja em época de natal para ver o presépio, íamos pela plantação, atravessávamos o rio com a água entrando pela metade da carroça, eu e meus primos gritávamos.

Umas duas vezes fomos acampar lá, na primeira meu pai fez uma barraca improvisada usando lona de caminhão, da outra tínhamos barracas de verdade. Íamos em época de páscoa posar lá, meu avô (já falecido) contava histórias de terror que me deixavam horas sem dormir, ele também me ensinou a jogar pife, a fazer uma peteca e a usar o estilingue. Uma vez fui passar uma semana lá,  foi minha primeira viagem sem meus pais, fui com  a minha tia, eu tinha 10 anos. Morria de medo de dormir no escuro lá, o quarto era cheio de furos no forro então a luz da lua entrava de um modo assustador, a luz da vela também era assustadora naquelas condições. Fui nas novenas a semana toda, a noite, rezavam em polonês e eu não entendia nada, mas achava lindo. Levava minha lanterna para voltar pela estrada escura, as pessoas da região riam de mim e do meu medo do escuro.

Sempre que íamos para lá eu colhia algumas flores do jardim da minha avó e fazia um vasinho para ela, lá haviam flores lindas. Subia nas árvores, jogava bola, minha avó fazia uma bolacha caseira que eu adorava, e antes de ir embora ela sempre dava uma sacola de bolacha e doces para cada neto levar embora. As lembranças de lá são sempre muito boas, pegar ovos no galinheiro, comer milho cozido, milho assado, virado de feijão, tomar gasosa, comer aquela carne assada fresca do porco ou do boi que acabara de ser morto, e assim vai, pegar frutas direto do pé e sair correndo e gritando quando alguém me dizia que tinha uma taturana na minha roupa (essas lagartas me perseguiam ein!), foi divertido até a vez em que eu sentei num formigueiro e tiveram que tirar toda a minha roupa e eu ainda voltei pra casa cheia de alergia.

São lembranças muito boas, e eu queria muito que minhas avós ainda morassem em chácaras pois as aventuras na natureza eram maravilhosas e mesmo meu irmão não pôde aproveitar isso, minha filha também não vai aproveitar, e assim por diante. Gostaria de voltar àquele tempo só por um dia, para brincar mais!

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3 comentários:

  1. Olhos, fiquei triste pelo seu convívio forçado com seu tio bêbado, acho que nenhuma criança merece passar por esse tipo de coisa.
    Agora, fiquei muito feliz pelas aventuras na chácara da vó Olinda.
    Realmente acho que as crianças perdem muito com a falta de contato com a natureza, eu mesmo não tive.
    Tô gostando muito dessa brincadeira se saber mais sobre os retalhenses!

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  2. Realmente o seu tio bêbado é o caos.
    Eu queria ter conhecido a chácara da vó Olinda. :)

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  3. Que delícia Olhos! Vou te falar que minhas boas lembranças são muito parecidas coma as suas! Também adorava ir pro sítio da minha avò na roça...andava de carroça com água pra cima dos joelhos, andava pela mata, bebia leite tirado na hora da teta, me assombrava com os ruídos da casa à noite, etc. São minhas melhores lembranças tbm. Mas nada é perfeito pra ninguém e sempre tem algum problema sério de família que nos faz chateados...até mesmo com as lembranças.

    Adorei suas lembranças. ^^

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