3
DESAFIO MUITO DESAFIANTE - by Sammy Freitas
Posted by Unknown
on
10 de outubro de 2013
06:00
in
desafio,
desafio muito desafiante,
livros,
ônibus,
sammyfreitas
Foi-nos proposto um desafio pela nossa querida Paty Deuner conforme você pode conferir aqui.
“Uma viagem inesperada de trabalho foi requisitada, e você só teve tempo de juntar algumas coisas pessoais e seu inseparável livro, que nos últimos dias ocupava não só grande parte do seu tempo quanto também de sua mente. Era uma viagem curta para uma cidade do interior, então você não precisou se preocupar com aparências, e deixou-se relaxar sobre a poltrona reclinável enquanto absorvia com avidez a escrita inteligente e sedutora da autora. Quando se deu conta do tempo, o sol já se recolhia no horizonte traçando linhas alaranjadas sobre o verde da paisagem, e sua mente viajou por aquelas imagens... e de repente tudo ficou escuro. Você só sentiu uma forte fisgada na nuca e o som brusco de uma freada.”
Quando meu chefe me chamou na sala no fim da tarde eu já desconfiava que alguma coisa tinha acontecido. Adorava quando tinha que viajar a trabalho, mas dessa vez eu estava tão cansada, que meu desagrado ficou estampado no meu rosto. Nem mesmo quando me foi prometida uma folga meu rosto se abriu.
Paciência... desde que eu tinha ganhado o kit babaca júnior composto por celular e laptop da empresa, eu sabia que as chamadas fora de hora e as viagens seriam constantes.
Olhei para o ônibus desalentada. Quatro horas de viagem apenas para conferir se as gigantescas engrenagens da usina de pelotagem haviam chegado com as medidas conforme nossas especificações. Milhões de dólares investidos, portanto, qualquer erro era fatal.
Acomodei-me na poltrona esticando os pés cansados. Minhas exigências foram claras: Só viajaria de semi-leito e bem confortável... Observei o rapaz na poltrona-leito ao lado da minha e ele parecia uma biblioteca ambulante. À sua volta, uns doze livros e ele parecia em dúvida sobre qual ler primeiro.
Abri minha mochila sorrindo e peguei o item mais importante. Estava lendo "O livro do amanhã" da Cecelia Ahern. Estava amando a história! Imagina que barato um livro com o poder de te contar o que vai acontecer no dia seguinte! Era o segundo livro que eu desejava este ano. O primeiro era o Death Note. Pois é... eu não era tão boazinha assim...
As luzes do ônibus piscaram duas vezes e apagaram. Tudo ficou escuro e o motorista deu uma freada e tanto e parou. Abriu a porta da frente no exato momento em que eu lia entretida um trecho do livro: "Oi mãe, sou eu. Saí de casa num ônibus cheio de livros e um rapaz simpático vai me levar até a cidade. Voltarei em algumas horas. No caso de eu não voltar, ele se chama Marcus Sandhurst, tem um metro e oitenta de altura, cabelos pretos, olhos azuis..."¹
Sorri diante da leitura da cena quando observei um casal subindo no ônibus. A menina falava ao celular e olhava o rapaz e suas palavras, faziam coro com o livro: "tem um metro e oitenta de altura, cabelos pretos, olhos azuis... Tatuagens?"
O rapaz levantou a camisa e ela continuou falando...
Abri e fechei a boca três vezes... comparei o que estava escrito no livro com o que acontecia na minha frente. Olhei para o rapaz que lia Stonehenge à minha direita e ao senhor que roncava ruidosamente à minha esquerda. Ninguém parecia perceber que o que estava acontecendo já estava escrito.
Fiquei em dúvida se "assistia" a cena que acontecia na minha frente ou se prosseguia a leitura. Optei por permitir que o livro se transformasse num filme na minha frente e sorri com Tamara e Marcus "viajando" para o México através da leitura dos livros cujas lombadas começara a sobressair no bagageiro. Quase levantei para "participar" da história, mas me mantive como mera expectadora. Estava achando o máximo a encenação! Fiquei me perguntando se não seria uma brincadeira do meu namorado ator, que não só sabia de minha paixão por livros como brincou com o título do meu livro... Recordei das palavras dele pela manhã...
- "O livro do amanhã"? Ruivinha, você estava lendo ontem, logo, esse livro é "O livro de Hoje"! e Amanhã, ele deverá se chamar: "O livro do Ontem"!
Lembrava perfeitamente da hora que joguei uma almofada nele e nos beijamos. Livros são maravilhosos, mas a vida real é ainda melhor. Por isso eu tinha optado por largar temporariamente o livro e assistir ao casal na minha frente...
Depois de quase uma hora, as luzes piscaram novamente e o ônibus parou. Tamara segurava um livro grosso, com capa de couro e uma pequena fechadura quando ouvimos um grito:
- Tamara! Volte para nós, criança!²
A jovem gritou:
- Eu vou voltar. Só saí há uma hora!
Foi então que o momento mágico aconteceu. Aquele momento em que a ficção toca levemente a realidade. Tamara olhou nos meus olhos como se soubesse que eu realmente estivesse ali. Ela estendeu o livro e sussurrou:
- Guarde-o para mim... Minha tia não pode vê-lo... - ela aproximou-se e empurrou o livro para dentro da minha manta.
Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, ela correu e desceu do ônibus. Sumiu com a mesma velocidade que surgiu. O ônibus iniciou novamente sua marcha e eu levantei a manta devagar, temendo que tudo tivesse sido fruto de minha imaginação.
Não tinha nenhum livro dentro da manta. Até levantei, olhei em volta, procurei no vão das poltronas, pelo chão... Mas realmente não o achei. Suspirei novamente. Delírios de uma apaixonada por livros, só podia ter sido isso...
Desci em Itabira e peguei minha mochila ultra pesada. Um carro me aguardava para me levar ao hotel. Conversei com o motorista, mas sem tirar Tamara da cabeça. Teria sido um sonho??
Registrei-me e subi para tomar um banho. Quando abri minha mochila... uma surpresa...
Um livro de capa grossa de couro. Sentei atordoada na cama quando vi a pequena fechadura.
Estava curiosa, mas ao mesmo tempo, eu tinha medo de abrir o livro. A curiosidade venceu... Peguei o chaveiro e fui testante se alguma de minhas chaves ajudaria a abrir. A menorzinha encaixou no fecho. Olhei assustada. Não lembrava desta chave no chaveiro...
Abri o livro e sorri encantada. Desta vez, Theo, meu namorado realmente tinha caprichado na surpresa. Tamara tinha sido mesmo apenas fruto do meu sonho e imaginação delirante, porque dentro do livro, havia algo que eu jamais ia imaginar...
Um anel e um bilhete: "Casa comigo?"
¹ Pág. 78 - O livro do amanhã
² Pág. 86 - O livro do amanhã
² Pág. 86 - O livro do amanhã
3 comentários:
Sammy... show! Belo texto, ruiva, bastante inusitado!
ResponderExcluirAdorei o "kit babaca júnior composto por celular e laptop da empresa", rss... adorei a nomenclatura!
Li seu texto duas vezes como sempre costumo fazer com todos, pra ter certeza que entendi tudinho... na primeira vez li com a aquela expressão de dúvida, tentando me situar no que realmente acontecia. na segunda vez vi como tudo fazia sentido perfeitamente, e não havia percebido antes por que deixamos passar certos detalhes:
"As luzes do ônibus piscaram duas vezes e apagaram. Tudo ficou escuro (...) no exato momento em que eu lia entretida (...)" como podera ser isto? rss... muito bem sacado!
Achei um barato a citação de "(...) logo, esse livro é "O livro de Hoje"!" foi uma ótima idéia, e uma bela homenagem. Estava ontem mesmo conversando com a Nanda sobre isso, é tão legal colocarmos pequenos detalhes da nossa vida pessoal em nossos textos!
Em suma, muito bom o texto. Curto muito essas situações em que ficamos um bom tempo em dúvida sobre o que é real e o que não. ;)
Parabéns!
Adorei o conto! Realmente bastante imaginativo. Gosto de mentes imaginativas que nos arrebatam e nos tiram do lugar. O mundo é um mundo melhor quando a ficção se sobrepõe à realidade!
ResponderExcluirEsse negócio do meu celular não estar comentando está ferrando a minha vida. Eu leio os textos, penso que já comentei e nem falo mais nada... aí quando eu volto pra conferir mil luas depois... não comentei nada! Aff, mal aê meninas. Eu JURAVA que já tinha comentado. Enfim, vida que segue...
ResponderExcluirAchei sua historia bem fofa e romantica, mas ao mesmo tempo fica aquela aura de mistério.... tudo aconteceu mesmo? Ou terá sido delírio?
Bem, cada um pensa o que quer, né? rs.
Muito bem escrito, Sammy, tá de parabéns!
Comenta aê!