3

A Insígnia das Trevas

Posted by PatyDeuner on 1 de novembro de 2011 17:15 in , , , ,
Continuando a história de Thor e Isabella com as frases que a Nanda me deu, e que agora já tem um título.

1. A vela já estava quase se apagando.
2. Por favor, não o mate!
3. Você sabe manejar uma espada?
4. O cavalo relinchou, em protesto.
5. A água do rio estava gélida e intempestuosa


Para acompanhar a história e ler a Parte 1 é só acessar: A Insígnia das Trevas - Parte 1
                                                                  
A Insígnia das Trevas - Parte 2

Cavalgaram durante todo o dia sem uma única parada. Os horrores da noite anterior ainda devastavam os pensamentos de Thor, mantendo-o alerta e preparado para qualquer incursão necessária. Por isso mantiveram a marcha sem descanso.
Um sol enevoado pairava no horizonte e uma brisa fria começou a soprar. O inverno ali já estava mais brando e a neve bem menos espessa. Pegaram o caminho para o leste, distanciando cada vez mais das terras sombrias de Astharoth, mas isso não era garantia de segurança. Os cavaleiros negros andavam por todas as partes, a mando de seu poderoso líder. Thor nunca havia enfrentado diretamente aquele demônio, mas seu pai fora massacrado por ele impiedosamente, e os guerreiros sabiam que era uma batalha invencível. Essa adorável mulher que estava sobre seu corcel negro era a única esperança de derrotá-lo.
À medida que avançavam, as esparsas colinas iam se transformando em grandes montanhas verde-acinzentadas, com montes de terra irregulares e uma mistura de carvalhos e sarças negras que faziam da floresta um lugar muito sombrio. Estavam entrando na “Floresta dos coiotes”, e em breve sua presença seria sentida por eles. Mas Thor conhecia a floresta muito bem, e embora fosse chamada de assombrada, sabia que ali estavam em segurança.
Ele sentiu que a princesa se debilitava cada vez mais, pois seu frágil corpo estava cada vez mais frouxo e jogado sobre suas costas, em contraste com a tensão e rigidez que tinha quando partiram da caverna. Foi muito inesperado acordar pela manhã  e sentir o corpo da princesa totalmente lasso sobre o seu. O calor e o aroma que emanavam dela era enlouquecedor. Suas mãos estavam recolhidas sobre seu abdômen e sua cabeça descansava confidencialmente na base de seu pescoço,derramando as mechas de seu longo cabelo negro sobre seu ombro. Suas escuras sobrancelhas estavam arqueadas, delineando olhos, que embora fechados, sabia que era da cor âmbar muito suave. Seu nariz era pequeno com a pontinha fina e arrebitada. Suas bochechas eram de querubim. Sua boca rosada estava entreaberta com a sombra de um sorriso, demonstrando uma visível satisfação de estar ali. Parecia estar sonhando. Um sonho bom.
Quando se deu conta da fragilidade de seus pensamentos, se pôs totalmente exasperado e levantou-se de um sobressalto, mantendo a maior distância dela possível. Não podia deixar-se debilitar por sentimentos. Tinha passado grande parte de sua vida reprimindo o coração pra se fazer forte, e sempre conseguiu dirigir bem esse combate mental. Então, para enfatizar sua postura, não dirigiu uma única palavra à princesa, e nem respondera as suas perguntas. Ela ficou bastante aborrecida com todo o seu desprezo, e suas dúvidas flutuaram para ele em forma de indignação.
“Melhor assim. Mais fácil manter as coisa sob controle.” Ele pensou, mas sem muita certeza de que era isso que queria.
O sol afundava-se atrás das árvores quando alcançaram o destino daquele dia. Uma enorme clareira surgiu nas profundezas da floresta onde repousava uma cabana de troncos rodeada de árvores que formava um semicírculo grosseiro. O rio que corria por trás da cabana enchia o ar com um som acolhedor.
Thor parou o cavalo e imediatamente a princesa despertou de seu conturbado sono.
- Chegamos? Onde estamos?
Nesse mesmo instante, um homem enorme de cabelos loiros compridos e muito lisos saiu da cabana e depois de uma longa gargalhada disse:
- Que bom que chegaste grande guerreiro dos bárbaros!
Isabella ficou impressionada com a beleza daquele homem. Uma mistura de força brutal com uma delicadeza quase juvenil. Era meio assustador.
Thor sorriu e deu um abraço de esmagar os ossos no amigo.
- Bom vê-lo novamente grande Godwin!
Thor estava realmente feliz em vê-lo. Tinha passado muito tempo desde que o vira pela última vez. Cresceram e lutaram juntos contra as forças de Astharoth por incontáveis vezes e na última batalha, foi Godwin que impediu que enlouquecesse diante da morte de seu pai. Queria muito bem ao guerreiro.
- Godwin, deixe-me apresentá-lo. Essa é a princesa Isabella.
- Hummm...encantado princesa, és mais formosa que os alardes que percorrem os reinos! Eu sou Godwin, filho de Fergus, líder dos bárbaros do leste.
- Pra...prazer em conhecê-lo guerreiro. Estou re...realmente encantada!
- Hahahaha! Não pareces encantada e sim assustada princesa! Nada tens a temer. Estive à espera de vocês e são muito bem vindos a minha humilde moradia. Venham, vamos entrar.

