4
Seleta gentileza
Já estava escurecendo quando percebi a luz acesa. Aquela janela era particularmente acolhedora para mim. Olhava ansioso durante o dia, toda aquela preocupação com os pássaros e me perguntava o porquê de tanta gentileza.
Meus instintos me atraíam automaticamente. Não saberia explicar o porquê de sentir tanto apelo. Talvez aquele rosto gentil e despreocupado. Balancei a cabeça. Não. Teria que ser algo mais. Muito mais do que uma impressão.
Talvez mesmo um pouco de paixão. Me aproximei devagar.
Meu olhar ansioso estava esperando aquele olhar humano cálido, gentil e despreocupado. Feliz eu diria. Ela tinha movimentos lépidos e eu percebia que havia horário certo para ela aparecer. Não entendia como ela poderia estar ali por tao pouco tempo e no exato horário do crepúsculo. Aquilo era um grande mistério para mim e mesmo assim, eu esperava ansiosamente seu comparecimento diário na varanda com um objeto interessante. Algo como uma nuvem portátil.
Chovia por ele e ela sorria enquanto permitia que a chuva pousasse suavemente pelas folhas dos arbustos. Fiz uma anotação mental da necessidade de saber o nome daquele objeto.
Sem desviar os olhos, me perguntei como seria o contato com ela. Certamente ela entenderia meu interesse. Vi ela retirar nosso bebedouro (sim, este eu já havia aprendido o nome). Sorri sensível e resolvi testar seu súbito esquecimento da porta da varanda aberta.
Aproveitei a semi-escuridão para me fazer passar despercebido. Observei um cão deitado e sonolento próximo à mesa. Ele levantou rapidamente, o olhar bastante atento para mim. Não entendi aquele olhar caçador. Não achei que eu pudesse causar tamanha comoção quando percebi um uivo assustador. Ele estava me intimidando! Pronto para pular sobre mim, certamente preocupado com a reação daquela criatura a quem eu tanto admirava.
Ela surgiu suavemente, saltitando pela casa. Era uma senhora encantadora e eu estava apaixonado! Meu gemido de satisfação deve ter parecido um guincho assustador. Contudo, eu não estava preparado para aquela reação. Um misto de horror e asco encheram seu rosto. Perdi imediatamente o controle de minhas ações e fui ofuscado pela luz acesa rapidamente.
Não consegui distinguir seus gritos das minhas explicações de que eu precisava conhecê-la. Percebi que quanto mais eu me explicava, mais assustada ela se tornava. O cão uivava furiosamente para mim, pulando, tentando talvez me atacar.
No meio dessa caos ela saiu e retornou com um objeto comprido cheio de pontas, acho que o nome daquele objeto era vassoura. Preciso aprender mais! Percebi com pesar que ela tentava me expulsar de sua presença. Gemi novamente, angustiado com o terror e aversão que eu lhe causava e virei graciosamente para tentar sair pelo mesmo lugar que entrei.
Aquelas luzes, barulho, tudo me confundia e ofuscava. Fiquei desorientado mais alguns breves instantes até perceber a escuridão me chamando lá fora. Saí rapidamente e pousei numa árvore. Não entendia porque ela não me amava como aos pássaros que ela gentilmente alimentava com néctar...
Foi então que eu vi ela fechando rapidamente a porta de vidro e apagando as luzes. Aproximei-me novamente e pude perceber que o vidro se transformara num objeto reluzente, refletindo meu horror.
Agora eu tinha entendido seu medo. Eu era um morcego.
Meus instintos me atraíam automaticamente. Não saberia explicar o porquê de sentir tanto apelo. Talvez aquele rosto gentil e despreocupado. Balancei a cabeça. Não. Teria que ser algo mais. Muito mais do que uma impressão.
Talvez mesmo um pouco de paixão. Me aproximei devagar.
Meu olhar ansioso estava esperando aquele olhar humano cálido, gentil e despreocupado. Feliz eu diria. Ela tinha movimentos lépidos e eu percebia que havia horário certo para ela aparecer. Não entendia como ela poderia estar ali por tao pouco tempo e no exato horário do crepúsculo. Aquilo era um grande mistério para mim e mesmo assim, eu esperava ansiosamente seu comparecimento diário na varanda com um objeto interessante. Algo como uma nuvem portátil.
