5
Na Segunda Caverna de Zenthor (A Guerreira e o Ogro - capítulo 3)
Posted by Marcinha
on
2 de junho de 2013
06:00
in
a guerreira e o ogro,
fantasia,
guerreira,
Marcinha,
ogro,
série
Assim que terminou a mistura que resultou em um vasilhame repleto de tinta vermelha, o ogro selou o pote colando a tampa com cera quente, para que não entornasse no caminho. Em seguida, ele tomou um alforje grande onde colocou a tinta e algumas ferramentas e, jogando-o às costas, fez sinal para que a guerreira o seguisse. Ela agarrou a espada e prendeu-a a cintura, sem parar de caminhar, acompanhando o ogro que andava a passos largos. Em vários trechos Markka teve de apressar o passo a fim de não ficar para trás, enquanto se perguntava como uma criatura pesada a ponto de fazer o chão tremer sob seus pés podia ser ágil daquela maneira.
Depois de um quarto de hora seguindo por uma trilha em meio à vegetação alta, o ogro parou e olhou atentamente a toda a volta. Depois de ter certeza que estavam sozinhos, ele afastou a densa trama de cipós e folhagens que se dependurava sobre a pedra, revelando uma rocha enorme que estava solta da parede. Ele a moveu para o lado com um pouco de esforço, revelando a entrada da caverna. Fez um sinal para que a guerreira entrasse, e selou a entrada novamente, trancando-os por dentro.
O coração de Markka acelerou um pouco, e ela roçou o braço discretamente no punho da espada, só para sentir a presença de sua arma. Respirou fundo, a fim de dissipar a apreensão que ameaçava dominá-la, e que já fazia a cabeça doer um pouco. Olhou em volta, tentando deliberadamente se distrair.
A caverna era imensa em seu interior, e modestamente iluminada por uma abertura no teto, há uma boa altura do chão. Alguns cristais dispostos estrategicamente, refletiam o sol que fluía pela abertura, propagando a luz por todo o interior. A guerreira ficou bastante admirada com a engenhosidade do ogro.
Zenthor depositou o alforje sobre uma bancada de pedra e dirigiu-se ao fundo da caverna, onde havia um grande volume oculto por uma espécie de lona, inteiramente costurada com o couro de vários animais. O ogro removeu a lona com um puxão para o alto e esta esvoaçou, revelando uma sólida carroça de madeira.
– Aí está. – disse o ogro finalmente.
Markka olhou admirada a imensa carroça a sua frente, robusta como se o ogro a tivesse projetado para suportar qualquer intempérie ou guerra. Ela encarou o ogro, e assentiu com um leve arquear de sobrancelha, então pôs-se a circundar o veículo sem nada dizer.
A carroça era alta e confortável, com dois sólidos bancos de madeira dispostos um atrás do outro, onde seis poderiam se sentar com folga. Mais atrás havia um bom espaço, notadamente um compartimento de carga. Toda a carroça era coberta com uma estrutura retrátil em madeira e couro, permitindo que o veículo pudesse ser usado com teto ou sem. Por baixo do corpo da carroça corriam dois eixos robustos que sustentavam quatro rodas de madeira maciça, com mais de um palmo de espessura, visando dar maior estabilidade. Markka se deteve quando percebeu que, nas sólidas rodas de madeira, o ogro havia entalhado em cada uma um desenho que lembravam uma grande estrela de cinco pontas.
– Qual a função do desenho nas rodas? – perguntou ela, intrigada.
– Apenas estética. – respondeu o ogro, satisfeito com o interesse dela.
E a estética não parara por aí, como a guerreira bem pode constatar. Haviam aparadores sobre cada uma das rodas, com o intuito de reter a lama desprendida com o movimento. Mas, longe de serem apenas peças funcionais de madeira, elas foram cuidadosamente esculpidas em formato côncavo, depositando-se como conchas emborcadas nas laterais, cada uma sobre sua roda.
A frente do veículo haviam dois varões robustos de madeira entalhada, entrelaçados por filetes trançados de couro. A guerreira deduziu que eram arreios para mais de um animal.
– Já possui os animais para puxá-la? – indagou a guerreira.
– Ainda não, mas pretendo adquiri-los em breve. Há alguns dias recebi a resposta de um criador do norte, dizendo que os bisantes agora já tem idade para serem negociados. Quero comprar dois machos jovens, e para isso precisarei viajar. – explicou o ogro – Não quero perder este lote, ouvi dizer que esta é a ninhada com as pernas mais robustas que ele conseguiu desde que começou a cruzar esta nova linhagem.
– Com que outro animal ele tem cruzado os bisantes comuns?
– Acho que nunca se saberá. Muitas moedas de ouro já foram gastas em cerveja de primeira, mas o velho nem assim revela seu segredo. É desse mistério que ele vive.