Assim que entraram na cabana, um rico aroma de iguarias preencheu o ar, e um calor acolhedor vinha da grande lareira no centro da sala. Thor sentiu que Isabella relaxou os ombros e seu semblante suavizou.
Quando Noreen entrou na sala saltitante, Thor não conseguiu conter o sorriso para aquela doce criatura. Era uma mulher encantadora de longos cabelos ruivos e olhos azuis enormes. Usava um vestido azul-lavado com cintura muito fina, que fazia pronunciar ainda mais seus fartos seios. Era a mulher perfeita para Godwin.
Godwin então se apressou em apresentá-la orgulhosamente.
- Princesa Isabella, essa é Noreen, minha adorada esposa.
Noreen bateu palminhas de tão entusiasmada e disse pegando as mãos de Isabella:
- Oh querida! É uma honra recebê-la em minha casa.
- A honra é toda minha Noreen. Obrigada por nos acolher.
- Claro, claro! Venham, vamos nos sentar à mesa. A ceia está servida. Godwin, pegue o vinho no barril de carvalho e sirva nossos convidados. Ah, e Thor, é muito bom vê-lo por aqui de novo!
Aproximaram-se da enorme mesa situada à frente da lareira. De relance, Thor viu Isabella arregalar os olhos ao se deparar com a fartura à sua frente. Ela abriu e fechou a boca várias vezes, num visível assombro. A mesa estava abarrotada com pães de milho e centeio, ervilhas cozidas, carne de vitela defumado e morcela.
Sentaram-se à mesa e comeram. Mas Thor passou mais tempo observando a princesa do que comendo. Depois de todos esses dias alimentando-se com peixe seco e água, ela não se preocupou com delicadezas, e devorou avidamente tudo que lhe ofereciam.
Noreen quebrou o silêncio e se levantou.
- Bom, senhores. Tenho certeza que a princesa gostaria de se lavar e descansar um pouco. Venha Isabella, tenho um quarto preparado para você.
E sumiram pelo pequeno corredor que levava aos quartos.

