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Desafio da Paty - By Nanda Cris

Posted by Nanda Cris on 9 de outubro de 2013 06:00 in ,
Oi gente!

Nos foi dado um início de texto e a tínhamos que continuar daí, embasando a história no que foi apresentado... O texto é este aqui:

“Uma viagem inesperada de trabalho foi requisitada, e você só teve tempo de juntar algumas coisas pessoais e seu inseparável livro, que nos últimos dias ocupava não só grande parte do seu tempo quanto também de sua mente. Era uma viagem curta para uma cidade do interior, então você não precisou se preocupar com aparências, e deixou-se relaxar sobre a poltrona reclinável enquanto absorvia com avidez a escrita inteligente e sedutora da autora. Quando se deu conta do tempo, o sol já se recolhia no horizonte traçando linhas alaranjadas sobre o verde da paisagem, e sua mente viajou por aquelas imagens... e de repente tudo ficou escuro. Você só sentiu uma forte fisgada na nuca e o som brusco de uma freada.”

Vamos ver o que minha mente produziu?



Eu me ajeito na poltrona reclinável do ônibus da melhor forma possível e olho a paisagem correndo pela janela. Suspiro, enquanto penso:

- Meu chefe sempre arruma essas viagens inesperadas que acabavam caindo em mim. Só porque não tenho filhos. Mas sou casada, ora bolas! Meu marido já esta farto dessas viagens, essa é a verdade. Isso pode ser enquadrado como uma espécie de preconceito do meu chefe, não?! Será que posso processá-lo? Afinal, eu tenho direito a chegar em casa cedo, tenho direito a ter um fim de semana inteiro sem reuniões ou jantares ou seja lá o que for. Oras!

Prendi o cabelo em um coque frouxo, coisa que sempre faço quando estou sem saber como agir. Minhas mãos abrem a bolsa, sem eu nem notar o que estão fazendo. Vejo o laptop mas me recuso a trabalhar durante a viagem de uma hora.

- Eu vou relaxar, isso sim. - pensei com convicção.

Peguei o meu exemplar de Cidade das Almas Perdidas e abri onde o marcador estava. Em alguns instantes eu já estava mergulhada no universo de Nephilins, Vampiros, Lobisomens, Fadas e um amor tão forte que eu nunca julguei ser possível existir. Me perdi naquele mundo e só saí dele quando percebi que estava difícil de enxergar as páginas. O sol já estava se pondo, então a luminosidade estava escassa. Fechei o livro e o abracei, como se o estivesse acalentando. Passei a mão pela capa enquanto deixava os olhos vagarem para o exterior do ônibus. Lá fora tudo era rural, verde e gado. Fiquei imersa em pensamentos sobre a paisagem e logo vaguei para o universo do livro, tentando achar uma forma de salvar Jace do controle de Sebastian. Estava completamente focada na resolução deste problema quando senti uma súbita freada e uma fisgada na nuca. Não houve tempo para nenhuma reação, simplesmente desmaiei.

Acordei desorientada e sem saber onde estava. Olhei em volta, um lindo quarto de menina, todo rosa e babados. Sentei-me na cama e senti uma forte dor de cabeça. O que estaria acontecendo? Sentia a boca seca. Olhei em volta e notei uma jarra com água em cima de uma penteadeira no canto direito. Encaminhei-me para lá e olhei distraidamente meu reflexo no espelho. Fiquei chocada com o que vi. Ainda era a mesma Fernanda, mas uma Fernanda bem mais nova, de uns 12 anos talvez. Levei a mão a boca e o reflexo fez o mesmo.

- Não, isso é impossível - pensei enquanto recuava e o reflexo repetia a minha retirada. Olhei para baixo. Pés pequenos, pernas gorduchas. Olhei para minhas mãos. Unhas ruídas, de criança. Sem esmalte! Jesus, que maldição era aquela?

Me encaminhei para a porta do quarto e girei a maçaneta. Ela rodou, mas a porta não abriu. Trancada. Corri para a janela, mas ela tinha grades. Eu podia ver apenas que estava no terceiro andar, que a propriedade era imensa e que não tinha ninguém a vista, apenas 2 dobermans enormes com cara de poucos amigos. Fui pisando duro até a porta, resoluta. Comecei a esmurrar, meus pequenos braços fazendo bastante força para alcançar a maior quantidade de barulho possível. Não sei quanto tempo se passou, horas, minutos, segundos... era difícil precisar. Ninguém apareceu. Encostei a testa na porta e comecei a xingar todos os nomes que eu conhecia e outros que eu inventei. Gritei e excomunguei até cansar. Então sentei, abracei as pernas com os braços e chorei como não chorava há muito tempo. Após um tempo, cansada e desesperada dormi. E sonhei.

