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Rumppelsthorn Cava-Rocha
Embora não houvesse maneira alguma de ver o sol nascendo lá fora, o anão sabia, como todos os anões sempre sabem, que já era manhã. Rumppelsthorn, ou Rumppel, como era conhecido nos seus bons tempos, desceu os degraus de sua casa rumo ao trabalho. Havia saído pelo alçapão, habilmente escondido sob o tapete de pele no chão de seu quarto. Após fechar o alçapão atrás de si, apenas seu alforge com ferramentas e o candeeiro que carregava lhe fariam companhia enquanto descia os degraus de pedra da mina subterrânea há tempos escavada.
O anão olhou a sua volta, e respirou fundo, enchendo os pulmões com o ar frio e úmido das entranhas da terra. O cheiro de terra e rocha molhada sempre o revigorava, o fazia sentir-se como nos tempos em que desfrutava do respeito de muitos de sua raça. Agora estava velho demais, e desacreditado demais; seu tempo havia passado, era o que muitos lhe diziam.
Por outro lado, as coisas haviam mudado muito desde a Última Batalha; a vitória sobre o inimigo de sua terra havia cobrado seu preço a muitos povos, dentre eles, o seu. Os anões não haviam ficado de todo pobres, mas já não possuiam a riqueza de outros tempos, e isso havia dispersado a sua nação de uma maneira que incomodava o velho anão. Havia anos que muitos anões jovens haviam partido para outras terras, em busca de trabalho. Os jovens demais haviam ficado; mas já não levavam em conta os antigos valores, nem se detinham mais a dar atenção ao que os mais velhos falavam. E assim o prestígio dos mais sábios ficara esquecido e grandes anões, como ele fora um dia, agora figuravam em conversas onde o desdém e a zombaria estavam sempre presentes. E isso entristecia enormemente o velho Rumppel.
Ele ajeitou o pesado alforge às costas com um solavanco, enquanto descia a escada estreita, ora dobrando à direita, ora à esquerda nos patamares de rocha que separavam os inúmeros túneis. Logo voltava a descer, uma escada após a outra, orientando-se pela frágil luz do candeeiro e pela agudeza de sua memória. Há vários dias fora difícil encontrar o antigo caminho, mas agora estava acostumado a ele mais uma vez. A vontade de encontrá-lo o havia guiado através dos túneis, sem nunca desistir.
Rumppel chegou ao fundo da trilha, à parte que ele escavara sozinho nos últimos dias. Colocou o alforge no chão e pendurou o candeeiro em um gancho que instalara na parede. A tímida luz iluminou a parede de rocha, que ele analisava demoradamente enquanto retirava as ferramentas. Observou a rocha molhada à sua frente, que ele escavara tão fundo, metros incontáveis abaixo da superfície. Sentia que estava perto. Algo lhe dizia que estava próximo de encontrar o que procurava, embora não soubesse exatamente o que era. Mas, incontestavelmente, buscava algo que lhe devolvesse o prestígio de seus velhos tempos. Queria mostrar a todos os anões que ele ainda era Rumppel, o grande; intrépido e desbravador como nos tempos de sua juventude. Os anões não lhe davam o devido valor, assim como não davam valor à sua própria terra e suas origens, afastando-se de sua nação em busca de fortuna em outros reinos. Rumppel lhes mostraria como os anões de verdade se erguiam, explorando e mineirando a terra sob seus próprios pés, como seus antepassados haviam feito quando todas jóias possuídas já não eram suficientes para satisfazer-lhes a sede de riqueza. Ele reviveria os túneis que sua família escavara, os veios abertos para a prosperidade da terra que fizeram o nome do clã Cava-Rocha na era de ouro dos anões.
O velho anão enfiou sua barba ruiva, quase toda tomada por fios prateados, no desgastado cinto, preparando-se para o trabalho. Tocou a rocha molhada com seus dedos nodosos, tentando sentir diferenças de temperatura ou vibrações, procurando pistas de em que direção deveria cavar. Foi então que ele sentiu um pulsar. Retirou subtamente a mão, com assombro, e logo recolocou-a na mesma velocidade, temendo perder a sensação que sentira. Mas o pulsar estava lá, nítido, sob a rocha. Rumppel agarrou sua picarenta e começou a cavar com avidez, um golpe após o outro, sem parar um instante até que um objeto se revelou à sua frente. Ele continuaou a escavar seu entorno, usando ferramentas menores, a fim de não danificá-lo. Após algumas horas de trabalho, Rumpell retirou da rocha um objeto antigo e desgastado, que revelava em seu interior o pulsar que ele havia sentido.
O velho anão examinou o objeto à luz do candeeiro, era um urna de aparência antiga, até mesmo ancestral, diria ele. O recipiente esculpido em pedra escura e muito lisa se assemelhava a um jarro com tampa, ricamente ornado com desenhos e símbolos em baixo-relevo por toda a superfície. De cada lado havia uma alça circular, por onde Rumppel o segurava, e inscrições em um dialeto que o velho anão não conseguia reconhecer. Ele respirou fundo, comtemplando seu achado, que ainda transmitia o mesmo pulsar à sua mão, e experimentou a tampa; estava trancada. No mesmo instante foi tomado de inquietação, o que ele ainda estava fazendo debaixo da terra? Já havia encontrado algo, provavelmente uma grande descoberta, a julgar pelo aspecto misterioso e o fato de estar trancada. Isso sem contar aquele rufar pulsante que não cessava! O velho anão recolheu as ferramentas ao alforje; logo em seguida, mudando de idéia, despejou-as todas no chão novamente. Então, com todo o cuidado, colocou apenas a urna no interior do alforge; amarrou-lhe a boca e jogou-o as costas com delicadeza. Em seguida recolheu o candeeiro da parede de pedra e partiu, escada acima.
À medida que subia, Rumppel tentava pensar rapidamente no que deveria fazer. Não podia anunciar sua descoberta abertamente, sem ao menos saber do que se tratava. Precisava encontrar alguém que abrisse a urna, que parecia estar selada magicamente, já que não possuía nenhuma tranca ou fechadura visível. Também deveria de ser alguém de confiança, para não lhe roubar o achado. Além disso seria interessante ter um mago por perto, com poder suficiente para algum imprevisto; pois aquele pulsar constante o estava deixando bastante inquieto.
O velho anão ruivo subiu todos os degraus sem nenhuma pausa, no mesmo ritmo frenético de seus pensamentos. Entretanto, quando alcançou o alaçapão no chão de seu quarto, Rumppel já sabia exatamente a quem devia procurar.
O anão olhou a sua volta, e respirou fundo, enchendo os pulmões com o ar frio e úmido das entranhas da terra. O cheiro de terra e rocha molhada sempre o revigorava, o fazia sentir-se como nos tempos em que desfrutava do respeito de muitos de sua raça. Agora estava velho demais, e desacreditado demais; seu tempo havia passado, era o que muitos lhe diziam.
Por outro lado, as coisas haviam mudado muito desde a Última Batalha; a vitória sobre o inimigo de sua terra havia cobrado seu preço a muitos povos, dentre eles, o seu. Os anões não haviam ficado de todo pobres, mas já não possuiam a riqueza de outros tempos, e isso havia dispersado a sua nação de uma maneira que incomodava o velho anão. Havia anos que muitos anões jovens haviam partido para outras terras, em busca de trabalho. Os jovens demais haviam ficado; mas já não levavam em conta os antigos valores, nem se detinham mais a dar atenção ao que os mais velhos falavam. E assim o prestígio dos mais sábios ficara esquecido e grandes anões, como ele fora um dia, agora figuravam em conversas onde o desdém e a zombaria estavam sempre presentes. E isso entristecia enormemente o velho Rumppel.
Ele ajeitou o pesado alforge às costas com um solavanco, enquanto descia a escada estreita, ora dobrando à direita, ora à esquerda nos patamares de rocha que separavam os inúmeros túneis. Logo voltava a descer, uma escada após a outra, orientando-se pela frágil luz do candeeiro e pela agudeza de sua memória. Há vários dias fora difícil encontrar o antigo caminho, mas agora estava acostumado a ele mais uma vez. A vontade de encontrá-lo o havia guiado através dos túneis, sem nunca desistir.
Rumppel chegou ao fundo da trilha, à parte que ele escavara sozinho nos últimos dias. Colocou o alforge no chão e pendurou o candeeiro em um gancho que instalara na parede. A tímida luz iluminou a parede de rocha, que ele analisava demoradamente enquanto retirava as ferramentas. Observou a rocha molhada à sua frente, que ele escavara tão fundo, metros incontáveis abaixo da superfície. Sentia que estava perto. Algo lhe dizia que estava próximo de encontrar o que procurava, embora não soubesse exatamente o que era. Mas, incontestavelmente, buscava algo que lhe devolvesse o prestígio de seus velhos tempos. Queria mostrar a todos os anões que ele ainda era Rumppel, o grande; intrépido e desbravador como nos tempos de sua juventude. Os anões não lhe davam o devido valor, assim como não davam valor à sua própria terra e suas origens, afastando-se de sua nação em busca de fortuna em outros reinos. Rumppel lhes mostraria como os anões de verdade se erguiam, explorando e mineirando a terra sob seus próprios pés, como seus antepassados haviam feito quando todas jóias possuídas já não eram suficientes para satisfazer-lhes a sede de riqueza. Ele reviveria os túneis que sua família escavara, os veios abertos para a prosperidade da terra que fizeram o nome do clã Cava-Rocha na era de ouro dos anões.
O velho anão enfiou sua barba ruiva, quase toda tomada por fios prateados, no desgastado cinto, preparando-se para o trabalho. Tocou a rocha molhada com seus dedos nodosos, tentando sentir diferenças de temperatura ou vibrações, procurando pistas de em que direção deveria cavar. Foi então que ele sentiu um pulsar. Retirou subtamente a mão, com assombro, e logo recolocou-a na mesma velocidade, temendo perder a sensação que sentira. Mas o pulsar estava lá, nítido, sob a rocha. Rumppel agarrou sua picarenta e começou a cavar com avidez, um golpe após o outro, sem parar um instante até que um objeto se revelou à sua frente. Ele continuaou a escavar seu entorno, usando ferramentas menores, a fim de não danificá-lo. Após algumas horas de trabalho, Rumpell retirou da rocha um objeto antigo e desgastado, que revelava em seu interior o pulsar que ele havia sentido.
O velho anão examinou o objeto à luz do candeeiro, era um urna de aparência antiga, até mesmo ancestral, diria ele. O recipiente esculpido em pedra escura e muito lisa se assemelhava a um jarro com tampa, ricamente ornado com desenhos e símbolos em baixo-relevo por toda a superfície. De cada lado havia uma alça circular, por onde Rumppel o segurava, e inscrições em um dialeto que o velho anão não conseguia reconhecer. Ele respirou fundo, comtemplando seu achado, que ainda transmitia o mesmo pulsar à sua mão, e experimentou a tampa; estava trancada. No mesmo instante foi tomado de inquietação, o que ele ainda estava fazendo debaixo da terra? Já havia encontrado algo, provavelmente uma grande descoberta, a julgar pelo aspecto misterioso e o fato de estar trancada. Isso sem contar aquele rufar pulsante que não cessava! O velho anão recolheu as ferramentas ao alforje; logo em seguida, mudando de idéia, despejou-as todas no chão novamente. Então, com todo o cuidado, colocou apenas a urna no interior do alforge; amarrou-lhe a boca e jogou-o as costas com delicadeza. Em seguida recolheu o candeeiro da parede de pedra e partiu, escada acima.
À medida que subia, Rumppel tentava pensar rapidamente no que deveria fazer. Não podia anunciar sua descoberta abertamente, sem ao menos saber do que se tratava. Precisava encontrar alguém que abrisse a urna, que parecia estar selada magicamente, já que não possuía nenhuma tranca ou fechadura visível. Também deveria de ser alguém de confiança, para não lhe roubar o achado. Além disso seria interessante ter um mago por perto, com poder suficiente para algum imprevisto; pois aquele pulsar constante o estava deixando bastante inquieto.
O velho anão ruivo subiu todos os degraus sem nenhuma pausa, no mesmo ritmo frenético de seus pensamentos. Entretanto, quando alcançou o alaçapão no chão de seu quarto, Rumppel já sabia exatamente a quem devia procurar.
4 comentários:
Marcinha!
ResponderExcluirAdorei a história! Lembra-me perfeitamente à época de ouro em que eu jogava RPG! Além disso, Anões são criaturas fascinantes. Sempre gostei deles, fosse em Senhor dos Anéis, Artemis Fowl, As aventuras do Caça-Feitiço ou mesmo em Harry Potter!
Rumppel precisa de ajuda! Quem ele vai procurar? De qual mago ele será amigo que poderá ajudá-lo???
Aguardarei ansiosamente pela continuação! Ela virá no próximo domingo???
Abaixo algumas correções bobinhas:
... haviam partido para outras terras, EM busca de trabalho
...dobrando à direita ou à esquerda
Ou dobra para um lado ou para o outro. Então, o que você pode fazer é colocar: ORA dobrando à direita, ORA à esquerda - porque aí ele está alternando nas entradas.
A vontade de encontrá-lo, o havia guiado através... é com S e não com Z
Há vários dias ou Vários dias atrás - usar Há vários dias atrás é redundância.
em um gancho que instalara na perede - PAREDE
que ele analizava demoradamente - ANALISAVA é com S e não Z)
embora não soubesse exetamente - EXATAMENTE
Obrigada, Sammy, correções feitas!
ResponderExcluirEstou pensando sobre o destino de Rumppel, eu gosto muito desse anão veterano! Esse texto é um pouco antigo, mas até hoje eu e Rumppel não desvendamos o mistério da urna. ;)
Mana, ótimo texto, muito bem escrito!
ResponderExcluirTem que contar logo pra gente o que tem na urna, to tensa pra saber.
Em algum momento do seu texto, vi a palavra comtemplar, com m. O certo ehmcontemplar com n.
Show, mana, arrasou.
Adorei o texto, muuuito bem escrito, você sabe encaixar bem as palavras, oq faz seus textos ficarem bem ricos! ^^
ResponderExcluirAchei um errinho de digitação:
Ele "continuaou" a escavar
Quanto a história, vai ter continuação né? Pelo amor de deus, o que ele achoooou??? Fikei muito curiosa, adorei a história, parece que é um fragmento de um livro, dá pra escrever muita coisa ainda a partir desse fragmento.
Parabéns!
Comenta aê!