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Escrever profissionalmente ou por hobby: o que é melhor para a sua carreira literária?
Posted by PatyDeuner
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10 de janeiro de 2013
16:00
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Texto escrito por: Henry Alfred Bugalho no Blog do Escritor
Na íntegra.
A ambição de muitos escritores diletantes é a de poder largar seu emprego atual e, um dia, viver somente com o lucro de sua escrita. Normalmente, este anseio é resultado de uma visão distorcida dos sucessos estrondosos de alguns best-sellers, ou pelo romantismo de algumas sofridas figuras clássicas da Literatura.
Durante anos, como vários autores, escrevi amadoramente em meu tempo livre, sonhando com a possibilidade de tornar-me um autor profissional.
E, desde algum tempo, tenho sido escritor em tempo integral, ganhando o pão com a vendagem de meus livros e com a minha escrita.
Vou lhes apresentar as duas faces desta moeda, duas perspectivas sobre cenários literários que se complementam.
Escritor amador X escritor profissional
Muita gente se aproxima cheia de dedos quando se trata de realizar uma distinção clara entre escritor amador e profissional. Inclusive, alguns defendem que é de definição impossível, pois existem amadores que se dedicam muito mais à carreira literária do que profissionais.
Longe de querer esgotar esta discussão, apresentarei a minha definição.
O critério único e fundamental de determinação entre escritor amador e profissional é monetário.
Um escritor profissional difere-se do amador por obter toda sua renda, ou boa parte dela, através de seu ofício.
Como ser escritor não é um título, que se possa obter numa faculdade, qualquer um que decida sentar-se para escrever meia dúzia de páginas já pode ser considerado um escritor amador, independentemente do grau de competência ou comprometimento.
Já um escritor profissional é aquele que faz da escrita a sua carreira e seu sustento, que paga suas contas com a escrita, que depende dela para sobreviver.
Não se trata de nenhuma distinção qualitativa, como se profissional fosse melhor do que amador. Inclusive, em se tratando de liberdade criativa, um escritor profissional possui restrições muito maiores do que um amador, pois depende de vários critérios exteriores, como a aprovação de editores, do público, ou de outras instâncias de legitimação.
Um escritor amador pode querer agradar somente a si próprio, sem se importar muito com a opinião dos demais e, muitas vezes, esta é uma das condições para a criação de obras-primas.
A escrita como passatempo
Entendamos a escrita como passatempo não como falta de seriedade, mas como alguém que se dedica à atividade somente em suas horas vagas, às vezes, sem pretensão alguma de abandonar sua ocupação atual para converter-se em escritor profissional.
Muitíssimos grandes autores da Literatura possuíam um emprego principal, escrevendo durante o tempo livre. Guimarães Rosa e Vinícius de Moraes eram diplomatas; Jorge Luis Borges foi funcionário público; Kafka, advogado; Cortázar e Fernando Pessoa, tradutores; existe um sem fim de grandes escritores que possuíam ocupações tradicionais, como professores, engenheiros, médicos, psicólogos, políticos, donas de casa, etc. e que, às escondidas, produziam seus contos, romances e poemas.
Alguns até chegaram a realizar a transição entre o diletantismo e o profissionalismo, mas vários prosseguiram em suas profissões, produzindo Literatura num segundo-plano.
Existem algumas vantagens em escrever como hobby:
- liberdade criativa irrestrita. Não há ninguém para lhe ditar o que você pode ou não escrever, tampouco para impor-lhe prazos ou condições;
- produzir não é uma obrigação; você pode escrever quando bem entender, se quiser, como quiser.
- não há a necessidade em pensar na Literatura como um produto;
- ter um trabalho que o ponha em contato constante com outras pessoas é uma rica fonte de inspiração para histórias.
Já as desvantagens podem ser:
- falta de disciplina; como não se trata de um trabalho, pode não haver um compromisso real com a escrita;
- pouco tempo para dedicar-se ao ofício. Ao dividir seu tempo disponível entre um trabalho oficial e a escrita, haverá menos oportunidades para produzir, promover seu trabalho e aperfeiçoar-se;
- o risco de alienar o leitor. Quando um escritor devota-se a escrever somente para si, há a possibilidade de produzir obras que ninguém, além dele mesmo, queira ler.