Eu não podia acreditar. estava de volta ao ônibus, pessoas me perguntando se eu estava bem, parecia que eu tinha desmaiado após a freada brusca que o ônibus deu porque um filhote de tamanduá tinha cruzado a estrada. Olhei meu livro no chão, a capa amassada, e o recolhi rapidamente antes que fosse pisoteado pelas pessoas que estavam querendo me ajudar. Elas não entendiam que dançar sapateado em cima da capa mais linda do universo não ia me ajudar em nada, mas achei melhor não falar isso, eu poderia acabar sendo taxada de louca, não é? Ao me abaixar, senti uma pressão na nuca e passei a mão para verificar os estragos sofridos. Senti um leve desconforto, mas de resto, estava tudo bem. Não havia sangue, calombo, nada. Estranho. Após afirmar mil vezes que estava bem, ser atendida por um médico que viajava no mesmo ônibus e já estar com o início de uma enxaqueca, todos me deixaram em paz e o ônibus prosseguiu viagem. Ainda íamos ter uns 20 minutos de viagem. Achei que uma soneca não iria cair mal e talvez até passasse minha dor de cabeça. Reclinei ainda mais a poltrona, fechei os olhos e resvalei para o mundo dos sonhos.

Acordei e senti que estava abraçando minhas pernas. Olhei em volta, o mesmo quarto de menina. Eu voltei a ter 12 anos. Ok, isso estava realmente ficando cansativo. Que diabos era aquilo?! Levantei-me a fim de explorar o quarto mas ele estava todo vazio. As gavetas da penteadeira, a cômoda, o armário. Tudo sem nada. A frustração estava me sufocando, eu parecia que ia explodir. Sentei na cama e olhei fixamente para a jarra de água. Não sei bem como fiz, mas a água começou a flutuar, acima da jarra, e eu fiquei olhando impressionada para aquilo. A porta se escancarou neste momento e eu me desconcentrei, fazendo a água ensopar todo o carpete do quarto perto da penteadeira. Um velho bem enrugado estava me olhando fixamente.

- Quem é você? - perguntei tentando fingir bravura.
- Sou seu futuro mestre. O último dobrador de água existente.
- Dobrador?
- Sim, eu sei manipular a água e vou te ensinar a fazer como eu.
- E porque eu iria querer aprender isso? Porque tenho 12 anos novamente? Que lugar é esse?
- Você tem muitas perguntas, é melhor eu me sentar. - O velho aproximou-se da cama e sentou-se com um solavanco de colchão. - Quando você fez 10 anos, seu poder aflorou. Sua mãe tentou te ensinar, mas ela era uma dobradora de ar, não sabia muito sobre dobrar água. Seu poder saiu de controle e ela procurou os Xintas, assim como fez com a sua irmã quando ela era mais nova.
- Minha irmã?
- Sim, ela é uma dobradora de fogo e sua mãe também não conseguiu controlá-la por muito tempo.
- Mas nunca vi minha irmã fazer nada de anormal... 
- Não porque você era muito pequena para se lembrar. E ela perdeu as lembranças desse dom, assim como você também.
- Quem são os Xintas?
- É uma organização ilegal que tem como finalidade transferir o dom, de alguém que não o queira para alguém que queira.
- Mas eu quero o meu dom!
- Sim, mas quem escolheu por você na época foi a sua mãe. Ficamos sabendo ha pouco tempo que não foi você quem escolheu abrir mão. E isso é algo inadmissível para nós nós da Protector. Por isso estamos aqui para te oferecer o dom de volta, pois achamos que você já é senhora de si o suficiente para decidir.

Eu só o encarei, tentando assimilar os fatos. Ele prosseguiu:

- Você está na sede da Protector e está com 12 anos porque é o único modo que temos de reverter o que os Xintas fizeram ilegalmente. Retornamos você no tempo para antes do roubo do poder. Se você quiser ser treinada, ficará conosco e sua vida seguirá daqui, dos 12 anos em diante.
- Mas e o Kbeça? Eu tenho 12 e ele tem 13 agora, nós nunca vamos nos conhecer? Casar? Ter o Snoopy e a Ciça?
- Quem pode prever o futuro, Fernanda? Você pode ficar com o certo, com sua vidinha, ou pode se tornar uma dobradora de água e ajudar a manter este mundo pacífico. Em 2015 eclodirá uma guerra, estamos trazendo todos que podemos para o nosso lado, a fim de vencermos. Se perdermos, os humanos perecerão.
- Mas porque eu sou tão importante assim? Minha irmã, dobradora de fogo, não seria mais útil?
- Primeiro que ela não aceitou se juntar à nós e não quis nos dizer o porquê. Segundo que você esquece de uma questão básica biológica, o sangue é líquido. Você pode dobrar o sangue... e explodir inimigos num piscar de olhos.

Olhei para ele, atônita. Eu poderia ser treinada por 20 anos e salvar o mundo ou poderia voltar para meu marido, cachorros, mãe e sogra e esperar os acontecimentos. Talvez essa guerra nem acontecesse. Como ele mesmo havia dito, "quem pode prever o futuro?"

Levantei os ombros, ajeitei a coluna, me aprumando. Lembrei do sorriso do Kbeça, do modo como a gente se completa e como não posso imaginar minha vida sem ele. Encarei o velho e afirmei:

- Sua oferta é tentadora, mas não poderei aceitar. Sou egoísta. De que me adianta salvar o mundo se será um lugar em que corro o risco de nunca encontrar o amor da minha vida? Até porque ele ama uma programadora de sistemas apaixonada por esmaltes e livros. Talvez não vá gostar de uma dobradora de água mega-poderosa.

O velho me encarou chocado.

- Como você pode desperdiçar seu talento, deixar todo o nosso planeta em perigo por causa do Anderson?
- Não é pelo Anderson, é por mim. E pelo amor que eu sinto por ele. Não quero abrir mão disso e não vou. Me devolva a minha vida.

Comecei a escutar uma música bem baixinho e foi aumentando aos poucos. O quarto e o velho começaram a se dissipar a minha volta e foi ficando tudo escuro. Senti um leve vibrar no meu bolso. Estiquei a mão e senti que era o meu celular. Levei-o ao ouvido, meio sonolenta ainda.

- Alô?
- Nanda, você está aonde? Ainda não chegou na cidadezinha?
- Oi Kbeça... Kbeça! - acordei de súbito, me aprumando na cadeira e abrindo um sorriso imenso. Estava de volta ao ônibus. - Que bom estar falando com você, mô! Que saudades!
- Nanda, eu te levei na rodoviária há 50 minutos, já está com saudades?
- Mor, te amo, estou sempre com saudades de você!
- Nanda, você está bem? O que te deu para estar tão romântica assim?
- Não é nada mor, eu só descobri que o amor que sinto por você é muito maior do que qualquer amor de ficção, não consigo imaginar viver sem você.
- Nhá, também te amo. Termina logo essa reunião boba e vem pra casa, vou te esperar pra jantar.
- Está bem mor, mas sem pisar na jaca, hem? Vamos comer algo light.
- Ok, beijo.
- Beijo, mor.

Desliguei o telefone e olhei para a plataforma. Havíamos chegado. Não sei se foi sonho ou se realmente aconteceu tudo o que eu vi. Em 2015 vou descobrir, mas espero que de mãos dadas com o meu amor.






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3 comentários:

  1. Só tenho uma coisa a dizer: Nháááááááááááááááááááááááááá!!!
    Também te amo!

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  2. Nanda! Que texto maneiro!
    Adorei esses trechos:
    "Sem esmalte! Jesus, que maldição era aquela?" - como diva sem esmalte?? rss...
    "Encostei a testa na porta e comecei a xingar todos os nomes que eu conhecia e outros que eu inventei. Gritei e excomunguei até cansar." - Notem que a Fernandinha não era lá uma criança muito fácil, rss...
    Nanda, adorei o texto, a trama, a amarração, tudo. Achei maneiríssima essa viagem entre os planos, estilo Silent Hill. Show demais.
    E achei muito cute seu posicionamento quanto ao que vc quer da vida! Uma bela homenagem. Muito fofo. ^^

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  3. Nanda, acabei de ler!
    Show!!! Que mané salvar a humanidade! O lance é ser feliz! rsss

    Gostei demais desse trecho:
    "Elas não entendiam que dançar sapateado em cima da capa mais linda do universo não ia me ajudar em nada, mas achei melhor não falar isso, eu poderia acabar sendo taxada de louca, não é?"

    Eu me sinto EXATAMENTE assim quando caiu e meus livros se esparramam pelo chão! Neguinho vai pisando sem dó e nem piedade!

    Ps. Agora estou com o pé atrás com o ano de 2015...

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