A guerreira assentiu, e tornou a rodear a carroça, investigando os detalhes, sentindo o relevo entalhado enquanto deslizava a mão pela superfície. O ogro a observava, satisfeito com a reação dela, sentindo-se orgulhoso em ver seu trabalho admirado.
Quando ela se voltou para falar, os olhares se encontraram e ela ficou constrangida por um breve momento. Sentia-se um pouco devassada quando a observavam daquela maneira. Respirou fundo e voltou ao que ia dizer:
– Você fez realmente um belo trabalho nessa carroça, Zenthor. – disse ela – É bastante habilidoso. Espero que os animais que irá adquirir sejam belos e robustos como o veículo que irão conduzir.
– São bizantes quase comuns, guerreira, com a típica cabeça roliça e baixa, os chifres enrolados, a pelagem comprida e espessa, só diferenciados pelas pernas troncudas. Segundo o mercador há novilhos castanhos e negros com ele e preciso me decidir sobre quais pretendo comprar, para que possa comprar o couro dos bancos na mesma viagem. Talvez traga couro a mais para trocar toda a capota. Quero que combinem. – explicou o ogro, com naturalidade.
A guerreira sorriu discretamente. Começava a admirar o perfeccionismo do ogro.
– Por que não viaja comigo? - disse o ogro, repentinamente.
– Para que eu iria? É uma longa viagem, se bem me lembro onde os criadores do norte se estabeleceram. Além do que dois viajantes significam despesas em dobro... e problemas em dobro também.
– Pense no lado bom das coisas. – insistiu o ogro – Você poderia me ajudar a escolher os animais e o couro que melhor combinasse com a carroça; duas cabeças são melhores do que uma. Além disso...
– Mas Zenthror...
– ... preciso de um segundo cavaleiro. Como vou montar dois bisantes na viagem de volta?
Markka sabia que os bisantes poderiam seguir tanquilamente em caravana, se Zenthor apenas atrelasse o segundo animal a sua montaria. O fato é que ele insistiria até que ela concordasse com a viagem. Alguém com persistência suficiente para construir sozinho uma carroça tão rica em detalhes tinha mesmo de ser um cabeça-dura-insistente. Mas em vez de se exasperar, ela começava a achar isso um pouco engraçado.
– O que me diz? – insistiu o ogro mais uma vez – Me ajuda a trazer os bizantes na viagem de volta? Ou acha que não conseguiria montar um deles?
– Ah, sem essa hein! – ela teve de rir – Esta bem, chato. Um viagem longa, gélida e exaustiva. É. Por que não?
.....
(Nota da Autora: os seguimentos anteriores desta saga podem ser lidos nos links a seguir: Capítulo 1 e Capítulo 2 .)
.....
(Nota da Autora: os seguimentos anteriores desta saga podem ser lidos nos links a seguir: Capítulo 1 e Capítulo 2 .)
5 comentários:
Essa Markka é uma casquinha mole, vou te falar! kkk.
ResponderExcluirE, como diz o Silvio Santos: "Vai dar namorooooo", huahuahua.
Show, que venham os bizantes!
Mana, achei uma palavrinha errada "comaçava". Ótima saga! Aguardando ansiosamente domingo que vem.
Beijo.
Obrigada, Nanda! Erro de digitação ja reparado!
ResponderExcluirAh, quer dizer que a desconfiada sinistra virou "uma casquinha mole"? aff! Mas é, ela tá baixando a guarda, rss...
Tb estou adorando!
Aaaaah que show! Agora eles vão viajar juntos, e vem maaais aventura por ai! -aguardando-
ResponderExcluirAchei outros errinhos de digitação:
"era coberta com um estrutura retrátil" - UMA
"veículo que iram conduzir." - IRÃO
"o chifres enrolados" - OS
Obrigada, Deni! Errinhos corrigidos!
ResponderExcluirSim, teremos mais um capítulo antes, depois viagem à vista! *-*
Quinhentos séculos depois venho comentar, finalmente consegui um tempinho...
ResponderExcluirGosto do jeito como você escreve quando conta história medieval... Usa o estilo da época, até mesmo a contagem de horas e distância, demonstra a preocupação que você tem de manter o texto gostoso e que funcione com a época/local falados.
Trecho que gostei MUITO:
"Alguns cristais dispostos estrategicamente, refletiam o sol que fluía pela abertura, propagando a luz por todo seu interior."
Eu usaria TODO espaço de comentário, praticamente colando todos os trechos que adorei, mas aí perde a graça né?
Mas adoro a trama, o tipo de texto, e sou apaixonada pelo tema. Esse conhecimento mútuo do "casal" está sendo tão natural, que fico ansiosa por ver eles mais do que apenas bons amigos...
Pequenas Correções:
1° Parágrafo: Ela agarrou a espada e prendeu-a a cintura (Não seria prendeu-a na cintura?)
4° Parágrafo: há uma boa altura do chão. (A uma boa altura do chão)
Nota da autora: Seguimento (Segmento = pedaço)
Comenta aê!