A escrita como profissão
Geralmente, esta é uma etapa posterior. Inicialmente, começa-se a escrever por puro prazer, porém, aos poucos, quando a atividade se torna mais séria, é dado um passo além para a profissionalização.
Antes de tudo, vale lembrar que são bem poucos os autores que realmente fazem a vida somente com a venda de livros. Não é impossível, mas é pouco provável que isto ocorra com a maioria dos escritores.
Os ditos escritores profissionais podem até receber valores consideráveis com a venda de seus livros, mas frequentemente suas obras os projetam para outros tipos de atividades remuneradas, como palestras, oficinas, traduções, jornalismo, e assim por diante.
De certo modo, mesmo com muitos autores profissionais, a escrita acaba sendo uma atividade remunarada secundária, que alavanca ganhos através de outros canais. Pois para sobreviver exclusivamente com a vendagem de livros é preciso vender muito e vender sempre, o que não é para todos os escritores.
A escrita profissional é relativamente recente e os grandes autores profissionais se concentram nos países desenvolvidos, com mercados editoriais fortes. No Brasil, quem se propõe a escrever profissionalmente acaba recaindo, em algum momento, no periodismo, e há uma lista imensa de grandes autores brasileiros que dividiram seu tempo com crônicas em jornais e revistas, ou mesmo como repórteres.
Há um duplo benefício em se aliar à imprensa, pois através dela é que o autor poderá comunicar-se com seus colegas e conseguir atrair publicidade para seus trabalhos literários.
Com uma oferta tão imensa de obras sendo publicadas todos os meses, o compadrio acaba sendo uma poderosa força no mercado editorial brasileiro. "Quem não se comunica, se trumbica", já diria o sábio Chacrinha.
Não é fácil ser um escritor profissional e, não raro, alguns se decepcionam com o cenário que encontram. Um caso notório foi o de Aluísio Azevedo, autor de "O Cortiço", que assim que conseguiu um emprego público, largou a escrita para nunca mais voltar.
Nada prepara um escritor para as agruras da profissionalização, pois produzir um livro de sucesso é uma loteria. Não há garantias que uma obra venderá, ou que a crítica a aprovará. Ser um escritor profissional é caminhar na corda bamba, sem segurança alguma, sem nenhuma certeza.
As vantagens de ser um escritor profissional são:
- todo o tempo para produzir e pesquisar;
- há um prazer especial em ganhar para fazer aquilo que gosta.
Já as desvantagens da profissionalização são consequências diretas dela:
- obrigação de escrever constantemente, mesmo quando não há disposição;
- é uma carreira incerta, repleta de altos e baixos, com momentos de grandes sucessos e outros de total indiferença;
- nem sempre se ganha tanto quanto se imaginava.
Conclusão
Para muitos autores, a profissionalização é uma grande etapa almejada e, certamente, possui algumas evidentes vantagens. Todos nós queremos trabalhar com aquilo que amamos, que nos dá alegria, que nos realiza, mesmo que nossa renda não seja tão extraordinária.
Por outro lado, há uma diferença brutal entre escrever por prazer quando se tem vontade e a obrigação cotidiana de acordar sabendo que você terá de escrever qualquer coisa, mesmo que não acredite mais no que está fazendo.
Há escritores que produzem mais e com maior qualidade quando são amadores, mas que se desesperam no momento em que se profissionalizam. Enquanto há aqueles que, ao poderem se dedicar completamente ao ofício, florescem e atingem seu máximo potencial.
Certamente, não existe uma fórmula aplicável a todas as pessoas, o que é a realização para uns é a ruína de outros. O essencial é jamais perder o deslumbramento pelo ofício da escrita e, a partir do momento em que escrever começar a tornar-se um martírio, rever as escolhas feitas.
Na íntegra.
A ambição de muitos escritores diletantes é a de poder largar seu emprego atual e, um dia, viver somente com o lucro de sua escrita. Normalmente, este anseio é resultado de uma visão distorcida dos sucessos estrondosos de alguns best-sellers, ou pelo romantismo de algumas sofridas figuras clássicas da Literatura.
