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Resposta ao Desafio do Dia dos Namorados por Marcinha

Posted by Marcinha on 9 de junho de 2013 06:00 in , , ,

Olá Retalhenses e leitores! Antecipando o Dia dos Namorados, venho postar meu texto, baseada na bela imagem que recebi do meu marido. Espero que todos gostem e, particularmente, que ele goste e que saiba que escrevi este texto com o mesmo carinho com que ele escolheu esta imagem para mim.

Como a maioria dos meus textos, este também fala de coisas incomuns e usa meios pouco ortodoxos para levar sua mensagem.

Acima de tudo, o texto de hoje conta a história de um homem que ama com uma profundidade incomum.




A Loba

Estava desaparecida há três meses quando ousou aproximar-se de casa novamente. Sentia-se profundamente angustiada naquela noite. Era o primeiro Dia dos Namorados que passaria sem ele em tantos anos quantos podia se lembrar.
Rodeou a casa com a leveza de uma animal selvagem. Expiou pela janela do quarto, encoberta pelo manto da noite. Lá estava ele como de hábito, sentado ao computador. Mas estava tão diferente...
Havia emagrecido e aparentava um enorme pesar. Observava uma foto após a outra na tela como se nem ao menos as visse. Seu movimento ritmadamente mecânico dava a certeza de que sua mente não estava focada no que fazia.
Estaria pensando nela?
Desviou os olhos da janela e se recostou a parede, tentando retomar o foco. Não era hora pra se perder em devaneios românticos. Para dizer a verdade, fora uma total idiotice ter vindo.
Respirou fundo, com os olhos fechados, preparando-se para correr para longe dali. Entretando, mesmo com as pálpebras cerradas, pode perceber a mudança na luz.
A lua estava prestes a aparecer por entre as núvens. Droga, era só o que faltava.
Moveu-se rapidamente cruzando o quintal, no momento em que a lua brilhou no céu por um instante. A idéia de colocar um vestido branco esvoaçante naquela noite fora a pior de sua vida. Se fosse vista cruzando o quintal iluminada pela lua pareceria um fantasma. Escondeu-se quieta nas sombras, já encostada ao muro oposto, torcendo pra não ter sido vista durante a travessia. Só precisava de alguns minutos pra se recuperar do sufocamento que sentia.
Mas a noite estava prestes a piorar. O dono da casa vira seu vulto fantasmagórico. Abriu a porta da casa num rompante e se pôs a escutar atento.
Ela o conhecia. Sabia que estava armado.
"Merda!", ela praguejou num sussurro.
Ouviu os passos dele pelo quintal, procurando pelo invasor, com a arma em punho. Ela levou a mão à garganta, sorveu o ar com desespero, curvou-se para frente, apoiando as mão nos joelhos. Precisava dominar a sensação. "Oh, Deus, faça com que as nuvens se fechem novamente", ela implorava internamente.
O cenário a sua volta sumia e reaparecia por breves momentos. Sentia o suor frio lhe brotar da testa enquanto lutava para continuar respirando. As nuvens abrandaram a luminosidade da luz parcialmente.
- Ponha as mão onde eu possa ver! - o dono da casa ordenou secamente, já com a arma apontada para a cabeça dela.
Um rosnado de desprazer lhe escapou dos lábios, e ela se ergueu num rompante, tendo os olhos inflamados de fúria. O homem a sua frente ficou lívido assim que a reconheceu.
- Martha?!
- Júlio. - ela grunhiu com esforço.
- Você... ah... meu Deus... pensei que estava morta... a polícia... nenhuma nótícia sua... - o homem gaguejava, inseguro sobre o que pensar, enquanto ela vigiava a lua, arfando um pouco menos e sustentando o olhar surpreso dele - ONDE DIABOS VOCÊ ESTEVE?!!
- No inferno. - ela rebateu imediatamente, a voz sombria - Por isso não voltei para casa.
- O que, por Deus, pode impedir você de voltar pro seu marido?! - inquiriu o homem, indignado. - Pensei que estava morta! A última notícia que tive pela polícia foi o acidente com o Dodge. Mas não encontraram você com o carro, nem seu... corpo... nem... nenhuma pista! Você desapareceu sem deixar rastro! Onde diabos se meteu por três malditos meses?!
Ela se apiedou dele. Muitas vezes pensara sobre como ele deveria estar, se era certo revelar que estava viva.
Mas... estava viva? Aquilo era vida?
O brilho lunar surgiu mais vivo desta vez, e todo o quintal a volta deles se iluminou. Martha se curvou, levando os braços cruzados à altura do estômago, como se um coice a tivesse acertado. Soltou o ar num urro estrangulado.
- Preciso ir embora. - ela afirmou, assim que conseguiu proferir algum som entendível.
- Ir embora? Assim? Sem me explicar nada? Não pode! Quer me enlouquecer? - exasperou-se o homem, passando ambas as mãos pela cabeça como se fosse perder a razão.
- Não sou mais a mulher que você amou! - ela vociferou, enquanto a dor só piorava.
Ela se curvou com mais um rajada de dor. Sentiu os nós dos dedos se expandindo e a dor latejante e a raiva que acompanhavam a transforamção.
E, mais que tudo, sentiu vergonha. Só queria um buraco no chão onde pudesse desaparecer.
Escondeu ambas as mão as costas e ergueu o dorso, encarando-o. Os lábios tremiam, enquanto ela tentava controlar a dor que lhe expandia os ossos.
- Sou um monstro. - ela bufou - Uma aberração. E uma assassina. Estou amaldiçoada.
- Martha, o que está dizendo?! - ele a sacudiu, desesperado, esperando uma resposta.
Consumida pela dor e pela sensação sufocamento, ela não conseguiu reagir ao movimento brusco dele. Suas mão balançaram enormes e desajeitadas à frente do corpo. Cobertas de pelos, exibiam dedos nodosos e garras ameaçadoras.
Júlio empalideceu pela segunda vez quando percebeu as mãos animalescas de sua mulher.
- Eu mato gente. O tempo todo. - ela afimou, parecendo distante, como se recordasse um pesadelo.
- Eu nunca imaginaria... - ele afirmou, observando as mãos monstruosas no seu agarre. - Meu Deus, Martha! - e dizendo isso, abraçou-a com toda a força.
Ela ficou paralisada pelo choque. Esperava tudo, menos ser abraçada desta forma, no meio de uma transformação. Agrarrou-se com força a seu marido, enquanto as lágrimas rolavam como uma represa que levara tempo demais para se romper.
- Na noite do acidente havia muito sangue... minha perna estava estraçalhada... o cheiro de sangue o trouxe... ele era imenso, muito maior que um lobo... ele me mordeu e mordeu, várias vezes... pensei que fosse me devorar... mas atiraram nele... mataram ele...
- Meu Deus, Martha... - ele a confortou, afagando-lhe as costas.
- Eu fugi, me arrastando... escapei. - ela continuou, aos soluços - Minha perna se curou sozinha em poucos dias... pensei que fosse um milagre... não era...
- Está tudo bem agora, Martha...
- Não, não está! - ela vociferou, recuando, escondendo e rejeitando as próprias mãos - Eu sou um monstro!
- Você é minha mulher!
- Eu vou matar você, não entende?
- Estou morto em vida sem você ao meu lado!
- Existem caçadores... de monstros como eu... virão atrás de mim... você estará no fogo cruzado...
- Martha, isso é um casamento... cuidar um do outro. Vou ficar com você, proteger você, haja o que houver...
- Não...
- Eu te amo.
Ela deixou que as lágrimas fluíssem sem se importar. Os soluços se transformaram em um uivo longo e confotável, algo que ela nunca experimentara. Sustentou o olhar do homem amoroso à sua frente e então ergueu a face para o céu, enquanto sua expressão serenava. A dor diminuíra sensivelmente desde que se sentira confortada, aceita. O amor tem o poder de curar qualquer ferida.
Fechou os olhos deixando que a transformação acontecesse. A face de loba logo apareceu, feroz e selvagem, como era de sua natureza. Um momento depois, uma imensa fera jazia de quatro no chão, e encarava o homem com um olhar selvagem.
Júlio sustentava o olhar do animal. Não fazia idéia do que viria a seguir.
A loba o encarou por mais um momento. Então saltou na direção dele.

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5 comentários:

  1. UAU!
    quase sem palavras (enxugando as lágrimas...) Lindo demais!
    Mais um texto muuuuuito bem escrito, que fluiu muito bem, num ritmo que eu adoro!
    Adorei a história, maravilhosa, despertou meus sentimentos. Muito amor! Ficou maravilhoso Márcia, parabéns! :D
    Sem palavras...

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  2. Caracoles! Para tudo e chama a NASA!!!!
    Como assim ela saltou na direção dele e... fim??? Quer me matar?!

    Texto muito bem escrito, só achei que o título entrega o segredo do que ela é. Sem um título, a gente podia desconfiar, mas só ia saber com certeza perto do fim, criando um clima legal de suspense!

    Amanhã vou ler de novo para revisar, pq achei uns errinhos bobos, mas pelo celular fica ruim comentar esse tipo de coisa.

    Show, como disse a Dê... sem palavras!

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  3. Meninas, muito obrigada!
    Deni, vc entendeu direitinho a mensagem. Apesar do horror, é uma história de muito amor meeeesmo!
    Nanda, amei sua reação! rss... é por aí mesmo!
    Zé teve uma ataque semelhante quando leu: "Márcia, cadê o final do texto?? Acaba aí?? As meninas vão querer matar você por isso!" hahahahahaha...
    Bem, se fosse normal não seria um texto meu, não é verdade?

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  4. Peraí...VOCÊ NÃO PODE ESCREVER ALGO TÃO FANTÁSTICO E DEIXAR ACABAR ASSIM!!! O que aconteceu depois? Você é uma desalmada que não tem dó dos seus leitores! hahahahaha

    Mas falando sério agora, você arrasou como sempre. Não consegui desgrudar os olhos da leitura. Uma profundidade de sentimentos que arrepia qualquer espinha. PARABÉS GAROTA!

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  5. Se eu não tivesse visto a foto inicialmente, teria sido grandeeee a surpresa, mas olhei a foto atentamente e o título matou o restante da charada.

    Mesmo assim, foi uma surpresa muito grande, o desenrolar do texto. Cheio de sentimentos conflituosos, dor, desespero e principalmente amor... tão grande, que era impossível para ela não voltar para vê-lo... E dele... que foi impossível acreditar que ela poderia fazer-lhe algum mal.

    Infelizmente, as feras, em geral, perdem a razão e a loucura, toma conta de suas mentes, impedindo que se controlem.

    Lindo porém desesperador. Assustador. Não sei como agiria se o amor de minha vida se tornasse algo do gênero. Acho que também não fugiria. Teria uma ponta de esperança que restaria um fundo de humanidade nele... E possivelmente teria o mesmo fim.

    Amei a história, Marcinha.

    Tive vários trechos favoritos, mas alguns (especialmente este... me tocaram profundamente):
    "Consumida pela dor e pela sensação sufocamento, ela não conseguiu reagir ao movimento brusco dele. Suas mão balançaram enormes e desajeitadas à frente do corpo. Cobertas de pelos, exibiam dedos nodosos e garras ameaçadoras."

    Desesperador. Chorei pelo desespero de Martha... pela perda de Júlio... Duas pessoas que se amavam tão profundamente, separadas por uma sobrevida/uma monstruosidade que lhe havia acontecido.

    "- Meu Deus, Martha! - e dizendo isso, abraçou-a com toda a força."

    Mesmo vendo as mudanças que haviam ocorrido, ele não hesitou em demonstrar seu amor... Martha conseguiu ainda se conter por algum tempo, mas a força da transformação era maior...

    Senti tanto que poderia haver uma esperança...


    Correções bobas (acho que a Nanda esqueceu de voltar para dizer):

    2° Parágrafo: Expiou - (expiar é expressar culpa, neste caso, é ESPIOU, de olhar..)
    5° Parágrafo: Entretando (Entretanto)
    6° Núvens (Retirar acento agudo)
    Outros errinhos bobos, deixei passar de propósito, porque são típicos da língua falada, então corrigi-los seria mudar o que uma pessoa falaria num momento de desespero, o que acho que não funcionaria bem. Ninguém fala tão certinho quando está acometido de sentimentos...

    Excelente texto, repleto de sentimentos extremamente profundos. Achei maravilhoso! Parabéns, Marcinha, mandando bem desde sempre!

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