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continuação do texto do desafio de palavras
Enquanto caminhava para casa, a fim de preparar-se para cumprir o que lhe fora ordenado por ela, ele fazia um
retrospecto da sua vida medíocre.
Filhos de pais abastados e nada presentes, ele havia sido um
aluno relapso e mimado que tinha tudo o que o dinheiro pudesse comprar.
Sua adolescência fora rodeada de momentos de rebeldia,
pequenos atos de delinquência e impunidade, uma vez que seus pais, para conservar
o bom nome da família, sempre intervinham com dinheiro ou prestígio, e ele saía
ileso das situações.
A boa aparência por si só, já lhe garantia mulheres aos
montes, mas fora privilegiado também com a total ausência de problemas financeiros. Era
considerado um dos melhores partidos da cidade pela Revista Veja e ele só havia
achado injusto na reportagem, a palavra “playboy”.
O fato de ter-se casado com Mariana, não
o impedia de ter outras pessoas. O casamento havia sido feito por conveniência:
ela vinha de família poderosa e engravidara no único contato que haviam tido no
banco de trás do carro quando voltavam bêbados de uma festa.
SER pai havia sido a melhor coisa da sua vida. Contemplava
Ian e sentia-se orgulhoso. Aquele bebê lindo, de dois anos e meio era obra do
seu DNA. Sinceramente, faria qualquer coisa por ele e, desde o momento em que
ouvira seu choro na maternidade, jurara ser um pai presente e dar ao filho,
tudo o que não tivera na infância.
Ele cumpria o prometido. Falhara em tudo e não se importava,
exceto na paternidade. Ele era um excelente pai e o fazia sem esforço. Fazia
por amor. O único amor que já havia sentido de verdade. O único amor que
conhecia até duas semanas atrás.
Há duas semanas cansado que estava da falta de novidades em
sua vida, resolvera ir a um bordel de quinta categoria na Rua Augusta. Estava cansado
das “casas de massagem” luxuosas que frequentava, das mulheres-todas-iguais que
lá trabalhavam e, ansiava por algo diferente. Soube da abertura da boate e
resolveu checar. Tinha um “feeling” com
relação ao lugar e confiava nas suas impressões.
Entrou no local sem dificuldade. Vestia um Armani que mesmo
para quem não conhecia grifes, impressionava.
Sentou-se de frente para o palco no exato momento em que
algumas luzes foram diminuídas e o som de uma guitarra, em ritmo de blues preenchia
o local. Pediu um whisky e, como se estivesse magnetizado virou-se para o palco
no exato momento em que ela entrou, dirigiu-se ao microfone e ficou alguns
instantes em silêncio.
Ela vestia um longo vestido preto que revelava todas as suas
generosas curvas. O talhe do lado direito, que ia até quase o quadril, mostrava
insinuante a perna torneada e bronzeada que aparecia discretamente, quando ela
movimentava-se ao ritmo da música. O decote mostrava um pouco do que ele
adivinhava ser um belo e farto par de seios. Sapatos de salto altíssimos e luvas ¾ complementavam
o visual enigmático e libidinoso da mulher à sua frente.
Mas foi apenas quando ela soltou a voz e seus olhos
procuraram os dela que notou o chapéu de grandes abas que usava, cobrindo
parcialmente o que naquele momento ele mais queria ver: seu rosto.
A boca carnuda e vermelha movia-se sensualmente e, a voz
aveludada e firme enchia o ambiente.
“I just don't know what to do with myself
I don't know what to do with myself
Planning everything for two
Doing everything with you
And now that we're through
I just don't know what to do
I just don't know what to do with myself
I don't know what to do with myself
Movies only make me sad
Parties make me feel as bad
'cause I'm not with you
I just don't know what to do”
I don't know what to do with myself
Planning everything for two
Doing everything with you
And now that we're through
I just don't know what to do
I just don't know what to do with myself
I don't know what to do with myself
Movies only make me sad
Parties make me feel as bad
'cause I'm not with you
I just don't know what to do”
Meu Deus! Como
contrastava a letra da música com a força que emanava daquela mulher. Ela
cantava “eu não sei o que fazer comigo”,
quando na verdade toda sua linguagem corporal dizia o contrário.