Durante anos, como vários autores, escrevi amadoramente em meu tempo livre, sonhando com a possibilidade de tornar-me um autor profissional.
E, desde algum tempo, tenho sido escritor em tempo integral, ganhando o pão com a vendagem de meus livros e com a minha escrita.
Vou lhes apresentar as duas faces desta moeda, duas perspectivas sobre cenários literários que se complementam.
Escritor amador X escritor profissional
Muita gente se aproxima cheia de dedos quando se trata de realizar uma distinção clara entre escritor amador e profissional. Inclusive, alguns defendem que é de definição impossível, pois existem amadores que se dedicam muito mais à carreira literária do que profissionais.
Longe de querer esgotar esta discussão, apresentarei a minha definição.
O critério único e fundamental de determinação entre escritor amador e profissional é monetário.
Um escritor profissional difere-se do amador por obter toda sua renda, ou boa parte dela, através de seu ofício.
Como ser escritor não é um título, que se possa obter numa faculdade, qualquer um que decida sentar-se para escrever meia dúzia de páginas já pode ser considerado um escritor amador, independentemente do grau de competência ou comprometimento.
Já um escritor profissional é aquele que faz da escrita a sua carreira e seu sustento, que paga suas contas com a escrita, que depende dela para sobreviver.
Não se trata de nenhuma distinção qualitativa, como se profissional fosse melhor do que amador. Inclusive, em se tratando de liberdade criativa, um escritor profissional possui restrições muito maiores do que um amador, pois depende de vários critérios exteriores, como a aprovação de editores, do público, ou de outras instâncias de legitimação.
Um escritor amador pode querer agradar somente a si próprio, sem se importar muito com a opinião dos demais e, muitas vezes, esta é uma das condições para a criação de obras-primas.
A escrita como passatempo
Entendamos a escrita como passatempo não como falta de seriedade, mas como alguém que se dedica à atividade somente em suas horas vagas, às vezes, sem pretensão alguma de abandonar sua ocupação atual para converter-se em escritor profissional.
Muitíssimos grandes autores da Literatura possuíam um emprego principal, escrevendo durante o tempo livre. Guimarães Rosa e Vinícius de Moraes eram diplomatas; Jorge Luis Borges foi funcionário público; Kafka, advogado; Cortázar e Fernando Pessoa, tradutores; existe um sem fim de grandes escritores que possuíam ocupações tradicionais, como professores, engenheiros, médicos, psicólogos, políticos, donas de casa, etc. e que, às escondidas, produziam seus contos, romances e poemas.
Alguns até chegaram a realizar a transição entre o diletantismo e o profissionalismo, mas vários prosseguiram em suas profissões, produzindo Literatura num segundo-plano.
Existem algumas vantagens em escrever como hobby:
- liberdade criativa irrestrita. Não há ninguém para lhe ditar o que você pode ou não escrever, tampouco para impor-lhe prazos ou condições;
- produzir não é uma obrigação; você pode escrever quando bem entender, se quiser, como quiser.
- não há a necessidade em pensar na Literatura como um produto;
- ter um trabalho que o ponha em contato constante com outras pessoas é uma rica fonte de inspiração para histórias.
Já as desvantagens podem ser:
- falta de disciplina; como não se trata de um trabalho, pode não haver um compromisso real com a escrita;
- pouco tempo para dedicar-se ao ofício. Ao dividir seu tempo disponível entre um trabalho oficial e a escrita, haverá menos oportunidades para produzir, promover seu trabalho e aperfeiçoar-se;
- o risco de alienar o leitor. Quando um escritor devota-se a escrever somente para si, há a possibilidade de produzir obras que ninguém, além dele mesmo, queira ler.
A escrita como profissão
Geralmente, esta é uma etapa posterior. Inicialmente, começa-se a escrever por puro prazer, porém, aos poucos, quando a atividade se torna mais séria, é dado um passo além para a profissionalização.
Antes de tudo, vale lembrar que são bem poucos os autores que realmente fazem a vida somente com a venda de livros. Não é impossível, mas é pouco provável que isto ocorra com a maioria dos escritores.
