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E a caixa d'água secou - Uma história de falta d'água
Posted by Unknown
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27 de fevereiro de 2013
06:00
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E a caixa d'água
secou. Abriu a torneira, deu uns tapinhas e nem assim, nenhuma gotinha
saiu. Nem aquela gota mais derradeira presa no cano.
NÃO ENTRE EM PÂNICO! - pensou, já em pânico... Seria algo momentâneo? Considerando o calor no Rio de Janeiro e as constantes interrupções de água da CEDAE, tudo era possível!
Ligou a tv, já desesperada por notícias. Nem uma palavra sequer sobre o assunto. Parecia que aquela pequena falta d'água já lhe causava um pré-horror. Muito embora tivesse tomado banho há apenas 6h, tivesse dormido no ar condicionado a noite toda e tampouco tivesse o hábito de lavar sua louça de café da manhã antes de sair, já estava pensando e antecipando os próximos passos. Pegou uma garrafa de água na geladeira e escovou os dentes.
Saiu de casa pensando no assunto. Na rua, onde habitualmente havia um pequeno córrego imundo criado a partir de um vazamento qualquer, agora havia lama seca. Franziu a testa e sentiu gotas de água escorrendo pela testa. Transpirar deveria ser proibido! Estava perdendo líquidos! Como iria repô-los com essa súbita falta de água? Respirou fundo e ordenou mentalmente que as gotículas que escorriam pelas têmporas parassem imediatamente. Quase pôde sentir o suor re-entrando de volta à sua pele, obediente...
Chegou ao trabalho pensando que talvez tivesse sido uma ilusão. Pegou sua garrafinha e foi ao bebedouro. Nem uma gota ali também. O costumeiro pinga-pinga que tanto lhe irritava da torneira, agora lhe fazia a maior falta.
Sentou desanimada para trabalhar. Ligou o ar condicionado. Ao menos de calor não morreria. E foi aí que a energia acabou. Calor de 38ºC, sensação térmica 42ºC. Sem água, sem energia elétrica. NÃO ENTRE EM PÂNICO! NÃO ENTRE EM PÂNICO! - repetiu o mantra sem parar, tal como Douglas Adams explicou no Guia do Mochileiro...
Abriu a porta e um bafo quente invadiu sua sala. Deu um passo para trás. Seu doce chefe, mesmo ciente da falta d'água, foi incisivo:
NÃO ENTRE EM PÂNICO! - pensou, já em pânico... Seria algo momentâneo? Considerando o calor no Rio de Janeiro e as constantes interrupções de água da CEDAE, tudo era possível!
Ligou a tv, já desesperada por notícias. Nem uma palavra sequer sobre o assunto. Parecia que aquela pequena falta d'água já lhe causava um pré-horror. Muito embora tivesse tomado banho há apenas 6h, tivesse dormido no ar condicionado a noite toda e tampouco tivesse o hábito de lavar sua louça de café da manhã antes de sair, já estava pensando e antecipando os próximos passos. Pegou uma garrafa de água na geladeira e escovou os dentes.
Saiu de casa pensando no assunto. Na rua, onde habitualmente havia um pequeno córrego imundo criado a partir de um vazamento qualquer, agora havia lama seca. Franziu a testa e sentiu gotas de água escorrendo pela testa. Transpirar deveria ser proibido! Estava perdendo líquidos! Como iria repô-los com essa súbita falta de água? Respirou fundo e ordenou mentalmente que as gotículas que escorriam pelas têmporas parassem imediatamente. Quase pôde sentir o suor re-entrando de volta à sua pele, obediente...
Chegou ao trabalho pensando que talvez tivesse sido uma ilusão. Pegou sua garrafinha e foi ao bebedouro. Nem uma gota ali também. O costumeiro pinga-pinga que tanto lhe irritava da torneira, agora lhe fazia a maior falta.
Sentou desanimada para trabalhar. Ligou o ar condicionado. Ao menos de calor não morreria. E foi aí que a energia acabou. Calor de 38ºC, sensação térmica 42ºC. Sem água, sem energia elétrica. NÃO ENTRE EM PÂNICO! NÃO ENTRE EM PÂNICO! - repetiu o mantra sem parar, tal como Douglas Adams explicou no Guia do Mochileiro...
Abriu a porta e um bafo quente invadiu sua sala. Deu um passo para trás. Seu doce chefe, mesmo ciente da falta d'água, foi incisivo:
- Não usem o banheiro... Tragam água de casa, mas não muita para não sentirem vontade de ir ao banheiro. Não tem água para jogar e ninguém quer ficar em um lugar fedorento...
Só dele dizer para não usar o banheiro, aquelas palavras instantaneamente fizeram seu cérebro lembrar das funções urinárias.
Resolveu voltar em casa na hora do almoço para ver se tinha alguma água em QUALQUER lugar e encher um balde, pelo menos. Não tinha. E ainda gastou sua energia e suor, no calor de Realengo. Descobriu através da internet que a falta d'água generalizada ocorreria por três longos dias e que só retornaria na quarta. Ainda era meio dia de segunda-feira...
Num súbito momento de inspiração, pulou a janela e pegou a mangueirinha do ar condicionado e a colocou dentro de um balde! Agora sim!!!! Alguma água teria quando chegasse em casa!
Voltou para o trabalho assobiando feliz. O dia se passou enquanto ela pensava em alternativas para a falta de água. Lavou as mãos e o rosto com álcool gel! Lembrou que lenços umidecidos poderiam ser úteis no caso se precisasse de um banho de "gato"!
Falou em voz alta enquanto guardava alguns materiais e seus colegas de trabalho sumiram. Não percebeu a falta deles, exceto quando atravessou a rua e havia uma fila enorme da farmácia. Todos os pacotes de lenços foram arrematados! Copiadores de idéias alheias!
Resolveu então pedir um galão de água - 20l. Suficiente para encher um baldinho e tomar um banho de canequinha... Todas as distribuidoras da região estavam com suas linhas congestionadas e a água havia dobrado de preço.
NÃO ENTRE EM PÂNICO! NÃO ENTRE EM PÂNICO!
Voltou para casa e mais uma inspiração... O cemitério! Havia uma biquinha que descia direto da caixa d'água. Talvez se pedisse com jeitinho, o coveiro poderia lhe ceder um balde!
Saltitou feliz e contente assobiando uma linda canção quando se deparou com a fila! Além dela, vários vizinhos tiveram a mesmíssima idéia! Suspirou pronta a enfrentar a fila tal como os mais antigos moradores citavam, muito antes da canalização e criação de rede de água e esgoto. Estávamos voltando ao passado!
Começou a cantar uma velha marchinha: "Lata d'água na cabeça! Lá vai Maria..." Sentia-se a própria Maria subindo o morro com uma lata de água, embora na verdade, andasse por cerca de 500m carregando um balde no braço direito.
Começou a cantar uma velha marchinha: "Lata d'água na cabeça! Lá vai Maria..." Sentia-se a própria Maria subindo o morro com uma lata de água, embora na verdade, andasse por cerca de 500m carregando um balde no braço direito.
Resolveu fazer uma dança xamã, pedir aos deuses que lhe dessem chuva para encher mais baldes... Não funcionava... estava calor demais, nenhuma nuvem no céu...
Parou duas vezes... já estava velha para essas coisas... e aí... uma miragem! Um senhor com uma mangueira, molhava uma árvorezinha na frente da sua casa... Correu até ele e fez uma proposta para lá de indecente:
- Meu amigo! Se eu vestir um maiô, você se importaria se eu tomasse banho com a água de sua mangueira e tirasse uma foto para mandar para o programa do Vagner Montes na Record reclamando da falta d'água?
O vizinho percebeu o descabido da situação e que sua atitude desperdiçando água era uma ofensa grave... Desligou a mangueira com o biquinho típico de uma criança mimada contrariada, pega em flagrante numa travessura...
Subiu suas escadas com sua água de cemitério, resgatou seu balde de água do ar condicionado e foi tomar seu banho de canequinha...
Hoje, acordou e encontrou água nas torneiras. Os vizinhos que a desculpem, mas tomou um gostoso banho, com a temperatura perfeita, deixando a água escorrer pelo seu corpo num prazer envolvente, quase sexual. No fim do banho, a água começou a falhar de novo... Encheu os baldes que podia e saiu, tentando respirar fundo e não entrar em pânico!
Quando colocou o pé para fora de casa, percebeu grossas gotas de chuva e a tempestade se formando com direito a raios, trovões e muita ventania... Se na véspera tinha reclamado de falta d'água, hoje tinha demais... Sua dança da chuva de ontem estava com delay!
Maldito São Pedro surdo que sempre se atrasava...
Quando colocou o pé para fora de casa, percebeu grossas gotas de chuva e a tempestade se formando com direito a raios, trovões e muita ventania... Se na véspera tinha reclamado de falta d'água, hoje tinha demais... Sua dança da chuva de ontem estava com delay!
Maldito São Pedro surdo que sempre se atrasava...
8 comentários:
Muito bom. Crônica leve e divertida
ResponderExcluirÉ muito bom ler uma crônica cujos fatos praticamente vivenciei, graças aos relatos pré-estreia. Adoro a forma como você descreve os acontecimentos e sensações dos personagens...mas isso acho que já falei outras vezes não é? Vou repetir sempre! Adorei!
ResponderExcluirVocê repetiu uma palavrinha aqui: "Abriu a porta e um um bafo quente invadiu sua sala."
Foi impossível não transformar em crônica, Patty... Se eu tivesse "pensado", talvez eu não teria comentado nada da falta d'água e aí seria uma surpresa, rsss
ResponderExcluirDevidamente Corrigido!
Sheila, irmã! Tks por nos visitar! Obrigada pelo comentário, sabe como é né? Está no DNA!
Uma crônica muito boa mesmo, gostosa de ler ^^
ResponderExcluirAdorei a parte
"- Meu amigo! Se eu vestir um maiô, você se importaria se eu tomasse banho com a água de sua mangueira e tirasse uma foto para mandar para o programa do Vagner Montes na Record reclamando da falta d'água?"
rsrsrsrsrsrsrssrsrs
Parabéns Sammy!!
Eu só faria uma alteraçãozinha no 16º paragrafo... ao invés de "tinham tido" eu colocaria 'Haviam tido' para soar melhor.
ps: São pedro não tem BR Turbo!!!
Dê, entendi sua sugestão, mas eu não posso usar haviam tido por dois motivos. Gramaticalmente ficaria incorreto.
ResponderExcluirO verbo Haver no sentido de TEMPO/Existir não pode ir para plural. E no singular, não funciona, porque o verbo haver precisaria ter o sujeito oculto, o que não é o caso. "Os vizinhos" é o sujeito da frase.
Mas concordo com você que ficou esquisito mesmo. Vou pensar numa alternativa para colocar ali!
Obrigada!
Antes tarde do que nunca, tô na área, se derrubar é pênalti!
ResponderExcluirEu já conhecia várias partes da história então não chegou a ser uma novidade para mim esta cronica. Bem escrita como sempre, gostei.
Só pra não deixar passar em brancas nuvens:
"Resolveu fazer uma dancinha da chuva, pedir aos deuses que lhe dessem chuva para encher mais baldes" - aliteração com chuva.
Beijo!
Corrigido, Nanda!
ResponderExcluirAproveitando que estou por aqui, a figura de linguagem que a Denize me corrigiu chama-se cacofonia que é o lance com a repetição de sons (tinham tido)
Genial, Sammy... eu adoro crônicas... e a sua foi digna de Murphy ("Nada é tão ruim que não possa piorar" rss)
ResponderExcluirComenta aê!