Desafio: Escreva uma carta

O desafio: "Escrever uma carta para um amigo que tenha uma doença terminal. Sua carta deve ser gentil, sem ser piegas e engraçada sem ter humor negro. Se possível, passar força, sem nenhuma dose de pena. Mostrar que sente/sentirá falta da pessoa, sem lamentar o término."

Meu texto:

Olha, não estou mandando esta carta para dizer que vou sentir saudades quando você se for. Isso todo mundo já sabe. Também não estou escrevendo para dizer que é uma injustiça eu ter te conhecido quando sua doença já estava em estágio avançado. Muito menos vou citar o fato de que, quando você se libertar dos tormentos físicos eu não estarei lá para segurar a sua mão e posso até mesmo nunca ficar sabendo. Eu vou supor, mas saber com certeza não, pois não terei a quem perguntar.

Não, eu não vim aqui falar nada disso. Eu vim aqui escrever um elogio fúnebre para você que, pelo último motivo exposto acima, nunca será lido no seu funeral. Mas não importa, pois você o lerá em vida e isso é mais do que satisfatório para mim. E imagino que para você também, uma vez que você me pediu isso no nosso primeiro encontro.

Sabe aquela pessoa que sempre tem uma palavra de consolo? Uma solução pro seu problema? Um ombro amigo ou um lenço a oferecer? Uma pessoa que queria abraçar o mundo com as pernas, porque sabia que o seu tempo era curto e não queria deixar de viver nada. Uma pessoa com fome de amizade, fome de amor e de carinho. Uma pessoa sempre pronta a se dar, não importa para que ou para quem. Uma ótima mãe, preocupada e incentivadora, às vezes um pouco irritadiça, mas sempre quando a situação já estava critica demais para racionalismos. Uma leitora compulsiva que matava sua fome de aventuras através dos personagens. Uma sonhadora. Uma pessoa com um humor sutil, às vezes ácido, às vezes sarcástico, mas que só era percebido pelos que compartilhavam do mesmo modo de ver a vida. Uma pessoa com uma vasta gama de conhecimento, que transitava por vários assuntos, sabendo comentar qualquer coisa e tendo opinião para tudo. Uma pessoa debilitada fisicamente que nunca se permitiu ser vítima. Se o destino lhe dava uma rasteira, ela levantava, limpava os joelhos sujos e prosseguia. Um pouco mancando, um pouco magoada. Mas seguia. E sorria. Porque por mais que a vida fosse cruel com ela, ela nunca era cruel com ninguém e, por isso mesmo, dava o único band-aid que tinha para outra pessoa. Porque ela podia sentir dor, mas não tolerava ser exposta a dor alheia sem fazer nada para mudar o quadro. Essa pessoa é um ser que entrou na minha vida e no meu coração e que nunca vai sair. Eu tenho pena de quem não a conheceu e me alegro por todos que sentiram sua magia. Tinha defeitos? Tinha, claro que tinha. Mas não quero exaltá-los, porque eles perdem, de longe, para as qualidades. E, como perceber a beleza da luz, sem poder comparar com as trevas? Sentirei sua falta, mas sei que nos encontraremos numa próxima vida. É só questão de ter paciência e saber esperar.

Bem, era só isso que eu queria dizer com esta carta. O quanto eu gosto de você e o quanto vou sentir sua falta. Mas a vida, essa sim é uma caixinha de surpresas. Quem tem certeza de algo? Não vamos nos preocupar com o futuro e sim, nos focar no presente. E hoje temos nossas conversas, risadas e conselhos. É só isso que importa.

Comentários adicionais:

Para mim, este desafio foi o maior que eu já tive até hoje. Comecei a escrever 3 vezes e nas 2 primeiras, parei, porque chorava e não conseguia me controlar. Mas na terceira eu consegui, aos trancos e barrancos. Admito que não consegui essas 2 partes: "engraçada sem ter humor negro", minha carta foi tudo, menos engraçada! E "passar força, sem nenhuma dose de pena", eu que tava precisando de força! Mas, no geral, eu até gostei do que escrevi.

Depois que escrevi o texto todo, mandei uma versão a mão, pelo correio, para a pessoa que me inspirou. Ela me disse que gostou da surpresa, que bom né?

Com a alma lavada e o dever cumprido, eu olho para o horizonte e canto: "We are the champions, my friend!" Rs.

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