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Desafio Tempo e Espaço

Posted by PatyDeuner on 14 de outubro de 2011 11:11 in , , , ,
Boa sexta para todos os amigos do Retalhos!
Aqui estou eu para responder ao desafio do tempo e do espaço que a Nanda me deu.
Espero que gostem!


Tempo e Espaço:
Era noite e o frio estava tão intenso que era impossível se manter aquecido. A caverna estava iluminada por uma parca fogueira, que já se extinguia. Nas paredes, vários desenhos. Do lado de fora, tudo era breu. A lua estava escondida por grossas nuvens. Ao longe, um coiote uivava.

A Insígnia das Trevas - Parte 1



Essa era a segunda noite de viagem desde que tinham fugido do Castelo de Telvoz. Cavalgavam em um imenso corcel negro de batalha, e o homem ao qual segurava firmemente pela cintura tinha ar de poucos amigos, o semblante sempre duro e feroz.

Ele não lhe dirigiu uma única palavra que não fosse ordens, mesmo depois dela esbravejar perguntas e desaforos. Tentou fugir algumas vezes mas não obteve sucesso. Seu captor era um guerreiro e não precisou nem mesmo piscar para mantê-la em seu agarre.


Já estava muito cansada para se impor aos mandos e desmandos do guerreiro. Só haviam parado duas vezes para comer e beber, e mesmo assim por poucos minutos. Estavam em terras perigosas e naquela desolação algo de cortante parecia pairar sobre eles. Ela tinha a sensação de que alguma coisa estivesse os observando. O guerreiro parecia pensar isso também, porque estava sempre tenso e preparado para qualquer tipo de batalha. Estavam em uma escura e infinita terra selvagem.



Ela cochilava sobre o ombro do guerreiro quando uma parada abrupta do cavalo acordou-a num sobressalto.

-Vamos parar aqui por essa noite. Esta caverna servirá de abrigo até o amanhecer.  - Disse o guerreiro com voz de autoridade.

“Enfim uma frase completa” - ela pensou aliviada por poder espichar um pouco as pernas duras e congeladas.

Um vento frio soprava do norte e fazia as árvores sussurrarem como se estivessem vivas. Havia parado de nevar, ela percebeu, mas a lua estava escondida por grossas nuvens e tudo era escuridão. O frio cortante lhe provocava tanto desconforto quanto medo.


O guerreiro golpeou a neve ao redor da caverna até abrir uma pequena fenda que dava para o interior. A escuridão dentro da caverna era ainda mais densa, e enquanto o guerreiro providenciava suprimentos para uma fogueira ela ia apalpando as paredes rochosas para não cair. Quando as primeiras línguas de fogo surgiram e iluminou a caverna ela avaliou o local minuciosamente. Várias pinturas nas paredes registravam o cotidiano da vida de muitos antepassados. A caverna era alta e profunda, e várias estalactites minavam água em gotas cristalinas, enchendo o ar com um som calmante, quase uma melodia.


Ela aconchegou-se perto da fogueira encostando em uma rocha lisa e seca. Ajeitou seu vestido de seda marfim totalmente enodoado e manchado pela viagem. Por cima de toda a vestimenta, levava uma imensa capa de veludo marinho e luvas que o guerreiro havia lhe dado para que se aquecesse.
- Descanse princesa. Precisará de muita energia para continuarmos a viagem.
Ela entrecerrou os olhos e avaliou seu captor. A luz da fogueira revelou o rosto de um guerreiro menos tenso e mais plácido. Era um homem bonito, com grandes olhos cinzentos emoldurados por um rosto quadrado e firme. Cabelos negros até a altura do queixo apareciam nas laterais do capuz negro. Trajava botas negras de couro, calças negras de lã, luvas de pele de toupeira e várias camadas de lã negra e couro fervido cobriam o seu torso. E, por cima disso tudo tinha uma capa de zibelina espessa e suave como pele. Ela achava que devia pertencer a uma padronização da vestimenta de seu povo, pois nas pontas inferiores da capa havia o bordado de um brasão que ela não conhecia.


Nesse momento o guerreiro tirou sua capa e o casaco. Aproximou-se dela e estendeu o casaco ao seu lado para que ela deitasse sobre ele. Então ela viu a marca tatuada em seu pescoço e afastou-se dele sobressaltada.


- Você... Você é um bárbaro! Sua intenção é me matar?
- Sim e não.
- Como assim, vai ou não me matar?
- Sim, sou um bárbaro, e não, não vou matá-la. Minha missão é protegê-la.
- Mas... Mas, como proteger-me se me raptou? E pelo que sei estamos seguindo para o norte, rumo às terras sombrias de Astaroth!
- Não chegaremos até ali. Desviaremos para leste pela manhã.
- Não consigo entender, o que quer de mim? Os bárbaros são aliados de Astaroth e se não vai me matar... Oh! Vai entregar-me a ele! Vai entregar-me a Astaroth!
- Cale-se! Você não sabe o que diz! Vou repetir: estou aqui para protegê-la. Vou levá-la a um lugar seguro onde Astaroth não poderá encontrá-la.
- Mais seguro que o castelo de Telvoz e toda a sua cavalaria? Duvido muito disso.
- Pode acreditar princesa. Lá já não era um lugar seguro pra você. E isso é o máximo que conseguirá tirar de mim. Nada mais posso dizer. Agora, aquiete-se.


Ela estava chateada, triste e frustrada. Alguma coisa estava muito errada nessa história. Ele era um bárbaro e havia matado vários guerreiros do Rei durante o seu rapto. Sua cabeça estava uma bagunça! Suspirou várias vezes para acalmar-se. Precisava manter-se controlada se quisesse obter mais informações.
- Posso perguntar seu nome?
Ele ficou em silêncio por vários minutos sem respondê-la. Passou algumas lascas de peixe seco para ela e um cantil de água. O gosto daquilo era horrível, mas ela conseguiu se sentir mais forte e bem disposta a media que comia o peixe.
- Meu nome é Thorn, filho de Baldor Crotus e Edhinne Crotus, das terras baixas no norte.
- É um prazer Thorn. Meu nome é Isabella. Princesa Isabella, filha do Rei Allard
 e da Rainha Ellana, do reino de Telvoz.
- Eu sei! – ele disse exasperado.
Ele encarou-a com um olhar fixo e penetrante, e por um momento ficaram presos em uma linha tênue de... alguma coisa que ela entendia. Seu olhar parecia desnudá-la, e ela se sentiu muito quente, e constrangida.
Um alto uivo de coiote preencheu o ar escuro da noite. Um uivo de gelar os ossos. Thorn levantou-se de um salto com a espada em punho.
- Isso não é bom. Fique aqui princesa. Vou averiguar.
E desapareceu pela fenda de entrada da caverna.


Vários minutos se passaram e Isabella estava muito tensa e angustiada. “O que teria acontecido a Thorn?” Não conseguia ficar parada. Remexeu em uma enorme bolsa que Thorn havia deixado ali, e encontrou um punhal. Saiu para o ar gelado da noite tremendo dos pés à cabeça, se de pânico ou frio, não sabia. Mas tinha que achar Thorn. Agarrada ao punhal, foi andando lentamente para a escuridão da floresta. De repente uma sombra emergiu das árvores a sua frente e parou a menos de um metro dela. Era alto, descarnado e tinha os olhos vermelhos fixos nela. A pele pálida como a neve, quase transparente. Sua armadura era negra e brilhava com o reflexo da neve. Ela ficou anestesiada sem poder sair do lugar.
- Princesa Isabella!
O som de sua voz não parecia humano. Era grave, e profunda como o inferno. Queimaram seus tímpanos.  Ela começou a tremer incontrolavelmente perdendo toda a força e caindo de joelhos no chão.
- Não avance mais. - Preveniu uma voz tão ameaçadora quanto o da sombra a sua frente.
“É Thorn! Graças aos Deuses!” Pensou com alívio.
O monstro deslizou-se em direção a Thorn com uma espada que não era nada que Isabella tivesse visto antes. Parecia viva, translúcida como um cristal e tão fina que parecia desaparecer quando se movia.
Thorn também estava preparado para a batalha. A espada de cristal veio pelo ar em direção a ele e este a parou com o aço de sua espada. Vários golpes ressoaram pelo ar e o monstro pouco a pouco foi recuando. Thorn já arquejava por causa do esforço, mas se mantinha firme e determinado. Uma parada de Thorn chegou tarde demais e a espada cristalina trespassou seu casaco de couro rasgando-lhe o ombro. Ele caiu de joelhos arfando, e gotas do seu sangue salpicaram a neve. O monstro gargalhou alto e pronunciou qualquer coisa em uma língua que Isabella não conhecia, palavras escarnecedoras.
Isabella gritou tão alto que o monstro virou-se em sua direção. E essa foi a oportunidade de Thorn. Ele agarrou firmemente a espada coma as duas mãos e enfiou-a no ventre do monstro.
Com um grito de surpresa e escárnio, o monstro foi se dissolvendo no ar, num redemoinho azul acinzentado, até desaparecer por completo.
Saindo de seu estupor, Isabella correu até Thorn, que se contorcia no chão tentando levantar-se.
- Thorn! Está ferido, deixe-me ajudá-lo!
- Vá para dentro da caverna princesa. Sei me cuidar.
- Não, precisa de ajuda. Venha, apóie-se em mim.