Os ditos escritores profissionais podem até receber valores consideráveis com a venda de seus livros, mas frequentemente suas obras os projetam para outros tipos de atividades remuneradas, como palestras, oficinas, traduções, jornalismo, e assim por diante.
De certo modo, mesmo com muitos autores profissionais, a escrita acaba sendo uma atividade remunarada secundária, que alavanca ganhos através de outros canais. Pois para sobreviver exclusivamente com a vendagem de livros é preciso vender muito e vender sempre, o que não é para todos os escritores.
A escrita profissional é relativamente recente e os grandes autores profissionais se concentram nos países desenvolvidos, com mercados editoriais fortes. No Brasil, quem se propõe a escrever profissionalmente acaba recaindo, em algum momento, no periodismo, e há uma lista imensa de grandes autores brasileiros que dividiram seu tempo com crônicas em jornais e revistas, ou mesmo como repórteres.
Há um duplo benefício em se aliar à imprensa, pois através dela é que o autor poderá comunicar-se com seus colegas e conseguir atrair publicidade para seus trabalhos literários.
Com uma oferta tão imensa de obras sendo publicadas todos os meses, o compadrio acaba sendo uma poderosa força no mercado editorial brasileiro. "Quem não se comunica, se trumbica", já diria o sábio Chacrinha.
Não é fácil ser um escritor profissional e, não raro, alguns se decepcionam com o cenário que encontram. Um caso notório foi o de Aluísio Azevedo, autor de "O Cortiço", que assim que conseguiu um emprego público, largou a escrita para nunca mais voltar.
Nada prepara um escritor para as agruras da profissionalização, pois produzir um livro de sucesso é uma loteria. Não há garantias que uma obra venderá, ou que a crítica a aprovará. Ser um escritor profissional é caminhar na corda bamba, sem segurança alguma, sem nenhuma certeza.
As vantagens de ser um escritor profissional são:
- todo o tempo para produzir e pesquisar;
- há um prazer especial em ganhar para fazer aquilo que gosta.
Já as desvantagens da profissionalização são consequências diretas dela:
- obrigação de escrever constantemente, mesmo quando não há disposição;
- é uma carreira incerta, repleta de altos e baixos, com momentos de grandes sucessos e outros de total indiferença;
- nem sempre se ganha tanto quanto se imaginava.
Conclusão
Para muitos autores, a profissionalização é uma grande etapa almejada e, certamente, possui algumas evidentes vantagens. Todos nós queremos trabalhar com aquilo que amamos, que nos dá alegria, que nos realiza, mesmo que nossa renda não seja tão extraordinária.
Por outro lado, há uma diferença brutal entre escrever por prazer quando se tem vontade e a obrigação cotidiana de acordar sabendo que você terá de escrever qualquer coisa, mesmo que não acredite mais no que está fazendo.
Há escritores que produzem mais e com maior qualidade quando são amadores, mas que se desesperam no momento em que se profissionalizam. Enquanto há aqueles que, ao poderem se dedicar completamente ao ofício, florescem e atingem seu máximo potencial.
Certamente, não existe uma fórmula aplicável a todas as pessoas, o que é a realização para uns é a ruína de outros. O essencial é jamais perder o deslumbramento pelo ofício da escrita e, a partir do momento em que escrever começar a tornar-se um martírio, rever as escolhas feitas.
4 comentários:
Somos todos amadores querendo ser profissionais... quem sabe um dia a gente chega lá???
ResponderExcluirPor isso mesmo coloquei esse post. Nenhum de nós aqui realmente tem expectativas de ser um profissional,mas vamos nos aperfeiçoando e tomando notas mentais. Quem sabe um dia achamos a porta certa? Ou quem sabe um dia alguém nos acha por aqui?
ResponderExcluirMuito bom o texto, cheio de nunces sobre os quais muitas vezes não paramos para refletir. Foi de muita valia ter sido postado, Paty. Uma escolha perfeita!
ResponderExcluirAmei o texto também! Mas sabe... viver de escrever deve ser muitoooo tenso também... Porque não temos inspiração 24h por dia... Eu por exemplo, passo tempos na seca! Imagina ter aquela obrigação de escrever?
ResponderExcluirEscrever para mim, é um prazer :-D
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