Chovia por ele e ela sorria enquanto permitia que a chuva pousasse suavemente pelas folhas dos arbustos. Fiz uma anotação mental da necessidade de saber o nome daquele objeto.
Sem desviar os olhos, me perguntei como seria o contato com ela. Certamente ela entenderia meu interesse. Vi ela retirar nosso bebedouro (sim, este eu já havia aprendido o nome). Sorri sensível e resolvi testar seu súbito esquecimento da porta da varanda aberta.
Aproveitei a semi-escuridão para me fazer passar despercebido. Observei um cão deitado e sonolento próximo à mesa. Ele levantou rapidamente, o olhar bastante atento para mim. Não entendi aquele olhar caçador. Não achei que eu pudesse causar tamanha comoção quando percebi um uivo assustador. Ele estava me intimidando! Pronto para pular sobre mim, certamente preocupado com a reação daquela criatura a quem eu tanto admirava.
Ela surgiu suavemente, saltitando pela casa. Era uma senhora encantadora e eu estava apaixonado! Meu gemido de satisfação deve ter parecido um guincho assustador. Contudo, eu não estava preparado para aquela reação. Um misto de horror e asco encheram seu rosto. Perdi imediatamente o controle de minhas ações e fui ofuscado pela luz acesa rapidamente.
Não consegui distinguir seus gritos das minhas explicações de que eu precisava conhecê-la. Percebi que quanto mais eu me explicava, mais assustada ela se tornava. O cão uivava furiosamente para mim, pulando, tentando talvez me atacar.
No meio dessa caos ela saiu e retornou com um objeto comprido cheio de pontas, acho que o nome daquele objeto era vassoura. Preciso aprender mais! Percebi com pesar que ela tentava me expulsar de sua presença. Gemi novamente, angustiado com o terror e aversão que eu lhe causava e virei graciosamente para tentar sair pelo mesmo lugar que entrei.
Aquelas luzes, barulho, tudo me confundia e ofuscava. Fiquei desorientado mais alguns breves instantes até perceber a escuridão me chamando lá fora. Saí rapidamente e pousei numa árvore. Não entendia porque ela não me amava como aos pássaros que ela gentilmente alimentava com néctar...
Foi então que eu vi ela fechando rapidamente a porta de vidro e apagando as luzes. Aproximei-me novamente e pude perceber que o vidro se transformara num objeto reluzente, refletindo meu horror.
Agora eu tinha entendido seu medo. Eu era um morcego.
4 comentários:
Saamy...um texto que me deixou louca de aflição em saber do que se tratava os personagens. A leitura tem um balanço tão cálido e gentil que suspirei várias vezes imaginando quem seria ele e quem seria ela. Um texto muito "FORMOSO" é o adjetivo que eu usaria.
ResponderExcluirMas desculpe minha ignorância...eu não consegui distinguir direito quem era ela. Era uma senhora que sempre aparecia nos finais da tarde para fechar a janela?
Reli duas vezes e foi o que consegui perceber...
Ahauhauah minha intenção era essa mesma, criar um mistério que envolvesse o 'personagem'.
ResponderExcluirVocê tem razão, eu deveria ter dado mais atenção à personagem principal. É uma senhora sim, mas eu praticamente não dei atenção à ela, preocupada que estava que vocês não descobrissem quem era o talzinho que estava apaixonado!
Vou pensar em como mudar isso para ficar mais claro que ela é humana desde o começo ;-)
Obrigada, Paty! Tá vendo como é bom ter um outro olhar nos nossos textos?
Sammy, que lindo! Eu ouso dizer que desconfiei da identidade do pequenino lá pro meio do texto... é que... eu amo morcegos! E estou acostumada com essas visitas noturnas, na minha casa muito morcegos aparecem ao entardecer, e geralmente que os pega e solta longe de casa sou eu, para evitar que meu cão, que não é tão complecente quanto eu, dê fim nos bichinhos. Vc conduziu o texto de maneira brilhante Sammy, parabéns!
ResponderExcluirTks, Marcinha!
ResponderExcluirMinha irmã me contou que uma vez um morcego entrou pela varanda do apartamento dela. E pensando nessa situação, que eu quis mostrar o lado dos morcegos... São tão incompreendidos, tadinhos!
Entendo seu amor, mas acho que jamais teria coragem de PEGAR num morcego... sinistrooooo...
Comenta aê!