Muito debilmente conseguiram se ajeitar na caverna onde a fogueira já se extinguia. Decidida, Isabella tirou o casaco do guerreiro e terminou de rasgar a blusa que levava por baixo, revelando um profundo corte que ainda sangrava. Ele suava e gemia com os olhos entrecerrados, enquanto ela limpava o ferimento.
- Não precisa fazer isso princesa. – Ele balbuciava entre um ofego e outro.
- Salvou a minha vida Thorn. Devo-lhe isso.
- Não me deve nada. Eu já disse, minha missão é proteger-te.
- O que era aquela criatura?
- Um cavaleiro da morte. Vem das terras sombrias, do reino de Astaroth.
Ela não pode conter um gemido de assombro.
- E o que queria?
- Veio atrás de você princesa. Nenhum lugar é seguro pra você agora. Por isso tenho que levá-la para junto de meu povo. Podemos protegê-la.
- Mas pensei que os bárbaros fossem aliados de Astaroth.
- Nem todos. Alguns de nós conseguimos escapar dos feitiços de Astaroth, e lutamos pela liberdade de nosso povo.
Ela sentiu um aperto no coração. Seu pai também lutava pela liberdade de muitos povos que foram submetidos a meros escravos de Astaroth. “Será que sua família estava bem? Estariam procurando-a? Provavelmente sim.”


Saindo de seus devaneios reparou que Thorn tinha adormecido. Tinha a respiração descompassada devido à dor, mas suas feições estavam relaxadas, calmas. Bem devagar se aconchegou perto dele e deitou a cabeça sobre o ombro que não estava ferido, e também adormeceu, sentindo o cheiro reconfortante de Thorn.

(Continua... Não sei bem quando)


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4 comentários:

  1. Nossa, Paty, adorei! Quando li ja no incio "fugindo do castelo em um corcel negro de batalha"eu pensei, woow, agora tô em casa! kkkkkk... Adorei a ambientaçao, o temperamento do guerreiro (sao homens rudes, que falam pouco, mas sao honrados e tem um grande coração). A princesa tb demonstrou coragem, gostei disso nela.
    E, nooooossa, adorei o cavaleiro da morte! Amo criaturas, sombrias, ameaçadoras, com suas vozes tao peculiares! Paty, parabens mulher, vc arrasou! E, nao ouse, naaaao ouse, ouviu madame, nos deixar sem a continuaçao desse texto! kkkk... Arrasou! Um beijo!
    Ah, em tempo, adorei os nomes!

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  2. AÊ Paty!
    Primeiro: muito show de bola o texto.
    Segundo: casou muito bem com o tempo e o espaço, rs.
    Terceiro: Thorn é um homem com H maiúsculo e, já pressinto, um daqueles mocinhos que nos faz suspirarrrr.
    Quarto: Adorei o detalhe da vestimenta dele. Pesquisou bastante nessa parte, hem? Maneiro. Os detalhes são peças fundamentais numa grande estória.
    Quinto: Assim que vc se livrar do elefante (kkkk) se ninguém te desafiar pra continuar essa estória, vou ser obrigada a fazê-lo =]

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  3. Show de la pelota, dona Paty!!
    Mesmo sabendo alguns detalhes da história achei muito legal.
    Achei que o cavalheiro da Morte fosse o próprio Astaroth.
    Aguardo, ansioso, pela continuação da história.

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  4. Eu já dei o pontapé! Lancei o desafio das 5 frases pra Paty continuar a estória.. será que ela topa? tchan, tchan, tchan, tchan!

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