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Desafio Musical - Ovelha Negra, Rita Lee
Posted by Giulia Rizzuto
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3 de fevereiro de 2013
05:30
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Essa música foi o tema do meu desafio. Bom, aí vai!
Carta de uma Rebelde
“São Paulo, 22 de Fevereiro de 2013.
Queridos mãe e pai,
Vocês devem estar se perguntando: “O que Jaqueline aprontou dessa vez pra mandar uma carta após tanto tempo?”. Eu não chamaria de aprontar, mas sim de aliviar. Aliviar a vida de vocês, tornar tudo mais fácil. Afinal, com uma filha problemática como eu tudo se torna mais difícil, não é mesmo? Pois é, por isso decidi ir embora. Não temporariamente, mas pra sempre. E por quê? Bom, todos nós sabemos que há 23 anos sou a ovelha negra da família, ou seja, desde que nasci. Nunca nada que eu fiz foi certo pra vocês, eu sempre “denegri a imagem da família Bustamante”. Desde as tatuagens, raves e shows de rock até os amigos e as saídas ás 2 da madrugada. Desde meus cigarros até minha pequena adega escondida no meu closet. Eu nunca fiz nada certo. Para vocês, eu deveria ser perfeita como minha irmã Clara: notas irrepreensíveis, delicada, recatada, obedecendo-os cegamente e sem nenhuma opinião formada por si mesma. Eu deveria ser uma bundona, com o perdão da palavra. Mas não, eu decidi ser diferente. Eu decidi provar pra todo mundo que o fato de eu ser de família rica não me faz medíocre como vocês. E o mais difícil é que, apesar de tudo isso, apesar de vocês me odiarem (ou odiarem meu jeito), eu amo vocês. Mais do que eu deveria.
Lembram quando eu quis montar uma banda de heavy metal e vocês me proibiram, dizendo que era coisa de drogados? Pois é, eu tenho uma agora, e eu não me drogo. Lembram quando vocês me disseram que se eu fizesse alguma tatuagem, além de não poder trabalhar na empresa da família, eu não conseguiria emprego em nenhum outro lugar? Bom, eu consegui. Eu estudei, me dediquei, fiz cursos. Agora, trabalho como gerente de um estúdio de tatuagens aqui em São Paulo.
Aliás, vocês nem devem sequer saber que moro aqui, não é? Levando em conta que já se passou um ano e meio desde que eu fui embora e só agora tomei coragem de lhes escrever. O que eu mais quero que vocês percebam é que eu venci. Mesmo vocês torcendo contra, eu consegui vencer. Mesmo com as tatuagens, os alargadores, piercings, enfim. Tudo o que vocês condenaram.
Quantas vezes me senti uma verdadeira perdedora, afinal, vocês sempre frustraram meus planos e vontades. Vocês sempre repetiram incessantemente de que eu não teria futuro. Bom, eu tenho um. E pretendo começar a fazer faculdade no próximo semestre, inclusive. Engenharia.
Eu sempre fui boa em Matemática, embora vocês não saibam. Vocês nunca acompanharam meu rendimento escolar, portanto não sabem que minhas notas também eram as maiores da sala, como as da Clara. Mas eu era a rebelde, lembram? Eu não merecia a atenção de vocês. Vocês nunca foram às reuniões escolares da minha turma, e quando eram chamados, sempre arranjavam um compromisso como desculpa para faltar.
Sabe, vocês me deixavam sempre tão pra baixo que eu queria morrer, sumir do mundo. Me senti, por muito tempo, a ovelha negra da família, uma vergonha. Como naquela música da Rita Lee:
“Foi quando meu pai me disse: filha,
Você é a ovelha negra da família.
Agora é hora de você assumir
E sumir.”
Bom, eu fiz isso, eu sumi. Vocês devem estar felizes com isso, afinal não me procuraram. Nem um SMS, nem um cartão postal, nem uma ligação. Nada.
Enfim, vou terminar essa carta com um apelo: não a respondam. Sei que a resposta seria mais um daqueles sermões de você-não-vive-sem-nós ou você-depende-de-nós-pra-tudo. Eu conseguir fazer minha vida, sem vocês.
Mas ainda assim, vos amo.
Abraços,
Jaqueline Bustamante, a garota que venceu.”
6 comentários:
Uau, Giulia, arrasou! Adorei a idéia do texto formato carta, como um desabafo, ficou muito bom! Deu voz à Jaqueline para que ela dissesse coisas do tipo "Eu deveria ser uma bundona, com o perdão da palavra. Mas não, eu decidi ser diferente. Eu decidi provar pra todo mundo que o fato de eu ser de família rica não me faz medíocre como vocês." Isso é ter personalidade! Achei que vc foi brilhante, Giulia, em nos mostrar de uma forma tão simples e prática o quanto as pessoas se afastam sem nem mesmo se conhecer, por causa de uma maldição chamada preconceito.
ResponderExcluirForam muito bem lembrados os tópicos que vc abordou, as tatuagens, o heavy metal... eu posso dizer de cadeira o que é vc sair pra caminhar com uma blusa preta do AC/DC e uma Testemunha de Jeová te mirar de longe e já ir catando um panfletinho na bolsa pra te dar. Nanda contra as TdJ, nem contra os panfletos, que eu gosto bastante de ler. Mas tem muuuita gente caminhando de manhã na orla comigo, por que minha camisa do AC/DC fez diferença? Por que o panfleto só pra mim? Agora passo a entender por que as blusas de Heavy são pretas. Pois bem, sou Ovelha Negra com orgulho! Enfim, divaguei, rss...
Adorei também a citação de parte da letra na carta para os pais. Seu texto foi muito bom mesmo, parabéns, Guilia Rizzuto (a garota que se superou nesse) :)
Obrigada Marcinha! Esse texto foi meio que um desabafo á esse estigma que tem hoje em dia, de que rockeiros não são boa companhia e tudo o mais. Que bom que gostou!
ResponderExcluirAdorei o texto! Em partes porque a ideia de fazer em forma de carta foi muito legal, em parte porque me identifikei um pouco. Quando era mais nova era a rebelde, sempre fui a ovelha negra da familia, ainda hoje, casada e com uma filha, sinto q meus pais não aprovam nada do q eu faço, eles ainda me dizem isso sempre! E se eu tenho um desejo forte dentro de mim é o desejo de mostrar pra eles q posso ser bem
ResponderExcluirsucedida do meu jeito! E quero mostra isso a eles atraves dos meus livros, quero um dia ser uma escritora conhecida e bem sucedida, porque isso é o que eles sempre mais me recriminaram por fazer, ler e escrever.
Não achei nenhum erro gritante no texto, só la no finalzinho vc escreveu " Eu conseguir fazer minha vida, sem vocês." tem q tirar o R.^^
Parebens pelo texto!
Giulia...que ideia ótima essa da carta! Eu acho que, independente de realmente ser considerado um rebelde, todo adolescente tem desabafos a fazer com relação à família. Eu mesmo tive os meus, e sinto que minhas filhas tbm não são completamente satisfeitas com a vida que levam. Acho que faz parte da juventude, essa energia toda que os adultos não compreendem.
ResponderExcluirParabéns! Coerência completa com a música!
Giulia!
ResponderExcluirVocê me surpreendeu, guria! Amei o formato de carta!
Acho que o legal dos desafios é isso mesmo, nos fazer pensar uma forma diferente de apresentar o texto. E você acertou em cheio. Essa carta-desabafo, está cheia de trechos que gostei muito:
Amei:
Eu deveria ser uma bundona, com o pedrão da palavra" - apesar da agressividade, esta frase é perfeita. Totalmente Rita Lee! Você incorporou mesmo a revolta!
"Pois é... tenho uma agora e não me drogo" - Caraleo! Que porrada!
"Jaqueline Bustamante, a garota que venceu" - Fantástico. Gostei muito mesmo e em forma de carta, não ficou excessivo, ficou na medida certa.
Sugestões de correções:
Logo no primeiro parágrafo, há 4 mais (dois 'mas'(conjunção) e dois mais(adv intensidade). Mesmo assim, com sentidos e grafias diferentes eles fazem uma figura de linguagem parecida com a aliteração, essa, chama-se assonância. Sugiro procurar algum sinônimo para colocar nos lugares e evitar as repetições.
"Nunca nada que eu fiz" - faltou uma virgula para criar o aposto e dar sentido à frase "Nunca, nada"
"Mas não, eu decidi... Eu decidi..."
A aliteração pode ser resolvida com a retirada do pronome "eu" e o verbo 'querer'
Não vou citar todos, mas no terceiro e quarto parágrafo você usa muito 'eu'. Experimenta suprimir algumas vezes (eu garanto que não perderá o sentido da frase!) para conferir uma leveza maior na leitura.
E dá uma olhada na sugestão da Denize, sobre a última frase ('conseguir fazer')
Parabéns guria! Eu não disse que você tem grande potencial?
Bom, né? Chegar la na frente e falar: "Pai, mãe, vcs não me apoiaram, mas foda-se, eu consegui!"
ResponderExcluirMuito show o texto, bem escrito, gostei. Mandou bem Giulia! Concordo com todas, o formato de carta foi bem inovador. Não lembro de termos um texto aqui no blog neste formato. Agora, como eu sempre fui a filhinha CDF que fazia tudo certo, não posso dizer se o contexto está verossímil, porque passei pela minha adolescência sem crises. Sim, eu sou uma parva. kkkk.
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