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Batata Quente 2 - Parte Final
palavras: açucarado - fecho-ecler - êmbolo -
pôster - lacrimejar
Batata Quente 2
FINAL
Suzanne olhava para o mestre gárgula desnorteada, os olhos arregalados.
- Você está bem? – Cristopher perguntou, preocupado.
- Deusa...? Gárgula? – Ela olhou lentamente para ele, os olhos
suplicantes, como se pedisse que ele lhe dissesse que tudo aquilo não passava
de um sonho.
- Sim,- ele assentiu devagar – é você.
- Não, não pode ser, eu sou tão insignificante! Não posso ser uma Deusa.
– ela protestou.
- Aceite sua verdadeira forma, - a voz do mestre soou rígida como pedra,
fazendo Cristopher e Górgon estremecerem. – é só o que precisa fazer.
Suzanne olhou de uma gárgula para outra, esperando que alguém
protestasse, mas nada aconteceu.
- O que devo fazer então? – perguntou, a voz fraca.
- Venha comigo. – o mestre falou.
Cristopher deu um passo a frente, mas Górgon o impediu e Suzanne seguiu
sozinha com o mestre para uma sala particular.
A sala parecia muito velha e nela havia apenas uma mesa de madeira
maciça, forrada de papeis amarelados, um pôster de uma enorme
gárgula numa das paredes, que Suzanne reconheceu como sendo o mestre, só que um
pouquinho mais jovem, e uma lâmpada fraca que pendia de um fio no teto.
- Você precisa se concentrar, Diinon. Feche os olhos e se concentre
nessas palavras: Sou uma gárgula!
Suzanne o olhou com receio, mas ele assentiu com a cabeça.
- Apenas faça isso, eu cuido de todo o resto. Confie e não se
desconcentre em hora alguma, eu lhe prometo que não vai doer nada, se você
mantiver a concentração. Imagine-se uma gárgula.
Suzanne assentiu, suando. Fechou os olhos e o mestre começou a fazer uma
prece em uma língua muito antiga, parecia mais antiga que o próprio mundo, e uma
energia azul, quase roxa, muito forte, começou a emanar dele, ele pôs a mão
sobre a cabeça de Suzanne, que tremia como se um frio intenso a castigasse.
Ela sentia tudo se remexer dentro dela, em sua mente ela repetia “sou
uma gárgula, sou uma gárgula...” e via imagens de várias gárgulas diferentes,
seu estomago dava nós atrás de nós, ela sentia como se um êmbolo* estivesse
ali dentro, fazendo tudo girar e pressionando seu estômago de um lado para o
outro.
Por um instante pensou em seus pais, em sua vida normal, tudo que
deixaria para trás se realmente se tornasse uma gárgula, e uma dor imensa
transpassou seu peito, como uma estaca enfiada em seu coração, ela gemeu e
começou a lacrimejar, o mestre estremeceu e sua magia diminuiu, mas
Suzanne recuperou a concentração rapidamente, sentindo que seu corpo todo
formigava, uma energia cada vez mais intensa passava pelo seu corpo.
De repente Suzanne começou a ter consciência de muitas vidas, memórias
de muitas décadas da história do mundo estavam ali em sua mente, ela não era
mais a menina indefesa de 18 anos, era a Diinon.
A magia havia cessado e ela abriu os olhos, imediatamente o mestre
ajoelhou-se em reverência. Suzanne estava transformada em uma gárgula de estatura
maior que as outras, e era um ser lindo, apesar do corpo de pedra, as asas
enormes e garras muitíssimo afiadas, os olhos brilhavam num verde intenso e ela
era bela, muito bela.
- Vamos, temos muito que fazer meu Senhor e servo. – ela disse, sua voz
soava alta e imponente, era a mesma voz de Suzanne, mas mil vezes mais autoritária.
O mestre se levantou e a seguiu, quando adentraram a sala onde
Cristopher e Górgon esperavam, os dois ajoelharam-se. Cristopher lançou um
olhar ainda mais apaixonado à Deusa.
- Levantem-se, - ela ordenou. – vamos destruir La unua.
- Suzanne...- Cristopher suspirou.
- Sou sua Diinon, me chame assim. – ela disse, mal olhando
para Cristopher, e seguiu caminhando serenamente em direção ao portão.
