9

Texto Inspirado em Sonho

Posted by Marcinha on 23 de janeiro de 2013 13:17 in , , , , ,
Não costumo me lembrar com detalhes de meus sonhos, embora desde sempre eu ache essa "vida interna" que todos nós temos fascinante. Quase sempre, por mais que eu faça um esforço consciente, só me recordo de cenas rápidas e soltas.

A exceção são os raros sonhos que me marcam muito, quase todos pesadelos.

No dia treze deste janeiro tive um desses pesadelos. Acordei tão impressionada (e feliz, devo acrescentar) que precisei escrever um texto que eternizasse minha aventura daquela noite.

Compartilho com vocês minha saga épica!

O guerreiro

Quando dei por mim, estava dentro das muralhas da cidade. Havia tumulto entre os guardas, que se movimentavam rapidamente, correndo pelas ruas de pedra. Deduzi que já tinham conhecimento da minha presença. Precisaria ser ainda mais cuidadoso.

Ouvi rosnados impregnados de raiva, e o estalar de ossos se partindo juntamente com o dilacerar da carne lavada em sangue. A fera, que eu não podia ver enquanto me ocultava atrás da amurada, estava se alimetando da vítima que acabara de abater. Com um sorriso de desdém, pensei, "se tantos sentinelas não conseguiram me parar, não será a besta que mandaram para me caçar que o fará". Esgueirei-me para a extremidade da amurada, e então pude vê-lo.

O animal tinha uma aparência deformada e terrível. Era algo parecido com um cão, mas a ausência de pelos e o formato encalombado do crânio o tornavam repugnante. Possuía fileiras de dentes expostos, pontiagudos e manchados de sangue, e músculos enormes para um animal daquele porte. Seja lá quem tenha feito isto, mago ou alquimista, havia modificado aquela criatura para tansformá-la em uma máquina de matar.

O animal farejou o ar, e voltou o olhar e uma passada na minha direção. Saquei a espada das costas, e a segurei com firmeza na frente do corpo, sentindo os músculos dos braços se retezarem na expectativa. Havia atravessado grande parte da cidadela incógnito, eu ainda não havia provado sangue naquele dia. Senti que minha espada estava limpa por tempo demais.

Recuei alguns passos, até me aproximar de um aldeão bêbado que caíra na rua. A fera me olhava, medindo-me. Cravei a espada no peito do bêbado, atravessando-o até as costas. Não deve ter sentido nada, o pobre bastardo. Entretanto, me forneceu o sangue de que minha espada precisava para atrair a criatura. Avancei em direção a fera, com a espada apontada para a face hedionda. A fera inalou o sangue grosso e alcoólico que gotejava de minha lâmina, parecendo hipnotizada. Rosnou novamente, enquanto acompanhava o movimento da lâmina ensaguentada com o olhar. Assim que abriu a boca para um urro intimidador, eu o golpeei com rapidez, introduzindo a arma pela boca da fera numa estocada profunda e seca, que lhe atravessou o crânio. Girei a espada com força e ouvi os ossos do crânio de partirem, enquanto o corpo do animal tombava sem vida. Puxei minha espada de volta, empurrando a carcaça com a sola de minha bota para longe. Um breve olhar para a minha arma me encheu de prazer; ensanguentada afinal. O cheiro metálico do sangue fresco excitava todos os meu sentidos. Eu estava pronto e ansioso para começar a matança.

Caminhei a passos rápidos pelas ruelas de pedra, subindo, rumo ao castelo. Os sentinelas corriam em direção a mim e logo tombavam. Girando o corpo, eu os golpeava com agilidade, sentindo meus cabelos grudarem no rosto com o suor da batalha. Dezessete homens eu golpeei, mandando-os para o inferno, antes de alcançar o castelo.

Por três vezes me atirei contra a porta de madeira maciça. A tranca se rompeu, e a porta cedeu, mostrando o imenso salão real. No trono onde o rei deveria estar, sentava-se um homem rude vestido de peles, os cabelos ruivos trançados segundo o costume do seu povo. Maldito seja, conquistador infame. Movendo seus exércitos como uma nuvem de gafanhotos, arrasando povoados, pilhando riquezas, sem nunca se satisfazer. Sua era de terror acaba hoje, no gume da minha espada. Vá pilhar o inferno, não a terra onde eu nasci!

Ele se levantou de um salto ao me ver entrar; era imenso e selvagem, com seu cabelo cor de fogo. Avancei a passos rápidos em sua direção, o ódio me queimando por dentro, me endurecendo como um homem que não teme nada. Ele urrou; o grito de guerra de um animal, e correu para mim com o brilho da loucura no olhar. Brandia um machado com fúria, cortando o ar com a mesma gana com que pretendia dilacerar-me a carne. Arremessei minha espada com rapidez, antes que se aproximasse o suficiente. A arma zuniu pelo ar, rodopiando, e atravessou a testa de meu inimigo, espalhando sangue na saída atrás do crânio. O gigante ruivo tombou aos meus pés. Cuspi nele. Retirei minha arma daquela face imunda e escrevi minha incial com a ponta da minha lâmina no peito dele. Minha presa. Abatida.

Retirei uma faca da bota, e comecei a cortar a pele do crânio. Ele é meu, eu o matei. Quero levar esse cabelo de fogo comigo.

Amarrei meu troféu pelas tranças, como um nó apertado no meu cinto. Olhei a carcaça do meu inimigo no chão por uma ultima vez, a expressão de horror que lhe ficou na face na hora da morte, seu crânio perfurado e descarnado. Cuspi nele novamente, e me voltei para a saída.

Limpei a lâmina da espada na cabeleira que pendia do meu cinto, e guardei minha arma na bainha às minha costas. Está feito.

Parti em silêncio.

|
Gostou?

9 comentários:

  1. Nossa! Li num fôlego só. Que estória/sonho mais legal! Eu tbm as vezes tenho sonhos tão estranhos e tão envolventes que ficam ali na memória por meses esperando q eu escreva sobre eles, mas já faz uns 3 anos q nao escrevo mais meus sonhos :(
    Me lembrou um pouco Assassin's Creed rsrsrsrs
    Adorei mesmo!

    ResponderExcluir
  2. Antigamente eu tinha um caderno que ficava na minha mesinha de cabeceira. Era para anotar as partes principais do sonho que tive, assim podia me lembrar deles depois que as memorias começassem a se apagar. Depois de um tempo, perdi o costume, mas a ideia é boa, deixo aqui a "dica do verão" para vcs, rs.

    Eu li esse texto em primeira mão (vantagens de ser irmã da autora, desculpaê) e repito o que eu disse na época: FODASTICO.

    Muito bem escrito, parece mesmo um livro de um autor conhecido. Mandou muito bem, mana. Que bom que vc publicou e trouxe à luz essa estória tão boa.

    Denize: arrasou hem, gatona? Primeirona nos comentários, adorei!

    ResponderExcluir
  3. Estou tentando me manter eu dia com o blog, só isso ^^

    ResponderExcluir
  4. e eu estou dizendo que reconheço seu esforço, só isso. ^^

    rsrsrsrsrsr
    (não resisti te zuar, malz aê!)

    ResponderExcluir
  5. PQP!!! Que texto do caralho!!!
    Amei!

    Adoro esse tipo de texto (me lembra muito o Cornwell e as descrições de batalhas) e está muito bem escrito. As frases, inspiradas e com descrições bem colocadas.

    Amei esses trechos:
    " O cheiro metálico do sangue fresco excitava todos os meu sentidos. Eu estava pronto e ansioso para começar a matança."

    "Sua era de terror acaba hoje, no gume da minha espada. Vá pilhar o inferno, não a terra onde eu nasci!"

    "Dezessete homens eu golpeei, mandando-os para o inferno, antes de alcançar o castelo. "

    PQPPP, que inspiração, guria!

    Algumas sugestões de correções bobas...

    Na primeira frase: acho que falta uma vírgula aí antes de fascinante.

    "...criatura para tansformá-la..."
    transformá-la (faltou R)

    Retesarem é com S

    "Os sentinelas corriam em direção a mim" - só uma sugestão, acho q ficaria melhor: 'corriam em minha direção'

    Marcinha, eu me arrepiei toda com a descrição. Eu vivi a cena junto com você e ouso dizer, que não foi um sonho. Mas uma lembrança de uma vida passada, tão bem descrita, que nos levou até lá.

    PARABÉNS!

    ResponderExcluir
  6. Obrigada, meninas! Fico feliz que vocês gostaram!
    Ah, Denize, volte a escrever sobre seus sonhos! São uma fonte de inspiração muito boa mesmo!
    Nanda, eu tenho cadernos assim também, apesar de estarem bastante abandonados... essa técnica é muito interessante mesmo, vai "treinando" a gente a lembrar cada vez mais.
    Detalhe, alguma de vcs já sonhou alguma vez que era homem, como foi no meu sonho? Gente, foi impressionante! Não me lembro de ter acontecido outra vez, e, nooooossa, eu era muito gato, hahahahahaha...

    ResponderExcluir
  7. Uau, Sammy, vlw! Obrigada pelas dicas e essas frases que vc citou, nossa, eu amei tb! Pois é, né menina! Foi muito real! Acho que eu já fui assim meio bárbaro.

    ResponderExcluir
  8. Marcinha do céu!!! Há eras não lia um texto seu e vou te falar...estou impressionada!!!! Que sonho mais doido! Acho que é coisa de outra vida mesmo. PARABÉNS!!!
    BEM VINDA DE VOLTA AO MUNDO DOS ESCRITORES! ^^

    ResponderExcluir
  9. Obrigada, Paty! Eu também estava sentindo falta de escrever e de ser lida! Obrigada pelo incentivo que vc sempre me deu, minha linda!

    ResponderExcluir

Comenta aê!

Copyright © 2009 Retalhos Assimétricos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive.