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Desafio do Tempo e do Espaço de Ano Novo by Sammy Freitas

Posted by Unknown on 20 de janeiro de 2013 07:00 in , ,


A grande fuga

As grades da prisão eram desgastadas por tantas mãos que passaram por ali ao longo do tempo, alisando-as. No canto, uma latrina sem tampa exalava um cheiro não muito agradável. Uma pequena janela deixava entrar as luzes dos fogos que pipocavam ao longe. Haviam 2 catres no cubículo, ambos demonstrando sinais de estarem ocupados. Ao longo do corredor várias celas, todas ocupadas. No final deste, uma sala de guardas, onde era possível ver uma parte da televisão com a Globo passando a queima de fogos em Copacabana. Além disso, também era possível ver uma poltrona e o topo da cabeça de alguém.


Cabeção murmurava versículos da bíblia sobre o fim do mundo enquanto Jurandir, He-man e Bugre jogavam truco gritando alucinadamente e cantando...


- "Adeus ano velho... feliz ano novo... TRUCOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!

A cela, era para duas pessoas, mas atualmente seis a ocupavam. Era a vez de Jorginho e Brutus dormirem, e tão cansados estavam pelo revezamento das camas, que sequer ouviam os gritos dos colegas de cela e os fogos pipocando através da janela.



E no meio da cantoria, os jogadores perceberam uma movimentação estranha e um cheiro acre. Calaram-se imediatamente, preocupados pela tensão constante da prisão. Bugre soltou suas cartas e deixou o cigarro cair da boca. Levantou e aproximou-se das grades, tentando ver o que acontecia no corredor, até que luzes fortes surgiram através da janela e um barulho de helicóptero se sobrepôs aos fogos de artifício. Os rapazes se empurravam naquele pequeno espaço, procurando o helicóptero no céu.


Gritos e tiros eram ouvidos por todos os lados. Brutus caiu da cama com o susto e Jorginho levantou assustado. 


- O quê... Já é ano novo?? 


- Shhhhhhh - disseram todos os companheiros de cela.


Inquietos, os rapazes se empurravam, tentando enxergar algo além das grades. Seis guardas passaram correndo e gritando:


- Todos para o Bloco D, são comparsas do Escadinha e eles têm um helicóptero.


- Escadinha.... - sussurrou Jorginho... 


Escadinha, o maior traficante do Rio de Janeiro... E estava tentando fugir da prisão. Escadinha, traficante que punia quem assaltava trabalhadores, era implacável com estupradores, distribuía remédios, providenciava transporte para idosos e doentes irem as hospitais, alimentava famílias pobres e exigia que todas as crianças do Morro do Livramento estivessem na escola estudando. Doava livros, cadernos e comida. E nunca permitiu que nenhuma delas entrasse para o tráfico. Quem disse que bandido não tem coração?


Jurandir, He-man e Bugre começaram a chamar os companheiros de outras celas. Se alguém tinha chance de fugir daquele lugar, porque não ajudar de alguma maneira?


Simularam uma briga... Alguém acendeu um isqueiro e queimou um lençol, jogando para fora de sua cela, enchendo assim, o corredor de fumaça...


O isqueiro foi passado de cela em cela... Os presos gritavam e praguejavam ao mesmo tempo, batendo nas grades sem parar. 


Policiais foram mobilizados para o bloco C para conter os amotinados, dividindo assim a equipe que tentava conter a fuga em outro local. 


Alguns tentavam apagar o incêndio dos lençóis, porém quando ficavam muito próximos às grades, eram agarrados por mãos ansiosas e revoltadas que batiam sem dó e nem piedade. 


Alguns presos começaram a tossir. Cabeção desmaiou com a bíblia agarrada em suas mãos. Seus companheiros de cela, tentaram reanimá-lo e gritaram por ajuda.


Reforços vieram e conseguiram conter os presos. Mas era tarde demais. O helicóptero, antes pousado próximo ao muro do presídio de Ilha Grande, já levantava vôo levando o maior traficante do Rio em sua fuga mais espetacular.


Guardas do presídio atiraram sem parar e atingiram o tanque de combustível do helicóptero que teve sua cauda explodida. Começou a rodopiar e cair no mar, onde havia dois barcos esperando Escadinha.


Dentro do presídio, onze presos tossiam asfixiados pela fumaça, dois policiais jaziam no chão muito machucados e Cabeção estava morto. As luzes foram cortadas e a tropa de choque juntamente com os bombeiros invadiu a prisão. 


Um dos plantonistas ofegante, tentava se explicar com o diretor pelo telefone... 


- Um motim! Uma fuga! Incêndio no bloco C... Guardas feridos, presos asfixiados, aparentemente um morto...


- Puta que pariu... Como pôde deixar isso acontecer? Explica direito... 


- Senhor diretor, você não irá ficar muito satisfeito...


- Muito satisfeito? - vociferava ao telefone - Não estou NADA satisfeito! Quem fugiu? Como foi?


- Senhor, já começamos a contagem e temos uma equipe tentando localizar os presos que escaparam, mas aparentemente só o Escadinha fugiu.


O diretor empalideceu e desligou o telefone. Pegou seu paletó na cadeira e começou a sair da festa de ano novo numa cobertura em Copacabana. Não era jeito de começar o ano. Com certeza lhe custaria seu cargo...


E assim, Escadinha fugiu do presídio de Ilha Grande, sem nem ao menos imaginar a ajuda que teve de seus colegas de presídio...



**Escadinha - José Carlos dos Reis Encina, realmente escapou do Presídio de Ilha Grande na virada do ano de 1986 através de uma fuga cinematográfica surpreendente por um helicóptero, porém, o relato aqui existente, é uma obra de ficção.

Não houve helicóptero caindo no mar e nem rebelião no presídio. Foi divulgado na época que foi facilitado por policiais que escoltaram o meliante até um descampado, onde estava o helicóptero pousado.


Quaisquer semelhança com nomes ou fatos terá sido mera coincidência. ^_^ 











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12 comentários:

  1. MUITO BOM!!!!

    Consegui imaginar direitinho cada detalhe da estória/história, com os olhos grudados na tela de ansiedade!

    Agora me conta aqui...o Escadinha era realmente essa pessoa boa com sua comunidade? Tipo...não queria crianças envolvidas com o tráfico e tals?

    Só errinho de digitação e uma só:

    "E nunca permitiu que nenhum a delas entrasse para o tráfico. Quem disse que bandido não tem coração?" (só juntar aê o nenhuma ^^)

    E só faltou mencionar um pouco sobre a noite de ano novo...vc não deixou claro no texto que se tratava de uma passagem de ano, e isso faz parte do desafio.

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  2. Paty, querida, obrigada!!
    Vou corrigir o erro (viu como vc ia achar, rsss)

    Achei que o texto inicial era suficiente para situar no ano novo, mas vc está coberta de razão... Até porquê, na minha mente, o plantonista estava tirando o diretor da festa e talz, mas vou dar uma mexida no texto para melhorar isso!

    Agora, só a título de curiosidade... Que fique bem claro, que não existe bandido bom. Nenhum presta, mas... o Escadinha realmente era preocupado com a comunidade. Não porque fosse bonzinho, mas porque bandido não é burro. Com essas atitudes, eles "trazem" a comunidade para o lado deles. Mas ele nunca permitiu mesmo que crianças participassem do tráfico, nem como aviõezinhos. Mandava todo mundo para a escola. Depois dos 16, poderia ser recrutado, antes disso, jamais.

    Vou lá corrigir. Tentei o lance de tirar a formatação e colocar de novo, mas não dá certo... Fica com essa faixa bege atrás :-(

    Cadê a tia Nanda prá ajudar nesses problemas???

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  3. Ah Sammy...entendi agora o que vc fez. Esse texto proposto pela Nanda faz parte da sua estória não é? Na verdade esse pequeno texto do desafio é só para classificar o "tempo e espaço" da estória e não necessariamente fazer parte dela. Mas não tinha entendido que ela faz parte do seu texto, então me perdoa. Se vc quer que ele faça não tem problema, mas é que geralmente não usamos o texto de descrição do tempo e espaço nos textos por isso passei batido por ele rsrsrs. Sendo assim seu desafio está muito bem colocado, sem problemas.

    Sua formatação deu certo sim...eu não vejo mais as listras brancas...tá ok. ^^

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  4. Perdoa a ignorância da novata! Mesmo assim, acrescentei alguns detalhes sutis no texto, que dão a perceber que é Ano Novo!

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  5. PERFEITO! Você colocou detalhes bem sutis mesmo que fizeram toda a diferença. Reli o texto todo realmente com vontade de lê-lo...tão bom que está!
    PARABÉNS de novo!

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  6. Achei algumas coisas:

    "Cabeção murmurava versículos da bíblia" - Bíblia não tem que ser com letra maiúscula? Tipo Alcorão e talz?

    "Guardas feridos, presos asfixiados, aparente um morto..." - aparentemente um morto???

    "- Senhor, temos uma equipe tentando localizar o preso, mas aparentemente só o Escadinha fugiu." - essa frase ficou estranha, tinha que ser algo tipo: - "Senhor, temos uma equipe tentando localizar OS PRESOS QUE ESCAPARAM, mas aparentemente só o Escadinha fugiu". Porque se ele já sabe que foi só um preso que escapou, porque falar que aparentemente foi só o Escadinha? Ou então também pode ser assim: "- Senhor, temos uma equipe tentando localizar o preso, aparentemente FOI O ESCADINHA QUEM FUGIU." Tipo: eles sabem que foi um preso qualquer e suspeitam que seja o Escadinha. Depende de como vc pensou aqui.

    ---------------------

    Quando vc falou que teve um helicoptero que afundou, pensei: caraca! Tem mesmo um helicoptero naufragado em Ilha Grande, que eles até fazem uma parada no passeio por meia ilha para a gente ver. Não tirei foto porque o mar estava muito escuro,porque tinha chovido muito. Mas depois quando vc falou que a parte do helicoptero cair era ficção, fiquei até triste. Ia dar um drama maneiro pra fuga, rs.

    Me amarrei nesse trecho aqui: "Calaram-se imediatamente, preocupados pela tensão constante da prisão" é bem assim mesmo, rs! Mandou bem!

    Aproveitando o gancho:
    Fotos do presídio de Ilha Grande tiradas por mim semana passada:
    http://goo.gl/IM2XL
    http://goo.gl/C3drN
    http://goo.gl/0UX4l

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  7. Nossa, foi emocionante! Adorei o colorido que vc deu à história, Sammy, muito criativo... adorei os apelidos, He-Man, Bugre, Cabeção, rss, realmente bandido e jogador de futebol não tem nome, tem "alcunha"! Muito boa toda a história, dá pra visualizar bem toda a sequencia, ficou jóia!

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  8. Adorei as fotos Nanda! Queria mais....

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  9. Nanda!
    Já fiz as correções. Algumas coisas mudei, você está coberta de razão.

    Mas... existem outras que não mudei. E explico-te o porquê.

    Bíblia, alcorão e até mesmo a palavra deus, não são necessariamente obrigatórias em colocar letras maiúsculas. Existem algumas circunstâncias obrigatórias que todos conhecemos (nomes próprios, início de frase e parágrafos, títulos de livros, nomes de ruas, etc...)

    Não existe um consenso, mas alguns escritores optam por usar maiúsculas em altos conceitos religiosos ou políticos (tipo Bíblia, Alcorão, Estado, Nação), mas aí já não é obrigatório.

    Como não sou religiosa, em momento algum pensei em colocar em maiúsculo, ok?

    Tks pelas correções, obrigada pelas fotos! Fiquei com vontade de ir à Ilha Grande só para ver as ruínas do presídio, rs

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  10. ^Caraca, adorei o texto! ^^ ficou muito bom mesmo, só tenho uma coizinha a acrescentar q, eu acho, ficaria melhor. No paragrafo você começa com "O diretor empalideceu. Pegou seu paletó..." eu fikei meio perdida por uns segundos até você falar da festa em que o diretor estava, pensei 'ué, ele ta falando pessoalmente com o diretor ou por telefone afinal?' acho q seria melhorado se você acrescentasse antes da frase um "Do outro lado da linha o diretor..."

    no mais adorei a estória!

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  11. Dê... um pedaço antes tem a explicação que ele estava ao telefone...

    Diz assim: "Um dos plantonistas ofegante, tentava se explicar com o diretor pelo telefone..."

    Acho, q por ter lido no celular, você pode ter passado batido por este trecho!

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  12. não não, eu li sim que ele estava no telefone, por isso mesmo que naquela parte da uma confusão, porque você começa a falar do diretor tipo, diretamente, e ai eu fikei confusa se você não tinha se enganado ao dizer q ele tava no telefone, e depois quando disse q era a festa é q eu percebi q era mesmo ao telefone, entende? Ah, de qualquer forma vc altera só se achar necessário

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