Lá fora La unua já esperava por eles, ele queria mais que um
gole do sangue da Deusa, ele queria exterminar toda a raça gárgula. Quando a
Deusa apareceu bem diante dos seus olhos ele uivou, amedrontado. Cristopher e
Górgon apareceram logo atrás, mas não precisavam fazer nada, a Deusa por si só
era capaz de matar um bando de vampiros sozinha.
Para mostrar seu poder, quando La unua levantou voo a Deusa
rapidamente voou até ele agarrando-o, ele agora estava em pânico, precisava da
Deusa ainda em estado humano para poder acabar com todos, agora que ela tinha
sofrido a transformação ele sabia que não teria chance alguma. Ela simplesmente
agarrou-o pelos ombros e rasgou-o ao meio, como se estivesse abrindo um fecho-ecler**, e depois lançou-o ao
chão enquanto ele virava poeira.
Cristopher e Górgon olhavam maravilhados o poder da
Deusa. Quando ela pousou ao lado deles, Górgon pediu licença e com uma reverência se retirou e voltou ao seu lugar de
estatua, dizendo apenas:
- Meu serviço aqui terminou. – lançou um ultimo olhar desaprovador
para Cristopher e virou pedra outra vez.
- Suzanne... digo, Diinon, - Cristopher estava encabulado,
não sabia como prosseguir. – você... a Senhora, disse que me amava, ontem mesmo
enquanto ainda era humana.
Ela o fitou, confusa. Suas memórias humanas haviam sido
apagadas no instante em que se transformara em gárgula, na sua mente haviam
apenas as memórias de séculos como a Deusa das estátuas vivas.
- Você, pequeno aprendiz, - ela falou, a voz doce – tem um
cheiro açucarado, – ela tentou fazer
soar como um elogio, de certa forma compadecia-se com a paixão dele – mas é
ainda muito fraco. Se se apaixonou por uma mortal em sua missão, sendo eu, a
Deusa, ou qualquer outra pessoa, é ainda dependente demais dos sentimentos, não
pode ser assim, isto te causará a destruição um dia.
- Mas, eu tenho certeza que não! Meu amor por você é o mais
puro que existe, não me importo se sou uma gárgula ou o que quer que seja! Esse
amor não vai morrer.
Ele tinha lágrimas nos olhos, estava em sua forma humana e parecia totalmente indefeso, tentando convencê-la de seus sentimentos, não acreditava que ela simplesmente esqueceu que o amava.
- Se você assim diz, bravo iniciante, prove-me! Dou-lhe um
século para se tornar o mais forte e perspicaz dos guerreiros, um século para
me fazer te amar, começando agora.
Ela sorriu-lhe e entrou no portal, deixando-o de boca aberta
e sem reação, até que o dia clareou e ele transformou-se em pedra de novo.
*Pistão
**Zíper
3 comentários:
Run, Cristopher, run!
ResponderExcluirUm século passa voando meu amigo, melhor correr, rs.
Bravo, Olhos, Bravo! Mandou muito bem, desfecho bombástico para nossa trama coletiva. Parabéns mesmo, gostei de verdade!
Não achei nada para chamar a atenção, arrasou, gatona.
SENSACIONAL!!! Um final surpreendente Olhos! Sabe quando a gente já imagina aquele finalzinho água com açúcar de viveram felizes para sempre? Pois é...eu até gosto de finais assim mas...vc dignificou esse final com uma prova de amor! \0/ PARABÉNS!
ResponderExcluirEstou tão orgulhosa do nosso conto coletivo! Todos participaram (até o Balta!)e se envolveram. Parabéns ao grupo! E agora a Olhos nos dá o presente de um final fantástico!
Mais uma coisa...vc arrasou no uso das palavras Olhos! Encaixou direitinho sem parecer forçado nem nada. Viu tia Sammy como ela é boa nisso?
Agora eu estava pensando aqui...não seria bom se juntássemos todas as partes em um post só? É realmente difícil ir encontrando todas as partes.
sim sim, se quiser eu faço o post.
ResponderExcluirQue bom que gostaram amigas!!
E, serio, não se preocupem em me dar um desafio achando q é dificil demais, eu AMO desafios e sempre vou tentar fazer o meu melhor pra vocês ^^
Comenta aê!