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Amor de mãe

Posted by PatyDeuner on 18 de dezembro de 2011 13:52 in , , , , , ,

Eu nunca realmente havia escrito nada em toda a minha vida. Ai então eu fui desafiada pela primeira vez a escrever um texto que deveria conter algumas palavras. As palavras escolhidas tinham definitivamente o objetivo de me induzir a escrever algo sobre o que eu já estou familiarizada, com o intuito de facilitar minha primeira experiência em escrever um texto. Foram elas: leitura - construção - tempo - autonomia - recepção.
Como sou arquiteta, seria instintivo escrever algo relacionado a isso. Mas olhando pras palavras e pensando como eu escreveria algo com aquilo, eu percebi que criar uma história vai muito além do óbvio que nos é apresentado. Tem que sair de dentro da alma, fazer parte dos nossos instintos. Seja esta história real ou imaginária. Então, em minha primeira vez, escrevi a história do momento mais importante da minha vida, e que com certeza faz parte da vida de muitas mulheres.



...estava tudo muito claro. Meus olhos ardiam. Podia ouvir até os mínimos ruídos ao meu redor, mas nem tudo eu conseguia distinguir. Algumas frases eram sussurradas.
- Seja forte! Tudo vai ficar bem.
- Está me ouvindo?
-Estamos quase lá...
Meu corpo estava muito quente, mesmo no ar frio, e as sensações eram muito fortes. Na medida do possível eu estava controlada, mas a ansiedade me cegava. Afinal, a expectativa de meses estava toda concentrada nesse único momento. Tentei relaxar e as memórias vieram em ondas claras.
A descoberta foi um susto, uma mistura de êxtase e medo. Depois veio a alegria, e então a loucura.
-Como vai ser agora?
-O que eu tenho de fazer?
As perguntas eram infinitas e eu fiquei totalmente consumida em absorver cada detalhe do que estava acontecendo. Eu devorava todo o tipo de leitura relacionada ao assunto e a cada dia eu descobria novas alegrias. Aos poucos então consegui traçar planos para a construção de uma vida totalmente desconhecida pra mim. Todo o meu conhecimento antes disso acontecer não se aplicava mais agora. Antes...parece tão distante...um outro tempo.
 Um som metálico e uma forte dor me trouxeram de volta, abrindo os olhos para a forte luz concentrada em cima de mim. Então eu sabia. Era o momento e eu tinha que manter o foco para garantir a autonomia do meu corpo e da minha mente, pois eu era o mais importante instrumento para a recepção do que estava chegando.
Deus! Minhas emoções quase podem ser tocadas!
-É agora! Ouvi meio atordoada.
Fiz uma força excruciante e nada aconteceu. Forcei meu corpo mais e mais, repetidas vezes, e quando achei que não poderia mais suportar a dor esmagadora...veio o alívio instantâneo, e eu ouvi o mais doce de todos os sons: o choro da minha primeira filha.
Meus olhos umedeceram e encontraram o aliviado sorriso de emoção do homem que estava ao meu lado apertando minha mão carinhosamente.
-Só mais um pouco agora meu amor. Ele disse ainda tenso.
E em uma segunda onda de dor, porém bem mais rápida e menos intensa, veio ao mundo minha segunda filha com um choro tão exigente quanto à primeira.
Então eu realmente explodi em lágrimas absorvendo todas as emoções de uma só vez e agradecendo a Deus a benção desse momento.
Em poucos minutos eu estava abraçada as duas, uma de cada lado.
-Tão lindas!
Uma sensação quase dolorosa começou a crescer dentro de mim e pareceria que não tinha fim. 
Então eu sabia o que era.
Amor. 
Amor de mãe.

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4 comentários:

  1. Chorei da primeira vez e chorei agora de novo.
    Lindo demais, Paty !

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  2. Acho este texto muito emocionante também. Paty, este veio do fundo da sua alma. :)

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  3. Meu Deus, Paty, que coisa linda! Realmente tenho q concordar com a Nanda e com o Kbeça, esse texto veio mesmo do fundo da sua alma aproveitando todas as fibras do seu talento... e nossa, chorei também, nao sei se chorei mais por ter sentindo cada uma das dores junto com vc, ou pela emoçao se segurar as pequeninas junto contigo! A gente se transporta pra dentro do seu texto.... maravilhoso!
    Beijos e parabéns!

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  4. Para quem insiste em dizer que não sabe escrever sobre a vida real, você até que me enganou direitinho...

    Paty, seu texto está maravilhoso. Emocionante. Honesto. Real.
    Eu sou mãe, como você. Passei por esse momento (embora de forma bem diferente), então eu mais do que imagino as suas sensações, não só por conhecer esse amor, mas porque você soube passar esse sentimento para a gente. E a maneira como usou as palavras! Elas pareciam tão desconjuntadas no desafio, e no texto elas se encaixaram de forma tão perfeita! (quer dizer, se encaixaram nada! O mérito é seu!)

    Se me permite, vou fazer umas considerações no texto...

    a) Ele tem uma aura de mistério sobre o assunto, então, se você tivesse escolhido outro título e colocado a imagem no fim, teria sido uma surpresa muito maior... A gente se envolve com seu texto de tal forma, que descobrir o nascimento das suas filhas ali é uma coisa tão linda que realmente deveria ter sido guardado para o gran finale!

    b) O único problema que encontrei no texto foi um pedaço assim: "uma forte dor me trouxeram de volta, abrindo os olhos para a forte luz"
    Eu sei que às vezes é difícil encontrarmos outra palavra para colocar, mas 'forte' se repetiu duas vezes aqui e teria sido mais interessante colocar um sinônimo...

    Mas é isso. Parabéns, Paty, querida! E obrigada! Por compartilhar esse momento tão íntimo e tão gostoso conosco!

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