“Like a summer rose
Needs the sun and rain
I need your sweet love
To beat love away”
Era um convite que já estava aceito. Ele iria tê-la.
Tentava desesperadamente ver seus olhos, mas fora impossível.
Música terminada, uma pequena mesura e ela retirou-se.
Imediatamente ele chamou uma das garçonetes e lhe perguntou
sobre a cantora. Ela respondeu que era a
primeira vez que ela cantava no local e que não sabia nada sobre ela. Mandou
chamar o gerente que veio apressado.
- A garota que acaba de cantar. Gostaria de ter um encontro
a sós com ela. – disse com firmeza.
- Sim, senhor. Ela estará aqui em um minuto.
Ele já antegozava todo o prazer que teria. Caramba! Para uma
espelunca como aquela, o material era de primeiríssima qualidade.
O pequeno sorriso que aparecia em seu rosto teve vida curta.
O gerente voltou, cerca de 10 minutos depois dizendo que ela já havia ido
embora. Havia vindo apenas para uma seleção que estavam fazendo para cantora,
mas retirara-se logo após a canção.
- Certo. - Disse ele, visivelmente contrariado - Traga o
telefone e endereço dela. Vocês têm os dados das candidatas, não têm? –
enquanto ele falava, colocava duas notas de R$ 100,00 no bolso do homem.
- Certamente, senhor. Por favor, aguarde mais um momento.
Assim que o gerente voltou com os dados, ele agradeceu, pagou
a conta deixando uma gorda gorjeta e correu para o carro.
Dirigiu na máxima velocidade possível para o endereço.
Outras mulheres já o encantaram antes, mas não daquela maneira. Ele a queria e
ele a teria. Flagrou-se novamente com um sorriso de satisfação no rosto. Há
tempos não se sentia tão vivo!
Chegou ao endereço em 15 minutos. Mas, espere... havia algo
errado. Que brincadeira estúpida era aquela?
Voltou para o carro, exaltado, irritado. Entrou, bateu os punhos no volante, frustrado.
Nesse exato momento, um par de mãos pousou em seus ombros e
aquela voz aveludada sussurrou em seu ouvido:
- Calma, meu bem. Por que tanto nervosismo?
Ela estava sentada no banco de trás e, mesmo pelo
retrovisor, devido à escuridão do local, era impossível ver seu rosto.
A raiva imediatamente dissipou-se e a epinefrina, hormônio há tanto tempo esquecido por seu corpo, correu enlouquecida.
A raiva imediatamente dissipou-se e a epinefrina, hormônio há tanto tempo esquecido por seu corpo, correu enlouquecida.
* (procure o endereço no Google (Rua Cardeal Arcoverde, 1250), para saber o porquê dele ter
achado que era uma brincadeira de mal gosto)
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7 comentários:
Credo Telma! Estou até arrepiada! O que vc vai aprontar com o coitado do moço? Não nos deixe no suspense por muito tempo, senão vou morrer de curiosidade. Bjos.
ResponderExcluirQue história empolgante Telma!!!
ResponderExcluirVc podia dar uma previsão de quantos capítulos vão ter até chegar ao final tão esperado...
PARABÉNS MESMO!
Está se superando.
Vou mandar outro desafio logo. =]
Está de parabéns mais uma vez, Telma! O texto continua com o mesmo pique da primeira parte, talvez até mais. Ansiosa pelo próximo capitulo =)
ResponderExcluirBeijo!
Livia, Paty e Lene:
ResponderExcluirvocês me deixam toda besta. Eita comentários gostosos!!!
Paty, nem eu sabia que teria mais de 1... vocês é que fizeram isso! :p
Absurdo!
ResponderExcluirTa cada vez melhor. Paty, salta logo o proximo desafio pra Telma! Rs.
Telmaaa pq pra mim não é surpresa a qualidade do seu texto??
ResponderExcluirPARABÉNSSSSSSS Estou ADORANDO!!!!
Queroooo Maissssss
CARAMBA!!! Devido ao nascimento da minha filhota só tive tempo de ler os textos agora, estava anciosíssima e vc me surpreendeu!!! Muito bom, já esperava um texto bom mas ficou ainda melhor, quando mistérioooooo! Louca pra ler mais!
ResponderExcluirComenta aê!