Quando então estiveram sozinhos, os guerreiros tomaram suas posições rígidas e Godwin disse:
- Thor, eu sei que chegou aqui com a princesa incólumes. Mas tenho que adverti-lo que prosseguir é praticamente suicídio. Os Cavaleiros Negros estão por toda a parte à procura da princesa.
- Sei que se preocupa amigo, mas é necessário que a princesa chegue à aldeia, não só por ela, mas pela sobrevivência de nosso povo também. Ela precisa saber o que é através da sacerdotisa, que saberá orientá-la de seu dom.
- Você sabe Thor que os Cavaleiros Negros são incansáveis e muito poderosos. Aqui estamos protegidos pela energia e força dos coiotes. Nem mesmo os Cavaleiros Negros penetram nesses domínios.
- Sei. Mas não temos escolha. Temos que prosseguir.
- Mais uma coisa. Ciaran esteve aqui mais cedo trazendo notícias do sul.
Thor ficou tenso. Sabia que Ciaran, o Coiote Negro, líder da alcatéia da Floresta dos coiotes, não só protegia a floresta e seus habitantes como também era mensageiro de tudo que acontecia nos reinos. Ele era os olhos, os ouvidos e o coração de todo o seu povo. E, pelo tom de voz de Godwin, não eram notícias boas.
- O rei Allard e toda a cavalaria de Telvoz estão aproximando-se rapidamente no encalço da princesa. Ele não desistirá enquanto não achá-la e matar seu raptor.
Thor levantou-se abruptamente e sorveu de um só gole o resto do seu vinho, e disse muito irritado.
- Então, terei que matar o rei Allard e toda a sua tropa. Sou um guerreiro e tenho uma missão. Vou fazer o que tiver que fazer, não importa o que.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Isabella veio caminhando pelo pequeno corredor que dava para os quartos, ainda fazendo uma enorme e pesada trança com seus cabelos. Estava totalmente saciada e relaxada depois do banho quente com jasmins que Noreen lhe preparou. Noreen também havia lhe emprestado um longo vestido de cor pêssego, muito confortável, embora sobrasse muito tecido em seu colo devido à fartura de seios que Noreen possuía e ela não. Teve que sorrir um pouco com isso. Noreen tinha sido muito atenciosa com ela, e era muito engraçada também.
A voz aguda e nervosa de Thor chamou sua atenção, e encostou-se na parede do corredor antes de chegar à sala. Bem na hora de ouvir Thor dizer ameaçadoramente.
- Então, terei que matar o rei Allard e toda a sua tropa. Sou um guerreiro e tenho uma missão. Vou fazer o que tiver que fazer, não importa o que.
A voz de Thor era de pura fúria, e ela começou a tremer, suas pernas ficando moles. De repente ela não conseguia respirar.
“Oh Deuses! Thor é mais violento e implacável que pensei. Vai matar meu pai, e provavelmente não se intimidará em me matar também logo que conseguir o que quer de mim, seja lá o que for”- Pensou atordoada e totalmente em pânico.
Correu de volta ao aposento que Noreen lhe dera para descansar. Teve que apertar os olhos para enxergar, porque a vela estava quase se apagando.
“Melhor assim. Vão pensar que já adormeci.”
Afastou os caixilhos da janela bem devagar para não fazer ruído e abriu-a. Tentou avaliar a altura e o que havia abaixo dela, mas era impossível. A escuridão era total.
Suspirou algumas vezes para se acalmar. “Preciso pensar.”
Correu os olhos pelo aposento procurando não sabia bem o que, mas precisava de uma arma para poder fugir. Achou um alforje jogado num canto e jogou dentro dele uma capa de pele, um cantil com água e seu sujo vestido de seda marfin. No parapeito da lareira viu um espeto longo de ponta afiada.
“Servirá de arma.”
Agarrou aquilo e passou as pernas pela janela sem pensar muito e pulou, caindo por cima de uma pedra dura e úmida que rasgou seu antebraço em um corte profundo e doloroso. Sentiu lágrimas nos olhos, mas conteve o grito de dor prendendo a respiração para conseguir ouvir o som do rio e orientar-se. Fugir pela frente da cabana não era uma opção, então teria que acompanhar as margens do rio. Levantou-se e correu. O espeto que segurava começou a escorregar de sua mão, úmida com o sangue que escorria de seu braço, e sentiu-se muito fraca de repente, mas continuou correndo sem perder o ritmo.
Chegou ao rio ofegante e agradeceu aos deuses porque aparentemente não tinha sido seguida. Ajoelhou-se junto ao rio para lavar todo aquele sangue, na esperança de estancá-lo. A água do rio estava gélida e intempestuosa, mas suspirou de alívio quando a água fez contato com sua ferida aberta, fazendo entorpecer todo o seu braço.

Fez-se um silêncio ominoso seguido do uivo de um coiote. Parecia muito perto e um calafrio dançou ao longo de sua coluna. Levantou-se e girou rapidamente com sua tosca arma em punho. Não viu nada, mas podia sentir que havia algo ali. Caminhou devagar sempre de frente para a sombria floresta, e então o viu. Um enorme coiote negro de olhos muito verdes e brilhantes. Devia ter mais de um metro e meio de altura e uma longa e densa cauda. Enormes orelhas pontudas moviam-se lentamente apurando os sentidos. Ela percebeu que ele já estava muito perto. Não rosnou. Não emitiu um único som. Limitou-se a olhá-la com aqueles hipnotizantes olhos verdes.
Ela estava paralisada e seu coração batia erraticamente. Percebeu com sua visão periférica que outros coiotes igualmente grandes e assustadores começaram a emergir da floresta. Soltou um ofego de desespero ao perceber que estava encurralada contra a superfície de uma enorme rocha a beira do rio. Apertou as mãos em torno de sua arma e se preparou para o ataque.

- Ciaran! Escute minhas palavras, amigo. Essa é a princesa Isabella.
A voz de Godwin encheu a noite, e ela viu a sombra do seu cavalo emergir da escuridão e avançar sobre os coiotes. O cavalo relinchou, em protesto, mas continuou sua passada lenta e cuidadosa.
Ela não sabia se estava mais aliviada ou frustrada. Talvez não morreria ali, mas as possibilidades de uma fuga agora eram totalmente nulas. Thor vinha logo atrás de Godwin.
O coiote que Godwin chamara de Ciaran começou a recuar. Tinha agora um olhar de reconhecimento e curiosidade para ela. “Como um animal pode ter um olhar tão...tão humano?” Ela pensou, assombrada com a inteligência que viu nos olhos do animal.
Quando ela percebeu que Thor havia descido do cavalo e vinha devagar em sua direção, ela gritou:
- Não se aproxime de mim! Sei o que pretende e não vou prosseguir com você. Vou voltar a Telvoz, para junto de meu pai.
- Não. Você não vai.
Ela começou a tremer. Sabia que não tinha chances contra Thor, Godwin e agora...os coiotes que, ao que parecia, eram seus amigos. Abriu os dedos e deixou cair sua arma no chão. Cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar.
- Por favor, não o mate! – Disse soluçando.- O ouvi dizer que matará meu pai. Não tem misericórdia?
- Princesa....
Thor não sabia o que dizer. Era muito doloroso vê-la chorando com tanta tristeza no coração. Mas não tinha experiência nenhuma com tais sentimentos humanos. Era um guerreiro, e não sabia confortar ninguém. Então não disse nada. Aproximou-se dela e a abraçou. Sentiu seu corpo tremer enquanto engasgava-se entre as lágrimas. Pegou-a no colo e sentiu que ela tinha se entregue ao cansaço e a resignação.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Na manhã seguinte Isabella acordou com um leve toque em sua porta, e percebeu que estava deitada na cama que Noreen gentilmente havia preparado pra ela. Não lembrava como tinha chegado ali. A última coisa que lembrava era de ter se afundado nos braços quentes de Thor enquanto chorava.
Novamente bateram na porta.
- Entre! Ela sentou na cama e gemeu sentindo o braço latejar de dor.
- Princesa. -Thor entrou no quarto deslizando devagar para o lado dela. - Precisamos conversar. Devido aos acontecimentos da noite passada, teremos que ficar um pouco mais. Temo que terei que ensiná-la a se defender. Você sabe manejar uma espada?
Ela ficou boquiaberta com o que ele estava sugerindo. Ia ensiná-la a lutar? Por quê?
Bom, ela poderia tirar proveito disso. Sorriu para ele e disse.
- Não.


|
Gostou?

3 comentários:

  1. Paty: Arrasou!
    Denovo fazendo vastas pesquisas para nomes, vestimentas, alimentos... muito bom, lindona!
    Gostei muito do destemor da princesa, nada forçado, porque quando ela vê que não tem jeito, se torna uma frágil donzela novamente. ;-)
    E o Thor... ah, o Thor... que homem intempestuoso é esse, minha gente?
    Agora, eu tenho 1 dúvida: o texto 1 terminou com o Thor ferido no ombro. Ele dormiu e acordou, passou por uma jornada sinistra e não sentiu nem uma dorzinha? Já estava curado? Será esse o dom da princesa?

    ResponderExcluir
  2. Muito bom Paty. Cada vez mais com cara de uma grande saga e/ou um bom livro. Show. \o/

    ResponderExcluir
  3. Nossa, adorei! Muito bem ambientado, e os personagens cativanetes, Paty... alias, se eu me apaixonar loucamente por esse guerreiro, vc nao se importa não, nao é? rss... E eu estou curiosa pra ver esse treinamento com a espada! Será que Isabella é apenas um delicada princesa, ou ou ela vai tomar gosto pelo poder do aço em sua mão? Sem contar a curiosidade em descobrir que dom é esse que ela possui! Mal posso esperar...

    ResponderExcluir

Comenta aê!

Copyright © 2009 Retalhos Assimétricos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive.