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Reflexões, desabafo e pedidos de conselho
O que, exatamente, faz de um autor ser um autor, um escritor, um poeta, um compositor? De onde vem esses arroubos de por para fora sua criação? De que fonte teimosa jorra sua inspiração, que não está sufocada pelo dia a dia?
Peguei-me pensando nesta questão. Pensando principalmente em indivídios criativos que, como eu, trabalham em uma área diferente da área criativa que desenvolvem apenas para lazer.
Eu, por exemplo, escrevo e desenho, ambos com desenvoltura, mais como hobby. Trabalho com meu marido em uma oficina de customização de automóveis antigos, anexa à minha casa, em expediente integral, geralmente com uma folga semanal, sem observar os feriados nem dias santos.
Entendam, eu não estou reclamando. Eu amo o trabalho na oficina, adoro trabalhar com metal, sei manusear as ferramentas elétricas, os materiais de pintura... eu tenho um raciocínio mecânico muito bom e grande parte das soluções de imprevisto são dadas por mim. Eu me realizo lá, é "minha praia". Mas o serviço é braçal e cansativo, e quando termina o expediente já estou rezando por banho e cama...
Sem contar que, com casa e trabalho a passos de distância, acabo ficando com meus horizontes restritos. Não vejo gente, não respiro novos ares, não tenho novas idéias.
Serão esses os fatores que estarão embotando minha criatividade?
O fato é que... Jesus, nem me lembro a última vez que desenhei! E escrever... confesso que tem sido uma alquimia complicada nos últimos tempos. Pensada, repensada, medida... cuidadosamente. Já houve um tempo em que as idéias se atropelavam. Tempo em que eu digitava frenéticamente um texto, com outro já me cutucando na mente. Sintos saudades dessa época... e não sei dizer o que mudou.
Não estou parada, entretanto. Como dever de casa para reencher meu pote vazio, estou separando tempo para retornar a leitura mais frequente. Dentre outros, tenho uma coleção chamada Enciclopédia da Fantasia, são seis volumes com fábulas de todo o mundo. Bem além de Chapeuzinho Vermelho, nelas existem fábulas árabes, africanas, chinesas, histórias lindas de que eu nunca havia tomado conhecimento. Essa enciclopédia sempre aviva minha imaginação. Há histórias tão belas que já pensei em transcrever algumas para cá, vez por outra.
Por último, aceitando humildemante algum conselho, algum dos escritores, leitores e amigos presentes teriam alguma dica para me dar? Estilo "como escrever textos em meio a correria da rotina". Muito obrigada a todos!
5 comentários:
Cara Marcia,
ResponderExcluirMeu nome é Calíope. Ouvi teu chamado e entendi teus apelos.
Sei o quanto você se esforça para me buscar, mas digo-lhe... Muitos me perseguem, poucos me encontram.
Não me torno aparente ou disponível. Eu tento me esconder, mas vou contar-te um segredo...
Embora muita gente alegue que estou dentro de cada pessoa, não é bem assim que funciona.
Não sei se conheces minha história, mas acredite: A inspiração vem dos outros e a motivação é o que sai de dentro de vós.
Minha história mitológica consiste em mim e minhas 8 irmãs, onde no começo dos tempos, inspirávamos os humanos.
Qualquer dia conto a ti esta história - ou se preferir busque-a, existem atualmente muitos meios, livros e até uma tal de internet, Hermes precisa me atualizar dos novos meios de comunicação.
Mas se de todo, não quiser pesquisar, eu, Calíope, sou a musa da eloquência e minha irmã Polimnia, é a musa inspiradora da narração de histórias. Busque-nos nas pequenas coisas, nas pessoas e encontrará sua inspiração perdida.
Humana, espero que tenha ouvido e entendido. Sempre estaremos disponíveis para aqueles que nos buscam.
Marcinha!
ResponderExcluirQue pergunta difícil!
Eu acho que tudo que vivemos é nossa fonte de inspiração... Tudo que lemos, ouvimos...
Então... quando ficamos restritos a um universo, acho que nossa criatividade possa sim dar uma pausa. E aí o que nos resta a usar como inspiração é o sentimento diante das coisas... Revolta diante de uma situação na tv, uma injustiça no trabalho. Amor e gestos carinhosos de um marido, família ou amigos. Angústia/Paz, Alegria/Tristeza. Acho que todos os sentimentos que temos, são fontes de inspiração. Mas também acho que a inspiração vem de conhecer, ouvir e ver outras coisas.
Enfim... quanto mais você ler (principalmente assuntos diferentes), assistir coisas diferentes (mesmo que não vá ao cinema, de repente um filme mesmo na tv ou alugado), às vezes, uma coisa boba que vocë viu, é um clique que dá em sua mente e aí vocë escreve freneticamente.
Com desenho, já não sei, porque realmente não é minha praia, mas realmente acredito que estimular nossa mente nos dá acesso a tantos universos que fazem com que a gente consiga criar coisas novas.
Aqui em casa, estou com um problema de tv a cabo - some isto ao fato de minhas séries favoritas estarem em entresafra (Game of Thrones e The Walking Dead). E aí, de pirraça, não ligo a tv, exceto para assistir noticiário. Parei de ler por quase duas semanas - quando entrei de férias e fiquei a maior parte dos dias em casa, sem ver outras pessoas. E simplesmente minhas idéias fugiram!
Então talvez, esses processos estejam ligados. Pode ser que o fato de você estar há tanto tempo "presa" na rotina, faça com que vocë tenha menos tempo para fazer outras coisas que te inspirem...
Ouvir música NOVA (experimente ligar o rádio e ouvir músicas que vocë não conhece, prestar atenção nas letras... Ou pegar uma rádio de internet que traga o seu estilo musical (metal né?), porém algo que vocë nunca tenha ouvido antes.)
Ou sentar para assistir um filme na tv que vocë nunca tenha visto... Ou um livro num estilo TOTALMENTE fora do que vocë conhece. Abra um site de imagens e veja-as imaginando de onde vieram, quem tirou, o que as pessoas estavam fazendo antes de bater a foto...
Eu particularmente ADORO as lendas árabes e chinesas. Se vc não leu ainda, cai dentro do livro, veja imagens novas, e perca um pouco de tempo consigo mesma dando asas à imaginação.
Eu acho que quanto mais a gente espreme o cerebro, quanto mais a gente força o bichinho a trabalhar, menos ele trabalha.
ResponderExcluirLer da inspiração, fato. Mas ter tempo para deixar o cerebro vagar e divagar e criar é o principal modo de pegar a inspiração, essa borboleta irrequieta e frágil.
Muito obrigada pelo enorme e cuidadoso comentário, Sammy. Realmente não tenho me dado muito tempo pra abrir os horizontes e experimentar o novo. E a idéia da música é muito boa, não tinha pensado por aí. Obrigada mesmo, ajudou bastante!
ResponderExcluirÉ verdade tb, Nanda... ah, doces momentos de tédio na banheira, quando vc grita Eureka!
ResponderExcluirGostei do trecho: " Mas ter tempo para deixar o cerebro vagar e divagar e criar é o principal modo de pegar a inspiração, essa borboleta irrequieta e frágil."
Vc precisa meeeesmo ser brilhante até nos comentários? hahhahahahaa
Obrigada, adorei!
Comenta aê!